Saturnoestá se aproximando de sua oposição, que é o melhor momento para a observação do Gigante dos Aneis e suas luas. E entre as numerosas luas de Saturno, que a gente até perde a conta de quantas são, está Encélado, um dos mais fascinantes mundos gelados do nosso Sistema Solar.

Com pouco mais de 500 quilômetros de diâmetro, Encélado foi descoberto em 1789 por William Herschel e passou quase 200 anos sem receber a atenção dos astrônomos. Até que nos anos 80 as sondas Voyager  passaram por ele. 

[ Concepção artística mostrando Encélado com Saturno ao fundo – Créditos: Kevin Gill ]

A Voyager 1 descobriu que Encélado orbita na parte mais densa do difuso Anel E de Saturno, o que já indicava uma possível relação entre a lua e o anel. Já a Voyager 2 revelou que Encélado era um mundo muito mais interessante do que se imaginava. Possuía uma grande variedade de terrenos, alguns com apenas 100 milhões de anos de idade, superfícies cheias de jovens crateras e um terreno deformado por atividades tectônicas. 

Descobrimos então que Encélado era um dos poucos mundos no Sistema Solar ainda ativos. Fora ele apenas as luas Io de Júpiter, Tritão de Netuno, e é claro, a Terra.

As imagens e os dados coletados pela Voyager 2 levantaram suspeitas de que Encélado pudesse ter criovulcões que estariam alimentando o anel E de Saturno. E em 2005, a sonda Cassini confirmou essa suspeita.

[ Encélado em meio à parte mais densa do Anel E de Saturno – Créditos: NASA/JPL/Cassini ]

A missão Cassini-Huyggens foi uma das mais fantásticas e bem sucedidas missões espaciais aos gigantes gasosos. Entre 2004 e 2017, período em que permaneceu em órbita de Saturno, a Cassini protagonizou alguns dos mais épicos momentos da história da exploração espacial. 

Um desses momentos aconteceu em 2008, durante a segunda passagem rasante sobre Encélado. Em sua passagem anterior, ocorrida em 2005, as imagens da Cassini mostravam jatos de vapor d’água no polo Sul da pequena lua. Aquilo de certa forma confirmava que que Encélado poderia estar ajudando a abastecer o Anel E de partículas. Mas os cientistas queriam mais, e aí então os controladores da missão alteraram a trajetória da Cassini, para que ela atravessasse as plumas de material ejetadas de Encélado.

Com isso a sonda espacial poderia utilizar seu espectrógrafo para analisar a composição das partículas e estudar o interior de Encélado. E o resultado dessas análises mostraram algo muito interessante.

[ Ilustração da sobrevoo da Sonda Cassini em meio às plumas de Encélado – Créditos: NASA/JPL-Caltech ]

Além de água, a Cassini encontrou dióxido de carbono e uma enorme variedade de hidrocarbonetos. Mas as surpresas não param por aí. Na verdade, até hoje os cientistas estão estão fazendo novas descobertas a partir dos dados coletados pela Cassini

Com tudo que aprendemos nesses poucos anos de estudo de Encélado, sabemos que ele possui um oceano de água líquida abaixo de uma crosta de gelo que em alguns locais não deve passar dos 10 km de espessura. Neste oceano, fontes termais garantem temperatura amena, principalmente na região do polo Sul, onde fissuras na superfície permitem a passagem de jatos de vapor d’água, que levam o material do interior da Lua até o espaço. Estes criovulcões constituem a principal fonte de partículas que formam o anel E de Saturno.

[ Encélado e seus diferentes terrenos – Créditos: NASA/JPL ]

Parte do material também forma uma tênue atmosfera no hemisfério sul da Lua. Algumas partículas se condensam e caem na forma de Neve cobrindo parte da superfície de Encélado e renovando a sua paisagem. 

Neve, fontes termais, temperatura amena e com visão privilegiada para Saturno. Isso parece descrever um excelente destino de férias, mas ainda não é para tanto. Agora, Encélado, na verdade, oferece condições bastante atrativas para que os cientistas busquem por lá, a tão procurada vida fora da Terra.

Principalmente porque, os estudos mais recentes mostram que o oceano interno de Encélado, possui os elementos essenciais para a vida como a conhecemos: carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, fósforo e enxofre. Também já achamos ali compostos orgânicos que são blocos básicos para a formação da vida. 

[ Gráfico ilustrando as fontes hidrotermais no oceano interior de Encélado, que pode proporcionar um ambiente propício ao desenvolvimento da vida microbiana – Créditos: NASA/JPL/M. Neveu ]

Ainda não encontramos por lá nenhum alienígena passando férias, ou outro tipo de vida menos complexa, nem mesmo microscópica. Não encontramos principalmente porque não procuramos. Ainda precisamos de missões espaciais que se dediquem a buscar nessa lua de Saturno, as evidências de que a vida pode existir fora da Terra, o que parece ser mais fácil neste fantástico mundo gelado de Encélado.