Enquanto a maioria das Big Techs (e startups), como Meta, Google e Microsoft, simplesmente não param de falar sobre a IA (inteligência artificial), em especial a IA generativa (casos de ChatGPT e Bard, por exemplo), a Apple parecia simplesmente estar ficando para trás no assunto.
Porém, recentemente, finalmente, descobriu-se que a empresa está trabalhando em sua própria IA generativa, inclusive, com alguns de seus funcionários executando testes com ela.
Contudo, a empresa da maçã está escondendo o jogo, e é bem pouco provável que falem muito durante a conferência de ganhos da empresa na próxima semana.
Na apresentação dos resultados de maio, o CEO da empresa, Tim Cook, falou em IA apenas duas vezes, e isso foi em resposta a perguntas. Já no evento de lançamento do Apple Vison Pro, em junho, Cook não falou a frase em duas horas, apesar de ter anunciado tecnologias que envolvem IA.
Os executivos da maçã preferem usar “machine learning” (aprendizado de máquina), termo mais comum entre acadêmicos e praticantes. Ainda, eles preferem falar sobre o que o software faz pelo usuário, como organizar fotos, melhorar a digitação, ou preencher campos em um PDF, em oposição à tecnologia que torna tudo isso possível.
Por que a Apple age assim?
A abordagem da Apple sobre a IA como componente subjacente principal ao invés do futuro da computação representa uma forma de apresentar a tecnologia a seus consumidores.
A IA da Apple trabalha nos bastidores, e a companhia simplemente não sai falando aos quatro ventos sobre ela porque não precisa.
Revendo as apresentações das Big Techs nesta semana, mostra que Meta, Microsoft e Google estão ansiosas para oferecer as ferramentas mais fortes com IA, tais como serviços em nuvem e ferramentas para desenvolvedores.
Contudo, ainda não está claro como a IA pode mudar seus produtos de maior importância, nem como poderia impulsionar seus ganhos.
Por exemplo: o Google anunciou planos de renovar seu carro-chefe, o motor de buscas, usando um modelo de IA chamado Experiência Generativa de Busca. Por sua vez, a maior novidade da Microsoft é a assinatura de US$ 30 (R$ 141,74 em conversão direta) do Copilot, que integra texto ou código generativo do ChatGPT (cuja desenvolvedora, a OpenAI, é parceira da gigante do Vale do Silício) em arquivos Word, PowerPoint e outros.
A Meta, por sua vez, fez seu mais recente investimento em IA na tecnologia de modelo de linguagem grande, a LLaMA, que pode sustentar novas formas de chatbots de mídias sociais, ou, automaticamente, gerar propagandas online.
No caso da Microsoft, seu CEO, Satya Nadella, deu uma aquecida nas expectativas dos investidores acerca do Copilot, indicando que seu crescimento pode levar tempo, enquanto a chefe financeira, Amy Hood, disse que seu lançamento pode ser “gradual”.
Pode ser que leve até o ano que vem para os investidores entenderem como a assinatura do Copilot afetará as receitas da empresa. “Na segunda metade do próximo ano fiscal, começaremos a ter um pouco do real sinal das receitas advindas dele”, afirmou Nadella.
Sundar Pichai, CEO do Google, disse que os modelos de IA de textos generativos farão sua ferramenta de busca melhor e podem, ainda, responder questões que, normalmente, a pesquisa do Google não pode.
De uma perspectiva de negócios, Pichai afirmou, a IA generativa usada para criar e servir anúncios vão “sobrecarregar” a existência do negócio de anúncios da empresa, colocando ainda que há “oportunidades” para novas formas de anúncios com a busca com IA generativa.
Mas Pichai disse que ainda são os “primeiros dias” para a nova ferramenta de busca e, mais tarde, quando pressionado sobre como a ferramenta pode aumentar o uso do motor de busca e como aumentará as receitas da empresa, o CEO afirmou que eles estão experimentando.
