A forte relação entre Vítor Pereira e Corinthians foi desfeita, talvez de forma irremediável, após a polêmica saída do treinador para o Flamengo. O tempo cicatriza feridas, e o técnico ainda guarda com carinho lembranças de sua passagem, embora com resquícios de mágoas com a maneira como foi tratado depois de deixar o clube. Em conversa para o Podcast Tem Mister na Área, produzido em parceria entre zerozero.pt e oGol, Vítor detalhou cronologicamente todos os eventos que o levaram ao Rubro-Negro.
A história conturbada começa com a decisão por deixar o Corinthians. Um fruto do desgaste pelo tempo afastado de Portugal e da família, a situação da sogra apenas como um dos fatores neste contexto, mas acima de tudo pela sensação de ciclo encerrado, sem perspectivas de montagem de um elenco forte para disputar títulos em 2023.
“Eu e minha equipe técnica decidimos que não seria possível continuar no Corinthians pela necessidade que as nossas famílias tinham naquele momento. Eu tive três anos fora na China. Eram 21h de viagem. Você está a ver os débitos que vai acumulando com a sua família. Sente que os filhos estão a crescer e tu não estás lá. Sente que seus filhos estão na idade da adolescência, que precisam de um pai, e tu não estás lá. E isso me aconteceu por 10 a 12 anos”, disse.
“Eu me despeço do Corinthians desta forma, por razões familiares, e por gostar muito das pessoas no Corinthians, não quis apontar, sublinhar, que não vejo um projeto ganhador, capaz de nos valorizar e conseguir valorizar o clube mais do que aquilo que nós tínhamos feito”.
“Numa conversa pessoal com o presidente, de amigo, para ficar entre amigos, falei de fato que precisava voltar para casa”, revelou.
“O problema de saúde (da sogra), que toda a gente fala e brinca com a situação, é um problema muito grave. A única vez que falei daquilo foi numa conversa de amigos. Só que essa conversa de amigos passou para a imprensa”, lamentou.
Vítor Pereira tinha uma semana de férias agendada para passar com a família na Bahia. O treinador tinha tudo certo para voltar para casa e já tinha se despedido do Corinthians, mas recebeu o primeiro contato com o Flamengo ainda antes de viajar. Não houve tempo para descanso.
“Depois de ter me despedido do Corinthians, das pessoas, o Flamengo vem atrás de mim. Eu nunca tinha falado nada com os meus assistentes nem a ninguém porque, de fato, nós não tínhamos nada e vínhamos para casa. Era essa a decisão. O que acontece? Eles vêm me encontrar e dizem: ‘Vítor, nós gostávamos que fosses o treinador do Flamengo’. Isto foi dois dias antes de vir embora”, recordou.
“No dia seguinte, eu fui à Avenida Paulista. Sentei-me com dois amigos para beber uma cerveja, mas não estive sentado 30 segundos, porque começou a formar uma fila enorme para tirar fotos comigo. É uma coisa que ficou na minha cabeça. Porque senti, de fato, que os corintianos tinham comigo, e eu com eles, uma relação muito forte. Naquele último dia, ligaram-me do clube para eu transmitir alguma coisa e eu não conseguia. O sentimento era tão forte que eu nem conseguia falar”, continuou.
“Depois, eu vou para a Bahia e os dirigentes do Flamengo vêm atrás de mim. Eu disse que tinha de ir de férias com a minha família. Tive uma semana de férias que não foram férias. Estragaram-me as férias. Estiveram lá comigo. Nessa semana, em que eu estava com a minha família, eu liguei para várias pessoas e ninguém queria que eu continuasse no Brasil, queriam que eu fosse para casa”, resumiu.
Contra a vontade da família, e contradizendo a sua própria decisão inicial, Vítor Pereira acabou por ser convencido a assinar com o Flamengo. A expectativa de lutar por títulos no comando de um elenco mais competitivo foi o que o fez mudar de ideia. Mas sua comissão técnica não foi convencida, e a transferência para o Rubro-Negro acabou por terminar de forma traumática.
Fonte: Ogol
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