A cidade de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha (região mais pobre de Minas Gerais), recebe grandes aportes da mineradora canadense Sigma Lithium desde 2012, principalmente nos últimos dois anos. Isso aqueceu a economia da cidade – e deixou a vida mais cara.

Para quem tem pressa:

A mineradora é controlada pelo grupo de investidores A10, baseado em São Paulo. A empresa é proprietária da mina Grota do Cirilo, onde está hoje a maior reserva de lítio do Brasil.

A previsão mais rigorosa da empresa é que haja 27 milhões de toneladas de espodumênio – a rocha de onde se extrai o lítio usado para produção de baterias de carros elétricos – na área.

Até o momento, a empresa já investiu R$ 3 bilhões em seu projeto de mineração.

Lítio e investimentos

Entrada da cidade Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais
(Imagem: Andrevruas/Wikimedia Commons)

O investimento bilionário, ainda que não tenha chegado diretamente ao orçamento público, afetou a realidade local.

Entre os moradores, é comum, por exemplo, ouvir a história de alguém que queira vender sua propriedade para alguma mineradora de lítio. Segundo o governo estadual, há cinco empresas interessadas na região, incluindo a Sigma.

Segundo o Censo de 2010, 34% dos domicílios de Araçuaí eram rurais (ainda não há dados relativos ao Censo de 2022).

No início de julho, a Sigma lançou o Instituto Lítio Verde, que pretende injetar R$ 500 milhões em programas sociais na região.

Porém…

Extração de lítio da mineradora Sigma Lithium, na cidade Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais
(Imagem: Divulgação/Sigma Lithium)

Donos de residências urbanas têm pedido seus imóveis de volta e aumentado o valor do aluguel.

Segundo moradores, os preços cobrados hoje no centro de Araçuaí superam os R$ 1 mil – em 2019, giravam em torno de R$ 300.

Há famílias que estão sendo despejadas de suas casas porque o aluguel subiu para um valor que elas não têm condições de pagar. Elas precisam, urgentemente, ser inseridas no programa Minha Casa, Minha Vida.

Daniel Sucupira (PT), presidente da Frente Mineira de Prefeitos

O prefeito de Araçuaí, Tadeu Barbosa de Oliveira (PSD), planeja ir a Brasília nos próximos dias conversar com o governo federal sobre o assunto.

Com os hotéis acontece o mesmo. A cidade tem hoje cerca de cinco pousadas, sendo que a mais barata custa R$ 80 (o quarto com ar-condicionado é R$ 100). Já o hotel mais caro cobra R$ 200 por dia.

Para você ter uma ideia, uma diária do Ibis Budget próximo à avenida Paulista, em São Paulo, custa R$ 250.

Hoje, já há momentos em que não há vagas nas pousadas de Araçuaí. Tem gente que pensa que isso é bom, mas eu penso de outra maneira: se as pousadas e hotéis estão lotados, é porque os trabalhadores estão vindo de fora da região.

Jean Freire (PT), deputado estadual

Mercado do lítio

Extração de lítio da mineradora Sigma Lithium, na cidade Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais
(Imagem: Divulgação/Sigma Lithium)

Grande parte dos funcionários da Sigma vem de fora do Vale do Jequitinhonha; principalmente a chefia.

Uma das razões é a falta de mão de obra na região. Como acontece em todo lugar pobre, muitos jovens, ao concluírem o ensino médio, precisam escolher entre trabalhar ou cursar o ensino superior. Na maioria, a escolha é a primeira opção.

Até por isso, a mineradora lançou nos últimos anos o projeto “Volta ao Lar”, que busca atrair para o Vale do Jequitinhonha profissionais que em algum momento precisaram sair da região para conseguir emprego.

Outro programa é o “Dona de Mim”, organizado pela Sigma junto ao grupo Mulheres do Brasil. Ele conta com a liderança de empreendedoras conhecidas – por exemplo: Luiza Trajano, dona do Magazine Luiza.

Ao todo, 600 mulheres de Araçuaí e Itinga se inscreveram no programa, que concede R$ 2 mil para aquelas que quiserem empreender, sob juros de 6% ao ano (valor similar ao rendimento da poupança).

Com informações de Folha de S. Paulo