“Penso que estamos definitivamente na direção certa, e podemos ver isso em nossas métricas e do feedback dos nossos usuários”, alegou Pichai.
Do lado da Meta, Mark Zuckerberg, CEO da empresa, foi efusivo sobre a IA e suas aplicações na realidade virtual (RV), propagandas-alvo e conteúdo recomendado de contas que os usuários não seguem.
Ele está particularmente otimista com um conceito chamado “agentes de IA”, no qual os softwares podem mandar mensagens a clientes empresariais automaticamente sem o envolvimento de um humano, atuar como um treinador, ou ser um assistente pessoal.
Zuckerberg ainda admitiu que ele não sabia quantas pessoas usariam os novos recursos de IA. “A realidade é que não sabemos quão rápido vão escalar”, ele disse. Também falou que a Meta estava debatendo internamente quanto deveria gastar em servidores para abrigar a IA.
O lançamento lento de produtos de IA geradores de receita das Big Techs importa, pois muitas pessoas na indústria acreditam que novas tecnologias fundacionais passam por um “ciclo hype”, baseado em pesquisas da empresa de análises Gartner.
Ou seja, quando uma nova tecnologia é lançada, segundo o modelo do ciclo hype, ela ganha muita atenção e investimento, enquanto alcança um “pico de expectativas inflado”.
Mas, como a implantação da tecnologia se move mais lentamente do inicialmente esperado, o entusiasmo e o investimento secam em um “vale da desilusão” antes de maturarem e se tornarem produtivas.
Por agora, as empresas desenvolvedoras de IA e as pessoas que buscam capital de investimento são beneficiados com o boom da IA. As ações da Nvidia, por exemplo, subiram 220% até agora, com os investidores percebendo que as unidades de processamento gráfico da companhia são essenciais para a tecnologia de IA.
O investimento de capital de risco em startups de IA explodiram, e muito desse dinheiro está indo para a Nvidia para capacidade computacional, e para provedores de serviços na nuvem, para acesso à modelos de IA.
Mas, se, todos os dias, aplicações de consumo para IA não pegarem, então, muitas companhias de IA podem cair no vale de desilusão de novo. Analistas descobriram, no início deste mês, por exemplo, que os downloads do app do ChatGPT para iOS diminuiu no começo do mês.
Alguns analistas começaram a entender que uma oportunidade de investimento baseada em novos produtos de IA não serão imediatos e que o custo pode empilhar.
Alertamos investidores que o processo de traduzir demandas iniciais para implementações de larga escala e receitas reconhecidas serão uma tendência de vários anos, ao invés de um toque instantâneo de um interruptor.
Mark Murphy, analista da JPMorgan
Recomendamos aos investidores a investir em outro lugar até que os investimentos em metaverso, Reels, Threads, Quest e IA generativa se tornem um acréscimo (se irão) ao [retorno de capital investido] da Meta em vez de diluir.
Laura Martin, analista da Needham
Apple e seu futuro em IA
Quando a Apple apresentar seus resultados financeiros na semana que vem, é certo que os analistas perguntarão e pressionarão sobre seus planos para a IA, dada a obsessão do setor e dadas as informações citadas no início desta reportagem de que a empresa estaria testando, internamente, sua própria IA generativa.
No mês passado, a companhia anunciou novo software de seu teclado do iPhone que usa a mesma arquitetura de transformadores do GPT, o que mostra que ela tem desenvolvimento interno substancial de modelos de IA.
Porém, a empresa da maçã não gosta de falar sobre produtos que ainda não foram lançados no mercado – para não alimentar a expectativa de seus investidores.
Para mostrar como isso é real, em maio, ao ser questionado sobre a IA, Tim Cook desconversou: “Vemos a IA como enorme e continuaremos a incluí-la em nossos produtos com muita consideração.”
Com informações de CNBC
Fonte: Olhar Digital
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