Um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros e espanhóis encontrou alta concentração de AAs (aminas aromáticas) em corantes têxteis.

Essas substâncias, contudo, podem ser danosos à saúde, podendo causar câncer (do tipo carcinoma). Tanto no Brasil, como na Espanha, eles foram encontradas em 48% de tecidos de roupas para grávidas, recém-nascidos e crianças de até três anos. No Brasil, 55% das roupas contém índices dos AAs acima de limites definidos nacional e internacionalmente.

Os cientistas indicam que a escolha de roupas de crianças, bebês e grávidas para análise se deu porque são grupos mais vulneráveis a sofrer com efeitos adversos que tais substâncias podem causar. A longo prazo e em casos de exposição continuada, o risco de câncer aumenta.

Pesquisa

Danos causados pelos compostos

Souza explica que as aminas aromáticas são compostos químicos orgânicos com grande distribuição ambiental, mas que podem causar problemas à nossa saúde. Nas roupas, o contato dos corantes com AAs com as bactérias em nossa pele podem ser degradados ou decompostos nas denominadas aminas primárias. Esses, então, são absorvidas pela pele em grande quantidade.

Segundo evidências científicas, a IARC (Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer) classificou AAs usadas nos corantes têxteis em três grupos:

O perfil carcinogênico das AAs se dá principalmente com a ocorrência do câncer de bexiga e está diretamente relacionado à ativação metabólica do grupo amino e à geração do intermediário reativo durante o metabolismo.

Marília Cristina de Oliveira Souza, pesquisadora envolvida na pesquisa

Ou seja, resulta em estresse oxidativo e danos ao DNA e proteínas do organismo. Porém, ressalta que outros riscos também possíveis de acontecer, como alergias, dermatite, metemoglobinemia (distúrbio sanguíneo) e hemólise aguda (destruição dos glóbulos vermelhos).

Regulamentação brasileira é deficitária

Outra constatação do estudo é que o Brasil possui mais cargas de AAs do que a Espanha. Segundo Oliveira, esse é um fato que pode estar ligado à falta de regulamentações em nosso País.

Por não haver legislação específica acerca da utilização de tais compostos, a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção) afirmou, ao Jornal da USP, que sedia e participa de reuniões, como a realizada pela Comissão de Estudo da série de normas de segurança química em têxteis, finalizada em 2019 e resultando na ABNT NBR 16787, da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).

Afirmou ainda que orienta empresas acerca do tema com a Cartilha de Segurança Química, produzida em conjunto com ABNT, ABVTEX (Associação Brasileira de Varejo Têxtil) e Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química).

A associação pontua ainda que, atualmente, tramita na Câmara dos Deputados o PL (Projeto de Lei) 6.120, de 2019, que estabelece o Inventário Nacional de Substâncias Químicas, bem como avaliação e controle dos riscos à saúde causados pelas substâncias utilizadas, produzidas ou importadas no Brasil.

A ideia é minimizar impactos à saúde e ao meio-ambiente (mais sobre o PL pode ser visto aqui). De proposta do deputado Flávio Nogueira (PDT/PI), atualmente, ele está aguardando que um relator da CCJC (Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania) seja designado para tratar do tema.

Deve haver mais

A pesquisadora alerta, ainda, que, somada à falta de regulamentação para o uso de tais substâncias, estão dados parcos sobre o ocorrido com o humano quando exposto aos compostos cancerígenos (como as AAs).

Sendo assim, ela defende que deve haver esforços para mais pesquisas que determinem as concentrações das substâncias em fontes de exposição constantes, tais como nossas roupas.

Oliveira afirma que a produção têxtil precisa ser combinada com menor geração de poluentes no meio-ambiente, ao passo em que os estudos sobre os riscos à nossa saúde “devem considerar a coocorrência de substâncias cancerígenas e potenciais sinergias entre os produtos químicos”.

Por fim, o estudo entende que as agências reguladoras devem “desenvolver planos de mitigação e legislação específicos para reduzir a carga de AAs e outros aditivos em materiais têxteis, especialmente nos países sem regulamentações específicas”, caso do Brasil.

Com informações de Jornal da USP