No início do mês passado, o Olhar Digital noticiou que o controverso cientista Abraham (Avi) Loeb, pesquisador da Universidade de Harvard, nos EUA, estava liderando uma expedição no Oceano Pacífico para recuperar destroços do que ele acreditava ser um objeto interestelar que despencou na Terra em 2014. 

Vamos recapitular essa história:

Origem interestelar com 99,99% de confiança

“A origem interestelar do IM1 foi estabelecida com 99,99% de confiança com base em medições de velocidade feitas por satélites do governo dos EUA, como confirmado em uma carta formal do Comando Espacial dos EUA à NASA”, revelou Loeb no diário da expedição em forma de blog

Conforme analisado, antes de entrar no sistema solar, o IM1 estava se movendo a uma velocidade de 60 km/s em relação ao Sistema Local de Repouso da Via Láctea, mais rápido do que 95% de todas as estrelas na vizinhança do Sol. 

Equipe de pesquisadores junto com o trenó magnético usado nas buscas por destroços do provável primeiro objeto interestelar reconhecido a cair na Terra, o IM1. Avi Loeb é o de chapéu e óculos escuros, posicionado mais à frente. Crédito: Avi Loeb

“Com base no fato de que manteve sua integridade a uma velocidade de impacto na Terra de 45 km/s até uma elevação de 17 km acima do Oceano Pacífico, a resistência de seu material deve ter sido maior do que todas as 272 rochas espaciais documentadas pela NASA no catálogo de meteoritos CNEOS, incluindo a minoria de 5% delas que são meteoritos de ferro”, explica o cientista.

Loeb diz que, resumidamente, os destaques das descobertas são dois:

  1. O levantamento do trenó magnético recuperou cerca de 700 esférulas de diâmetro de 0,05 a 1,3 milímetros através de 26 corridas cobrindo uma área de pesquisa medindo um quarto de quilômetro quadrado no total;
  2. A espectrometria de massas mostra esférulas únicas das regiões de alto rendimento próximas ao caminho do IM1, tendo um alto enriquecimento de Be (berílio), La (lantânio) e U (urânio), bem como um teor muito baixo de elementos com alta afinidade ao ferro, como Re (rênio).
Coleta de material pelo trenó magnético que rastreou a região de queda do IM1 no oceano, mostrando uma esférula rica em ferro de 0,4 milímetro de diâmetro (sinalizado pela seta). Crédito: Avi Loeb

“Sensacionalismo ridículo”

Segundo Loeb, as esférulas recuperadas estão sendo analisadas pelos “melhores instrumentos do mundo” dentro de quatro laboratórios: na Universidade de Harvard, na Universidade da Califórnia em Berkeley, na Bruker Corporation e na Universidade de Tecnologia de Papua Nova Guiné.

Sobre a chance de ser uma tecnologia alienígena (resquícios de uma nave espacial, por exemplo), o pesquisador não descarta – inclusive, ele é um defensor ferrenho dessa explicação em relação ao Oumuamua. “Essas interpretações serão consideradas criticamente, juntamente com resultados adicionais da análise das esférulas em trabalhos futuros”.

Acontece que isso não é visto com bons olhos por muitos da comunidade científica. “As pessoas estão cansadas de ouvir sobre as alegações selvagens de Avi Loeb”, disse o astrofísico da Universidade Estadual do Arizona Steve Desch ao jornal The New York Times em julho, quando Loeb lançou a ideia de que o CNEOS 2014-01-08 poderia ser de origem tecnológica. “É poluir a boa ciência – confundir a boa ciência que fazemos com esse sensacionalismo ridículo e sugar todo o oxigênio da sala”.