Óculos de realidade aumentada (AR, na sigla em inglês) – também conhecidos como smart glasses e óculos inteligentes – podem criar desequilíbrio de poder nas interações sociais, o que levanta preocupações sobre privacidade e controle. É o que apontaram pesquisadores da Universidade de Cornell e da Universidade Brown, ambas dos EUA.
Para quem tem pressa:
Jenny Fu, uma estudante de doutorado da Cornell, apresentou as descobertas de seu estudo na Conferência ACM Designing Interactive Systems 2023. A pesquisa visava lançar luz sobre como os óculos de AR afetam ambos os lados da interação.
Smart glasses e o desequilíbrio de poder
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Esses óculos podem sobrepor objetos virtuais à visão do usuário, criando uma experiência de realidade mista. Embora a maioria do desenvolvimento foque em aprimorar a experiência do usuário que os está usando, os pesquisadores estudaram o impacto dos óculos de AR tanto nos usuários quanto nos não-usuários em interações interpessoais.
À medida que os óculos de AR evoluem, eles se tornam mais discretos e semelhantes em aparência aos óculos normais. Esse desenvolvimento levanta preocupações sobre gravações ou manipulações não autorizadas de indivíduos. Os pesquisadores colaboraram com especialistas de ambas as universidades para examinar a dinâmica das interações com os óculos inteligentes.
O estudo envolveu cinco pares de indivíduos, cada um composto por um usuário dos óculos e um não-usuário. Esses pares discutiram atividades de sobrevivência no deserto enquanto usavam os Spectacles, um protótipo de óculos de AR fornecido pela Snap Inc. Os Spectacles incluíam uma câmera de vídeo e filtros que transformavam a aparência do não-usuário. Após a atividade, os pares participaram de discussões sobre como melhorar a tecnologia.
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Os usuários dos óculos relataram redução da ansiedade devido aos filtros divertidos que alteravam suas percepções. No entanto, os não-usuários se sentiram desempoderados, pois não conseguiam perceber a realidade aumentada acontecendo do outro lado das lentes. Além disso, os filtros impactaram seu autocontrole sobre a aparência. A possibilidade de gravações secretas exacerbou ainda mais esses sentimentos.
Os não-usuários tentaram retomar o controle movendo-se para evitar os filtros ou exigindo informações sobre o que o usuário estava experimentando. A falta de transparência em alguns óculos de AR, incluindo as lentes escuras dos Spectacles, prejudicou as interações sociais e a qualidade da comunicação.
Não há contato visual direto, o que deixa as pessoas muito confusas, porque elas não sabem para onde a pessoa está olhando. Isso torna a experiência delas dessa conversa menos agradável, porque os óculos bloquearam todas essas interações não verbais.
Jenny Fu, estudante de doutorado da Universidade de Cornell que conduziu o estudo
O que fazer, então?
Para abordar essas preocupações, os participantes sugeriram adicionar displays de projeção e luzes indicadoras de gravação aos óculos de AR. Dessa forma, as pessoas próximas estariam cientes do que o usuário está vendo ou gravando.
Os pesquisadores do estudo também recomendaram testar os óculos de AR em ambientes sociais e envolver não-usuários no processo de design para garantir experiências de realidade mista equitativas.
Ao considerar as perspectivas tanto dos usuários quanto dos não-usuários, o estudo destaca a necessidade de um design ético e transparente dos óculos de AR. As descobertas foram publicadas nos Anais da Conferência ACM Designing Interactive Systems 2023.
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Fonte: Olhar Digital
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