Dia de festa para a NASA! Há exatos 11 anos, às 2h33 (pelo horário de Brasília) do dia 5 de agosto de 2012, a agência pousava em Marte a espaçonave Mars Science Laboratory (MSL), uma sonda que levava em seu interior o rover Curiosity, um jipe robô projetado para explorar o Planeta Vermelho.

A missão foi originalmente programada para durar um ano marciano, o equivalente a pouco menos de dois anos terrestres, mas sua longevidade superou (e muito) as expectativas. Ele já percorreu mais de 30,5 km, captou mais de 574 mil imagens e coletou mais de 40 amostras, que nos deram informações valiosas sobre a geologia e a história de Marte.

Curiosity, rover da NASA, em Marte
Há 11 anos, o rover Curiosity pousava em Marte, dando início a uma incrível jornada de descobertas. Imagem: NASA/Divulgação

Com 2,2 m de altura, 2,7m de largura, 3 m de comprimento e pesando em torno de 900 kg, o rover Curiosity tem uma vida útil limitada apenas pela durabilidade de seus componentes mecânicos, que estão em bom estado, e sua fonte de energia, um Gerador Termelétrico Radioisótopo (RTG), que funciona à base de plutônio. Não havendo uma falha mecânica mais grave, o veículo deve continuar explorando Marte por pelo menos mais três anos, segundo a NASA, que anunciou 2026 como o ano final da missão.

Até lá, ele ainda promete muita ciência e – para fazer jus ao nome – trazer muitas “curiosidades” sobre o nosso cobiçado vizinho, utilizando seus 11 instrumentos científicos. Como as que vêm a seguir, que o Olhar Digital reuniu para comemorar os 11 anos de estudos do rover em solo marciano.

Confira 11 curiosidades sobre Marte reveladas pelo rover Curiosity

1- Água na Cratera Gale

Um dos principais legados que o Curiosity vai deixar para a posteridade é a descoberta de que a Cratera Gale, seu local de pouso de 154 km de largura, já abrigou um sistema de lagos e riachos num passado muito distante.

Cratera Gale em Marte
Imagem da Cratera Gale, em Marte, onde o Curiosity pousou em 2012. Imagem: Divulgação/Nasa/JPL

Em dados coletados pelo rover, pesquisadores descobriram o boro, um elemento químico que pode estabilizar os açúcares usados para produzir RNA. Curiosity também coletou amostras ricas em carbono-12. Na Terra, os organismos usam preferencialmente carbono-12 para seus processos metabólicos, então o enriquecimento de amostras de rochas antigas com esse isótopo é geralmente interpretado como um sinal de química biótica.

Em resumo: com base nos dados do Curiosity, cientistas da NASA propuseram que essa parte de Marte pode ter sido habitada entre 5 milhões e 10 milhões de anos terrestres atrás.

2- Detecção de metano

Partículas de metano apareceram pelo menos seis vezes nos sistemas de detecção do rover desde que ele pousou em Marte. Os cientistas se mostraram bastante animados com a descoberta, já que quase todo o metano presente na atmosfera da Terra tem origens biológicas. Segundo os pesquisadores, essa assinatura de metano pode ser uma chave para o encontro de sinais de vida em Marte.

No entanto, é possível que o metano marciano seja produzido por processos não biológicos, mas mesmo esse cenário é animador, já que pode apontar para uma atividade geológica intimamente ligada à presença de água em estado líquido, que é um ingrediente essencial para a vida prosperar – seja ela fóssil ou atual.

3- Maior foto panorâmica do Planeta Vermelho

Exímio fotógrafo, o rover Curiosity fez a maior foto panorâmica da paisagem marciana até hoje. A composição de mais de mil imagens tiradas em novembro de 2019 tem 1,8 bilhão de pixels e 2,43 GB de tamanho, que mostra “Glen Torridon”, uma região ao lado do Monte Sharp. 

Segundo a NASA, foram necessárias mais de 6,5 horas diárias, ao longo dos quatro dias, para que o veículo capturasse as fotos individuais que compuseram a imagem.

