Uma técnica experimental foi aplicada durante três meses em pacientes que perderam o olfato após serem infectados pela Covid-19 havia ao menos 13 meses. A pesquisa investigou a presença, ou não, de memórias afetivas associadas na reabilitação, também considerando gostos pessoais de cada voluntário depois de uma entrevista.
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Como funcionou o estudo
Relação entre as memórias afetivas e os cheiros
A ideia da pesquisa surgiu em 2019, quando a naturóloga e especialista em neurociências Vanessa Castello Branco Pereira teve contato com uma paciente de 92 anos com um quadro de perda de olfato persistente e sem diagnóstico havia dois anos. Ela reclamava que não conseguia mais comer geleias de frutas, e que, sem o olfato, estava perdendo a memória da mãe.
A pesquisadora então testou a hipótese de que a modificação do tratamento padrão de reabilitação poderia ter melhores resultados se usassem aromas de agradabilidade e atrelados às memórias afetivas de cada pessoa, segundo informações do G1.
O tratamento mais indicado é o treinamento olfativo [tradicional], mas ele não leva em conta questões genéticas, nem culturais, nem individuais de apreciação a odores. Isso faz muita diferença porque, dentro da organização dos receptores olfatórios, cada pessoa vai ter um arranjo diferente por conta da genética.
Vanessa Castello Branco Pereira
De acordo com a pesquisadora, é como se houvesse uma espécie de “digital olfativa” em cada nariz, o que pode fazer com quem as pessoas tenham diferentes relações com os cheiros. Com isso, a proposta foi fazer a reabilitação do olfato baseada na história da pessoa.
É uma forma de a gente estimular essas sinapses [transmissões de sinais entre neurônios] e esses caminhos neurais que foram defasados depois de um distúrbio de tanto tempo. A gente teve resultados bem positivos e significativos e que demonstram que, sim, quando a gente utiliza aromas da nossa vida, dessa memória afetiva e com agradabilidade, a gente pode recuperar em um tempo menor as funções do olfato.
Vanessa Castello Branco Pereira
As melhores notas
Para a apuração, foi feita uma “escala visual analógica” de 0 a 10, em um tipo de régua. Na ponta do lado direito estava a escala para o “o melhor cheiro que eu já senti na minha vida” e, no lado oposto, “o pior cheiro que eu já senti na minha vida”.
Das 44 substâncias, as três com maiores notas foram o cheiro do chocolate (com nota 8,48), o pão (8,44) e cheiro de campo/natureza verde (8,39).
Ao longo dessa avaliação, as pessoas poderiam trazer um relato. E com relação ao pão [aroma entre os mais votados nos dois grupos], o relato trazia ‘o chegar em casa com o pão fresquinho’, ou ‘passar na frente da padaria’, ‘o pão quentinho pela manhã’, tudo muito relacionado a um prazer mais familiar.
Vanessa Castello Branco Pereira
Covid-19 e a perda do olfato
O vírus da Covid-19 afeta o olfato, inicialmente como uma gripe, que pode entupir o nariz e levar a uma diminuição da chegada das moléculas até o epitélio olfatório (responsável pela sensibilidade olfativa).
A Covid tem uma atração especial pelas células neuronais, que são responsáveis pelo olfato, e acaba destruindo essas células. Quanto mais grave a Covid, provavelmente ela lesa mais as células basais, que são células de regeneração do olfato. Isso pode levar a uma condição mais crônica, a uma perda de olfato e, logo, a uma perda de paladar.
Marco Aurélio Fornazieri, pós-doutor em distúrbios do olfato e paladar pela Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos
Os neurônios olfativos, de acordo com o especialista, são mortos pelos vírus, mas há uma renovação desses neurônios de 4 a 12 semanas. O problema é quando as células que geram esses neurônios são afetadas pelos vírus e morrem.
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Fonte: Olhar Digital
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