Paleontologistas desenterraram rara evidência de infecção parasita em um réptil que viveu entre 252 milhões e 201 milhões de anos atrás, durante o Período Triássico.
O animal era um fitossauro, predador que tinha focinho longo e membros curtos. Pesquisadores não acharam os parasitas em seus ossos ou dentes, mas, sim, em pepita de fezes fossilizada, conhecida como coprólito.
Peculiaridades do cocô
A descoberta é a primeira evidência de parasitas em animais vertebrados terrestres que habitavam a Ásia durante o fim do Período Triássico, segundo publicação dos cientistas no jornal PLOS One, nesta quarta-feira (10), e confirmada pela CNN.
O espécime é também o primeiro coprólito de sua época e local a conter várias espécies de parasitas, incluindo nematoides, grupo de vermes parasitas que seguem circulando nos dias atuais.
Nematoides atuais geralmente infectam plantas e animais, sendo encontrados em uma série de mamíferos, peixes, anfíbios e répteis (incluindo jacarés e crocodilos).
Quando o coprólito foi fatiado em folhas finas e estudadas em um microscópio, foram encontradas nelas cinco tipos de estruturas orgânicas; algumas esféricas e algumas elipsoides.
Um objeto fatiado pela metade tinha casca externa e um embrião dentro, com os pesquisadores o identificando como sendo de um parasita nematoide na ordem Ascarídea.
Outro objeto tinha “concha bem-desenvolvida e corpos organizados dentro dela”, e pode ser outro tipo de ovo nematoide, segundo o estudo. O resto foi identificado como sendo ovos de vermes desconhecidos e cistos de parasitas unicelulares.
Nossos resultados nos dão novas formas de pensar sobre o ambiente e o modo de vida de animais antigos. Em estudos anteriores, apenas um grupo de parasitas foi achado em um só coprólito. Contudo, nossa pesquisa atual mostra que um único coprólito pode conter mais de um único tipo de parasita.
Thanit Nonsrirach, paleontologista de vertebrados no departamento de biologia da Universidade de Mahasarakham em Kham Riang (Tailândia)
A análise realizada pelos paleontologistas sugere que o animal hospedou numerosas infecções parasitas.
História do fóssil
Os cientistas recolheram o coprólito em 2010. Durante o Período Triássico, a região de Huai Nam Aun pode ter sido um salobro ou lago com água fresca habitado por vários tipos de animais, como peixes similares a tubarões, ancestrais das tartarugas e outros répteis, bem como anfíbios primitivos de nome temnospôndilos, segundo Nonsrirach afirmou à CNN. “Tais condições eram propícias à transmissão de parasitas”, contou.
O cocô fossilizado, de forma cilíndrica, mede cerca de 7,4 centímetros de comprimento e 2,1 centímetros de diâmetro. A superfície do espécime era “dura, suave e de cor cinza”, segundo os autores do estudo.
Os coprólitos podem não parecer muito impressionantes do lado de fora, mas enterrados nele estão segredos sobre “quem é quem” no ecossistema de milhões de anos atrás, segundo Martin Qvarnström, pesquisador de pós-doutorado no departamento de biologia organismal da Universidade de Uppsala, na Suécia. Ele não participou da pesquisa.
Surpreendentemente, às vezes, os coprólitos contêm fósseis raramente preservados em qualquer lugar. Isso inclui células musculares, insetos lindamente preservados, cabelos e restos de parasitas. Mas, apesar de serem baús de tesouro a esse respeito, coprólitos são opacos. Então, identificar suas inclusões pode ser desafiador. O trabalho de detetive também é necessário para descobrir quem produziu os, agora, excrementos fossilizados, que são, discutivelmente, a parte mais complicada no estudo dos coprólitos.
Martin Qvarnström, pesquisador de pós-doutorado no departamento de biologia organismal da Universidade de Uppsala, na Suécia, em entrevista à CNN
Como os coprólitos auxiliam os pesquisadores?
O tamanho, forma, localização e conteúdo interno dos coprólitos dizem aos cientistas qual grupo animal extinto pode ter produzido o cocô.
Por exemplo, certos peixes com intestinos em espiral evacuam, por vezes, coprólitos em formato espiral, segundo Nonsrirach. E anfíbios e répteis “geralmente fazem coprólitos mais cilíndricos”, explicou.
Não há ossos no coprólito, indicando, talvez, que seu dono tinha um sistema digestivo forte o bastante para dissolvê-los. Tal característica psicológica é mais conhecida em crocodilos, mas os crocodilianos originais não apareceriam por 100 milhões de anos ou mais, e fósseis desse animal não foram encontrados nessa localização, segundo o estudo.
Contudo, “é plausível que o coprólito originou-se de um animal similar aos crocodilos ou um que evoluiu em paralelo, como os fitossauros”, pontuou Nonsrirach. Além disso, fósseis de fitossauros foram encontrados próximos ao local onde o coprólito foi escavado.
Em primeiro momento, os fitossauros aparentam ser quase indistinguíveis dos crocodilos. Ambos possuem maxilares alongados e cheios de dentes; corpos pesados cobertos com escamas rígidas; além de longas e poderosas caudas.
Uma diferença notável, todavia, é que as narinas dos fitossauros são empoleirados em estrutura óssea abaixo de seus olhos, enquanto as dos crocodilos então no fim de seus focinhos, segundo o Museu de Paleontologia da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA).
Mas, enquanto esses animais são sósias virtuais, eles não têm relação próxima. Seus planos corporais similares são resultado da evolução convergente, nas quais animais não-relacionados se desenvolveram independentemente recursos similares.
Estudar os restos dos parasitas em coprólitos é importante uma vez que ele nos fornece raras percepções em relacionamentos antigos entre parasita e hospedeiro. Graças aos dados dos coprólitos, podemos investigar quando tais relações parasitárias surgiram e como os parasitas e seus hospedeiros se co-envolveram através das eras.
Martin Qvarnström, pesquisador de pós-doutorado no departamento de biologia organismal da Universidade de Uppsala, na Suécia, em entrevista à CNN
Contudo, é incerto se carregar os parasitas fizeram o réptil adoecer, acrescentou Nonsrirach.
A determinação da condição da saúde de um animal não pode ser determinada apenas pela observação do parasita contido em seu coprólito. Parasitas têm a habilidade de usar seu hospedeiro como forma de se desenvolverem sem causar doenças ao animal que o hospeda.
Thanit Nonsrirach, paleontologista de vertebrados no departamento de biologia da Universidade de Mahasarakham em Kham Riang (Tailândia)
O réptil pode ter adquirido sua comunidade de parasitas ao comer diferentes tipos de presas infectadas, segundo a pesquisa.
Esse evento traz questões interessantes sobre como animais que são presas e parasitas interagem entre si. Ele sugere que parasitas talvez estivessem dentro dos corpos das presas antes de serem devoradas. Esse novo ponto de vista nos dá entendimento mais profundo sobre como ecossistemas passados foram conectados e como afetaram as vidas dos animais pré-históricos.
Thanit Nonsrirach, paleontologista de vertebrados no departamento de biologia da Universidade de Mahasarakham em Kham Riang (Tailândia)
Fonte: Olhar Digital
Comentários