Um artigo publicado este mês na revista Analytical Chemistry traz informações surpreendentes sobre Vlad III – também conhecido como Vlad, o Empalador – um príncipe romeno do século 15 que teria inspirado o vampiro mais famoso da literatura mundial: o Conde Drácula. Segundo o estudo, a temida figura histórica derramava lágrimas de sangue.

Famoso por seus métodos cruéis de punição, o monarca liderou a Valáquia (uma província histórica da Romênia, situada ao norte do rio Danúbio) por três períodos distintos, entre 1448 e 1476. Na época, ele teria matado cerca de 80 mil pessoas, muitas delas por empalamento, o que justifica seu apelido. Esse tipo de execução consistia na inserção de uma estaca atravessando o corpo do inimigo até a morte.

Muito do que se sabe sobre Vlad III vem de registros históricos. Os cientistas do novo estudo, no entanto, foram além: realizaram análises proteômicas de ponta em três cartas do príncipe, revelando detalhes sobre sua saúde.

Entre as informações obtidas está o fato de que o impiedoso governante teria enfrentado problemas respiratórios e de pele, além de uma condição rara que o fazia verter lágrimas de sangue.

Uma figura polêmica e temida

Vlad III foi um voivoda, título que representa a mais alta patente militar nos países eslavos, e, embora não haja provas históricas de que tenha consumido sangue das vítimas, ele foi de fato uma figura cruel, o que o torna uma possível inspiração para a lenda do Conde Drácula. Além disso, ele era chamado de Vlad Drăculea, uma nomenclatura que se traduz como “filho do dragão”, o que reforça ainda mais as associações com o vampiro criado por Bram Stoker.

À esquerda, uma representação artística de Vlad III. À direita, uma caracterização do Conde Drácula, personagem criado por Bram Stocker com inspiração no sanguinário príncipe romeno. Créditos: Banekondic1996 – Wikipedia Commons / Kiselev Andrey Valerevich – Shutterstock

Um conjunto de correspondências escritas por ele entre 1457 e 1475 permaneceu como um verdadeiro repositório de proteínas ao longo dos séculos. Isso permitiu uma investigação reveladora sobre as condições ambientais da segunda metade do século 15 em Valáquia, uma região que servia como ponto de encontro para soldados, migrantes e viajantes que transportavam não apenas mercadorias e tradições culturais, mas também doenças e epidemias.

“Identificamos os peptídeos e proteínas humanas presentes nas cartas, o que também nos permitiu aprender mais sobre Vlad Drácula, o Empalador”, diz o artigo.

Como o estudo descobriu que Vlad, o Empalador, chorava lágrimas de sangue

Os pesquisadores da Sociedade Americana de Química (ACS, na sigla em inglês) usaram etileno acetato de vinila (EVA) para extrair as proteínas das cartas sem causar danos. O material foi então analisado por espectrometria de massa, o que possibilitou a caracterização de proteínas de diferentes épocas e origens.

A equipe concentrou-se nas proteínas que apresentavam características de degradação mais avançadas, aumentando assim a probabilidade de terem sido deixadas por Vlad III, visto que proteínas menos degradadas, ou seja, mais recentes, poderiam pertencer a pessoas que manipularam as cartas posteriormente. “Não podemos negar que pessoas medievais podem ter tocado nesses documentos”, observa o estudo. “Mas também é presumível que as proteínas antigas mais proeminentes estejam relacionadas ao Príncipe Vlad, o Empalador, que escreveu e assinou essas cartas”.

Uma carta escrita por Vlad III, datada de 1457. Ao lado, um mapeamento da fluorescência de fenilalanina, tirosina e triptofano sob iluminação UV flash, que permitiu a análise do material. Crédito: M.G.G. Pittala et al., 2023

No total, foram identificadas 16 proteínas humanas. Segundo a análise desse material, Vlad III provavelmente enfrentou processos inflamatórios no trato respiratório e na pele. Sobre “chorar sangue”, tal condição estaria associada a uma doença rara chamada hemolacria. 

Embora as lendas enfatizem a natureza sádica de Vlad III, o príncipe medieval tornou-se uma espécie de herói nacional na Romênia. Ele também é conhecido por defender o país contra invasões estrangeiras, seja contra soldados turcos ou mercadores alemães. 

De certa forma, pode-se dizer que Vlad, o Empalador, alcançou a imortalidade – ainda que não tenha sido exatamente como o vampiro inspirado nele.