A pesquisa científica continua a desbravar novos horizontes, e uma recente descoberta de um grupo de pesquisadores australianos pode ser a chave para melhorar a medicina regenerativa. Publicado na renomada revista Nature, o estudo propõe uma abordagem inovadora para superar um dos principais desafios no campo das células-tronco pluripotentes induzidas (iPS) — a “memória epigenética”.
Um dos autores do estudo, Sam Buckberry, apresentou a descoberta em um artigo de sua autoria no site The Conversation.
Redefinindo a memória das células-tronco
Você pode pensar no DNA como um livro de receitas e no epigenoma como um conjunto de marcadores de página. Os marcadores de página não alteram as receitas, mas direcionam quais receitas são usadas. Da mesma forma, as marcas epigenéticas guiam as células para interpretar o código genético sem alterá-lo.
Quando reprogramamos uma célula madura para uma célula iPS, queremos apagar todos os seus ‘marcadores de página’. No entanto, isso nem sempre funciona completamente. Quando alguns marcadores permanecem, essa ‘memória epigenética’ pode influenciar o comportamento das células iPS.
Sam Buckberry, autor do estudo, no The Conversation
Reescrevendo a história celular
Os pesquisadores realizaram um avanço notável no campo das células-tronco, apresentando um método inovador para apagar a memória celular e tornar as iPS mais semelhantes às células-tronco embrionárias. O estudo destaca um processo revolucionário que imita a redefinição epigenética natural que ocorre durante o desenvolvimento embrionário.
Os cientistas investigaram como o epigenoma se transforma quando células adultas são reprogramadas em células-tronco pluripotentes induzidas. Inspirados pela maneira como as células embrionárias começam com um novo conjunto de “páginas em branco”, os pesquisadores introduziram uma etapa durante o processo de reprogramação das iPS que imita esse processo de reinicialização natural.
Durante o desenvolvimento inicial de um embrião, antes de ser implantado no útero, as marcas epigenéticas hereditárias das células espermáticas e ovulares são apagadas. Esse “reset” permite que as células embrionárias comecem um novo caminho, sem carregar bagagem epigenética anterior.
Ao aplicar esse conceito, a equipe conseguiu produzir células-tronco pluripotentes induzidas que se assemelham mais às células embrionárias, sem os impeditivos éticos, eliminando a memória epigenética e permitindo que se transformem em qualquer tipo de célula necessária.
Essa descoberta não apenas abre novos horizontes para a medicina regenerativa, mas também poderia revolucionar a maneira como enxergamos o potencial das células-tronco. A possibilidade de “reprogramar” células para agir como uma folha em branco oferece esperança para tratamentos mais eficazes e personalizados para uma variedade de doenças, desde diabetes até doenças neurodegenerativas.
Fonte: Olhar Digital
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