Existe um lugar do Oceano Pacífico, na costa da Califórnia, chamado Monte Submarino Davidson, onde milhares de polvos se reúnem para acasalar, fazer seus ninhos e nutrir seus ovos para eclodir.

Uma pesquisa publicada nesta quarta-feira (23) na revistaScience Advances acaba de revelar o que atrai esses cefalópodes para as fontes hidrotermais abissais da região, descobertas em 2018.

O que você precisa saber:

Maior viveiro de polvos já observado no mundo

Segundo o estudo, no local – o maior viveiro de nidificação de polvos de que se tem notícia – existe um vulcão subaquático. Após vários mergulhos para monitorar e examinar a área, a equipe de pesquisadores liderada pelo cientista marinho James Barry, do Instituto de Pesquisa do Aquário da Baía de Monterey (MBARI), descobriu o segredo deste lugar especial, que recebeu o apelido de Jardim dos Polvos: o calor do vulcão acelera o desenvolvimento dos ovos, aumentando as chances de sobrevivência.

“Graças à avançada tecnologia marinha do MBARI e à nossa parceria com outros pesquisadores locais, pudemos observar o Jardim dos Polvos em detalhes incríveis, o que nos ajudou a descobrir por que tantos polvos de águas profundas se reúnem lá”, disse Barry em um comunicado. “Essas descobertas podem nos ajudar a entender e proteger outros habitats únicos do fundo do mar contra impactos climáticos e outras ameaças”.

À esq., mapa mostra ponto exato onde fica o Jardim dos Polvos. À dir., mamães polvo nutrindo seus ovos. Crédito: Barry et al., Sci. Adv., 2023

A “maternidade” fica a 3.200 metros abaixo da superfície do oceano, na escuridão gelada permanente da chamada zona batipelágica. Os pesquisadores contaram 4.707 fêmeas nidificantes em uma área de 2,5 hectares no centro do local – e estimaram até 20 mil polvos, machos e fêmeas, em todo o viveiro.

Cientistas passaram três anos investigando a área

Como muitas criaturas marinhas, os polvos são animais de sangue frio. A temperatura ambiente média no abissal Monte Submarino Davidson, em torno de 1,6ºC, retarda seus metabolismos. Nesse quadro térmico, os ovos dos cefalópodes – chamados de “polvos pérolas” pelos pesquisadores em razão de seu brilho opalescente – costumam levar de cinco a oito anos para eclodir.

Ao longo de três anos, os pesquisadores realizaram 14 mergulhos usando um veículo operado remotamente para examinar extensivamente e documentar os polvos. Eles anotaram características distintivas, como cicatrizes, bem como os locais que as mães escolheram para colocar e se amontoar sobre seus ovos.

Os cientistas descobriram que os ninhos costumam ser agrupados em fendas – e essas fendas são lugares onde o calor se infiltra abaixo do fundo do mar, aquecendo a água a 11ºC ou mais. Essa temperatura, segundo a equipe, é muito mais propícia ao metabolismo do polvo e à incubação dos ovos. Ao rastrear indivíduos, eles descobriram que o período de incubação dos polvos pérolas havia sido encurtado para cerca de 21 meses. O calor acelerou o crescimento dos embriões e o metabolismo das mães.

De acordo com Barry, o período de incubação mais curto reduz drasticamente a chance de os embriões serem comidos por um predador, enquanto ainda são vulneráveis e incapazes de se defender ou fugir, aumentando suas chances de sobrevivência a longo prazo, dizem os pesquisadores.