Maior foto panorâmica de Marte, tirada pelo Curiosity. Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS

4- Transição climática

Em algum momento de sua história, Marte deixou de ser um ambiente úmido e propenso à vida, passando a se tornar um lugar seco e hostil. 

E o rover Curiosity pode ter encontrado indícios do que pode ter motivado essa transição climática. “Nós dedicamos os últimos anos à investigação de rochas ricas em argila que se formaram em lagos e lagoas”, disse a cientista adjunta do Curiosity, Abigail Fraeman, em um vídeo publicado pela NASA em 2021. “Só que agora estamos entrando em uma região onde as rochas são cheias de minerais salgados chamados ‘sulfatos’. Esses minerais se formam em condições mais secas, então achamos que essa área pode nos mostrar como o clima de Marte começou a mudar”, explicou a pesquisadora, referindo-se ao Monte Sharp, o pico central da cratera Gale, que o equipamento vem escalando há alguns meses.

5- Nuvens em movimento e a geração de energia eólica

No fim de 2021, o rover Curiosity capturou lindas imagens da atmosfera marciana: nuvens à deriva que passavam sobre seu local de exploração no Monte Sharp (Aeolis Mons). O registro tem como objetivo medir a velocidade dessas nuvens.

De acordo com o Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da NASA, isso não foi nada fácil, já que as câmeras do veículo não foram projetadas para olhar para o céu, e sim para fazer imagens de rochas no solo de Marte e características da paisagem em sua jornada para buscar antigos sinais de habitabilidade.

O rover Curiosity, da Nasa, captou essas imagens de nuvens no céu de Marte em 12 de dezembro de 2021. Imagem: NASA/JPL-Caltech

“Essas nuvens são muito altas, quase 80 km acima da superfície. É extremamente frio nessa altura, o que sugere que essas nuvens são compostas de gelo de dióxido de carbono em oposição às nuvens de gelo de água, que normalmente são encontradas em altitudes mais baixas”, afirmou um comunicado emitido pelo JPL.

A velocidade com que as nuvens estavam se movendo não foi revelada, mas as velocidades típicas do vento perto da superfície de Marte variam entre 7 km/h e 35 km/h, o que pode ser rápido o suficiente para fornecer energia eólica no nosso vizinho.

6- Uma porta para o passado

Entre as quase 575 mil imagens registradas até agora pelo Curiosity durante sua missão em Marte, chamam muita atenção aquelas que mostram as formações rochosas mais bizarras do planeta.

Uma delas deu o que falar nas redes sociais no ano passado: a foto do que parecia ser uma porta no meio da paisagem marciana. Enquanto muitos especularam que poderia ser um portal alienígena ou o acesso a um túnel que levaria ao centro do planeta, a verdade é que é tudo uma questão de perspectiva.

“Claro, pode parecer uma pequena porta, mas, na verdade, é uma característica geológica natural! Pode apenas parecer uma porta porque sua mente está tentando dar sentido ao desconhecido. (Isso é chamado de ‘pareidolia’)”, explicou a conta oficial do Curiosity no Twitter.

O perfil aproveitou para fazer um trocadilho sobre o estudo da história do planeta. “Em um sentido menos literal, minha equipe científica está interessada nessas rochas como uma ‘porta para o passado antigo’. Enquanto subo esta montanha [o Monte Sharp], vejo níveis mais altos de argila dando lugar a minerais salgados chamados sulfatos – pistas de como a água secou em Marte há bilhões de anos”.

7- Mineral raro indica atividade vulcânica mais recente do que se pensava

Em julho de 2015, o rover Curiosity encontrou um quartzo mineral raro na região da Cratera Gale. Recentemente, a descoberta foi finalmente explicada pela NASA, após uma intensa investigação. Cientistas acreditam que o pedaço concentrado de tridímita foi expelido por um vulcão e caiu na cratera há cerca de 1 bilhão de anos, quando ela ainda estava cheia de água.

Extremamente raro na Terra, a tridímita é um tipo de quartzo – uma forma de sílica – gerado sob temperaturas extremas e baixas pressões, e como ele teria chegado no leito do antigo lago é algo que tem incomodado pesquisadores ao longo dos últimos sete anos.

