É uma tecnologia incrível, poderosa e transformadora – mas coisas ruins podem acontecer. É assim que James Manyika, novo chefe de “tecnologia e sociedade” do Google, descreveu a IA (inteligência artificial), numa entrevista recente.

Para quem tem pressa:

Nascido no Zimbábue, Manyika é ex-assessor de tecnologia do governo Obama e tem doutorado em IA em Oxford. E ele abraçou essa dualidade em seu novo papel como embaixador de IA do Google, segundo o jornal The Washington Post.

Para ele, a tecnologia trará benefícios para a civilização e o Google é o administrador certo para esse futuro.

No entanto, logo após falar sobre isso na Google I/O (conferência anual de desenvolvedores), Manyika assinou, junto a centenas de pesquisadores de IA, aquela frase que alertava que a tecnologia representa um “risco de extinção” equivalente a “pandemias e guerra nuclear”.

IA: bênção ou maldição?

Inteligência artificial do filme Odisséia no Espaço
(Imagem: Reprodução)

Na conferência, realizada em maio, coube a Manyika falar sobre as desvantagens da IA. Diante de milhares de pessoas, Manyika discutiu o flagelo das imagens falsas e como a IA ecoa o racismo e o sexismo da sociedade. Novos problemas surgirão, alertou ele, à medida que a tecnologia melhorar.

Mas tenha certeza de que o Google está adotando “uma abordagem responsável para a IA”, disse ele à multidão. Enquanto isso, as palavras “ousado e responsável” apareceram numa tela enorme atrás dele. Essa frase se tornou o lema do Google para a era da IA.

Manyika disse que “coisas ruins podem acontecer”. Mas os críticos dizem que coisas ruins já estão acontecendo.

Desde seu lançamento, em novembro de 2022, o ChatGPT da OpenAI inventou resmas de informações falsas. Versões de código aberto do modelo Stability AI criaram uma enxurrada de imagens realistas de abuso sexual infantil. Uma versão inicial do Bing da Microsoft tornou-se perturbadoramente obscura e hostil com os usuários.

Além disso, uma investigação recente do The Washington Post revelou que vários chatbots – incluindo o Bard do Google – recomendavam dietas perigosas para perder peso.

Agora, reguladores do mundo todo trabalham para decidir como regular a tecnologia, enquanto pesquisadores alertam sobre danos a longo prazo – entre eles, que a tecnologia pode um dia superar a inteligência humana. Não atoa, há pelo menos uma audiência focada em IA no Capitólio dos EUA quase toda semana.

Mercado da IA

Celulares e silhuetas das cabeças de duas pessoas com logomarcas da OpenAI, dona do ChatGPT, e do Google
(Imagem: Christin Hume/Pixabay/Pexels)

O Google está sob pressão competitiva significativa: a empresa lançou seu chatbot no início de 2023 numa corrida para alcançar o ChatGPT e outros concorrentes, que já haviam cativado o imaginário do público. Rivais como a Microsoft e uma série de startups bem financiadas veem a IA como uma forma de quebrar o controle do Google sobre a economia da internet.

Manyika entrou com calma confiança neste momento de panela de pressão. Um veterano do circuito de conferência global, ele atua em um número impressionante de conselhos de alta potência, incluindo o conselho consultivo de IA da Casa Branca, onde é vice-presidente.

Em cada entrevista, palestra em conferência e postagem no blog, ele oferece garantias sobre o papel do Google na corrida do ouro da IA, descrevendo a abordagem da empresa com as mesmas três palavras: “ousado e responsável”.

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