Nosso planeta está sendo tomado por um malfeitor belo e reluzente – e não estamos falando de nenhum novo vilão sedutor dos cinemas. O inimigo é real e vive muito mais próximo do que você pensa. Nas nossas roupas, em acessórios ou itens de decoração, lá está ele: o glitter.
Esse material (muito presente em atividades escolares infantis e nas festas de Carnaval, por exemplo) é composto por microplásticos teimosos que se recusam a se decompor e estão se infiltrando em nossos rios e oceanos, deixando um rastro de brilho – e destruição – por onde passam.
Sabe aquela pessoa inconveniente que faz um grande alvoroço ao entrar em uma festa, mas que, na verdade, causa mais problemas do que diversão? O glitter é como se fosse o penetra sem noção do ecossistema aquático.
Cientistas não apenas questionam sua presença, como pedem que ele seja expulso do salão, com proibição de acesso. Ou seja: que a fabricação, a comercialização e o uso do glitter não sejam mais permitidos.
Estrago causado pelo glitter é maior que o brilho
Como suas partículas são pequenas demais para serem captadas pelos filtros durante o tratamento de águas residuais, elas estão se infiltrando sorrateiramente em nossas águas. A bela aparência é apenas uma cortina de fumaça para os estragos que estão causando nas vidas subaquáticas.
A vítima mais recente desses invasores são as cianobactérias, ou, como são popularmente conhecidas, algas azul-esverdeadas. Esses microorganismos, que desempenham papéis cruciais nos ecossistemas aquáticos, estão enfrentando uma verdadeira crise por causa do glitter.
Pesquisadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (CENA/USP) decidiram investigar como exatamente esse “malvado favorito” dos festeiros afeta o crescimento das cianobactérias – e os resultados estão descritos em um artigo publicado recentemente na revista Aquatic Toxicology.
Fotossíntese comprometida
Em um experimento que durou 21 dias, os cientistas monitoraram o crescimento de duas linhagens de cianobactérias em cinco concentrações diferentes de glitter. A cada três dias, eles acionavam sua “espectrofotometria” – uma espécie de holofote científico que mede o crescimento celular.
Eles notaram que ambas as linhagens estavam claramente sentindo os efeitos negativos das partículas brilhantes. O glitter não apenas diminuiu a taxa de crescimento, mas também fez as células se aglomerarem mais, como se estivessem em um estado constante de pânico.
“Descobrimos que o aumento do glitter levou as cianobactérias a um nível de estresse que até prejudicou sua fotossíntese”, revelou o agrônomo Maurício Junior Machado, líder da investigação, em um comunicado.
Assim como as plantas, esses microorganismos dependem da fotossíntese para sua energia, e se isso é afetado, eles estão prestes a entrar em colapso.
Os autores torcem para que esse estudo chame a atenção das autoridades e do público em geral. “O glitter pode até estar brilhando nas festas, mas está causando uma ressaca ambiental séria”, brincou uma das coautoras do artigo, a professora-doutora Marli de Fátima Fiore.
Fonte: Olhar Digital
Comentários