O rover Curiosity, da NASA fez este buraco para coletar material amostral de um alvo rochoso chamado “Buckskin”, em 30 de julho de 2015, quando encontrou um mineral extremamente raro chamado tridímita. Imagem: NASA/JPL-Caltech/MSSS

“A descoberta de tridímita em uma rocha de lama na Cratera Gale é uma das observações mais surpreendentes que o rover Curiosity fez em 10 anos explorando Marte”, disse Kirsten Siebach, professora da Universidade Rice e uma das responsáveis pelas análises, em um comunicado. “Esse mineral é geralmente associado com sistemas vulcânicos formados por quartzo, explosivos e evoluídos na Terra, mas o encontramos no fundo de um antigo lago em Marte, onde a maioria dos vulcões são muito primitivos”.

Segundo a agência, a descoberta sugere que o magma marciano permaneceu por mais tempo do que o normal em uma câmara abaixo de um vulcão, permitindo uma cristalização fracionada e proporcionando a concentração de silício da lava.

8- Escudo natural contra radiação

Durante esses 11 anos de exploração, o Curiosity descobriu muito mais do que se buscava. “Um dos tipos de ciência que não é muito mencionada, mas é realmente importante e muito interessante, é a ciência ambiental que temos feito”, disse Fraeman.

O rover tem detectores de radiação e sensores ambientais e atmosféricos que têm sido bem utilizados em Marte. Por exemplo, ao longo de suas andanças, conforme ele se aproximava de formações geológicas como falésias e colinas, seus instrumentos detectaram que as rochas impediam a radiação de alcançá-lo. “Agora podemos usar isso como modelo para futuros astronautas, que talvez possam usar o terreno natural como escudo”.

9 – Detecção de opala na Cratera Gale

Em dezembro de 2022, cientistas anunciaram que o rover Curiosity detectou sinais da presença de opala ao redor de algumas fraturas na superfície da Cratera Gale. Para que esse mineral se forme, é necessário que as rochas ricas em sílica interajam com água. Isso aumenta as chances de que o planeta possa ter abrigado vida microbiana em algum momento de sua história.

10 – Pôr do Sol em Marte

Ao fazer uma investigação sobre as nuvens de Marte, o rover Curiosity foi responsável pela primeira vez que os raios solares foram captados de maneira tão clara no nosso vizinho. O registro foi feito no dia 2 de fevereiro, mostrando o pôr do Sol no Planeta Vermelho.

O rover Curiosity registrou esses “raios solares” brilhando através das nuvens ao pôr do Sol em 2 de fevereiro de 2023. Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS

De acordo com a NASA, enquanto a maioria das nuvens marcianas ficam a não mais de 60 quilômetros acima do solo e são compostas de gelo de água, as que foram captadas pelo Curiosity naquela ocasião parecem estar em uma altitude maior, onde é especialmente frio. Isso sugere que essas nuvens são feitas de gelo de dióxido de carbono ou gelo seco.

11- Companheiros de aventura

Esta última curiosidade não é sobre nenhuma descoberta do Curiosity em Marte, mas sim sobre o próprio rover: ele sempre contou com companheiros de aventura.

Durante sete anos, teve a companhia do Opportunity, um rover da NASA que pousou em Marte em 2004 e ficou ativo até meados de 2018. Depois de um curto período de “solidão”, o aniversariante do dia ganhou a companhia do lander InSight, que pousou na Elysium Planitia em novembro de 2018 com a missão de estudar o interior do planeta (e foi aposentada em dezembro de 2022).

Em fevereiro de 2021, chegaram o rover Perseverance e o helicóptero Ingenuity, e, em maio, o rover chinês Zhurong. O Curiosity pode ganhar também a companhia do rover europeu Rosalind Franklin (também conhecido como ExoMars), que deveria ter decolado no ano passado em um foguete russo. Os planos precisaram ser abortados depois que a Rússia invadiu a Ucrânia, e ainda não se sabe quando (nem como) ele será lançado.