Conforme noticiado pelo Olhar Digital, um artigo a ser publicado na edição de setembro da revista Quaternary Science Reviews (já disponível na versão online) descreve uma descoberta fascinante sobre as tradições funerárias humanas. O hábito teria surgido muito antes do que se pensava.
Acreditava-se que a caverna Galería del Sílex (situada na Serra de Atapuerca, um pequeno conjunto montanhoso na província de espanhola de Burgos) havia sido ocupada durante a Idade do Bronze, há cerca de três mil anos, tendo sido selada em algum momento da história, revelando-se uma verdadeira “cápsula do tempo” arqueológica em 1979, quando foi descoberta.
Agora, após notar seis vasos cerâmicos neolíticos ao lado de ossos humanos em um dos poços, os autores do novo estudo decidiram reavaliar a idade dos restos mortais usando datação por radiocarbono, chegando a um resultado que varia entre 3.450 até sete mil anos (esses mais antigos pertencentes a uma menina que morreu quando tinha por volta de 14 anos).
Além disso, segundo os pesquisadores, esses achados, que representam alguns dos primeiros vestígios humanos neolíticos já descobertos na região, fornecem uma visão rara dos costumes funerários do período.
Descoberta na caverna antecede em mil anos as tradições funerárias na região
A princípio, pensava-se que os restos encontrados na parte do sistema de cavernas conhecida como Sima B tivessem sido intencionalmente colocados da maneira como eles foram encontrados em uma saliência vertical. E que, por sua vez, os restos encontrados na parte Sima A no fundo da caverna eram de indivíduos que caíram lá e morreram.
No entanto, segundo a nova pesquisa, os ossos da jovem conhecida como I-5 não estavam anatomicamente conectados como alguns dos outros restos mortais.
“Além disso, os seis vasos cerâmicos que foram recuperados das profundezas de Sima A, atribuídos ao Neolítico Inferior, são compatíveis com a data que obtemos para a I-5. Assim, é razoável acreditar que os fragmentos de vasos oram deliberadamente depositados em Sima A, juntamente com os restos parciais de I-5”, escrevem os autores.
Isso significa que a Galería del Sílex esteve em uso desde o início do Neolítico até a Idade do Bronze. Surpreendentemente, os ossos mais antigos do local, os da adolescente, antecedem em cerca de mil anos o surgimento das tradições funerárias neolíticas na Península Ibérica.
E embora alguns estudiosos tenham debatido a função da caverna, os autores do estudo fornecem evidências convincentes de que ela foi realmente usada como uma câmara funerária. “Os restos humanos da Galería del Sílex não foram encontrados dentro de um contexto doméstico de ocupação humana da caverna, mas sim dentro de dois poços (simas) localizados a mais de trezentos metros da antiga entrada”, relatam.
Isso, segundo os autores, sugere que a Galería del Sílex poderia ter sido uma área reservada para depositar humanos falecidos durante o Neolítico Inferior.
Conforme destaca o site IFLScience, ao classificar a caverna como um espaço funerário, os pesquisadores conseguem pintar um quadro da vida – e da morte – pré-histórica na Serra de Atapuerca.
Observando que os outros dois sítios neolíticos notáveis da região – conhecidos como El Portalón e El Mirador – foram usados como alojamentos e estábulos de gado, respectivamente, os autores do estudo são capazes de apresentar novas perspectivas sobre a dinâmica espacial dos assentamentos da Idade da Pedra.
Fonte: Olhar Digital
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