Vitor Pereira deixou o futebol brasileiro há exatos cinco meses, mas a saída após passagem por dois dos clubes mais populares do país segue rendendo histórias. O treinador português alega que, no caso do Flamengo, o imediatismo atrapalhou o trabalho que foi encerrado no início de abril, depois dos títulos perdidos na Supercopa, Recopa, Mundial e Estadual. Três dessas decisões aconteceram num intervalo de um mês.
“Ou consegues resultados imediatos ou não há projeto absolutamente nenhum. O projeto é sempre ganhar o jogo seguinte, como é um pouco na Europa também. O futebol está a se transformar nisso, só que ali (Brasil) é elevado ao quadrado. É uma coisa surreal. Ou tu entendes isto e dá a volta rapidamente ou então quando estás a entender o clube, que foi o que me aconteceu no Flamengo, quando ainda estou a entender o clube, a entender a personalidade de cada um, a ligação entre eles, o que é preciso mudar, alterar, o projeto já tinha acabado. O Brasil é isto”, declarou Vitor Pereira, em entrevista exclusiva ao Tem Mister na Área, um podcast conjunto entre oGol e zerozero.pt.
Apesar da polêmica transferência para o Flamengo, após deixar o Corinthians por opção, que foi explicada pelo treinador desde a questão da saúde da sogra, Vitor Pereira não faz mistérios sobre a escolha. Para o técnico, naquele momento, o Timão não poderia atender suas ambições, diferente do Rubro-negro.
“Custou muito sair do Corinthians, mas senti que tinha que sair porque não tinha possibilidade de construir aquilo que queria, por muito que quisesse”, disse o português.
O desejo da construção de um Flamengo vitorioso, porém, foi minado desde o início por uma simples questão. Com a decisão tomada de deixar o Corinthians, toda a comissão técnica do português foi embora do Brasil e ele foi o único a permanecer, com o intuito de passar férias no país. Contactado às pressas por Marcos Braz, já de férias na Bahia, Vitor Pereira tentou, sem sucesso, demover a ideia dos profissionais com quem trabalha de um período de meses afastados do futebol. E aí, antes mesmo do trabalho começar, tudo começou a dar errado.
“Eu ligo para meus assistentes, que estavam em Portugal com as famílias, para dizer que tínhamos o Flamengo e o que eles achavam. O que eles me disseram é que: ‘prometemos às famílias a ficar com elas três ou quatro meses para depois irmos para outro lugar qualquer, na Europa ou até voltar para o Brasil. Então, este momento não é possível’. Tive que formar uma equipe técnica em dois dias”, começou a explicar.
“E o que eu achei? Eu achei que aquilo que o Corinthians, em termos estruturais, quando digo isso é aquilo que é o dinheiro, a capacidade de investimento, a própria equipe, o projeto e os títulos que tinha para disputar em dois meses, que seria um risco enorme (assumir o Flamengo), porque eu sabia que não teria tempo para trabalhar, mas que é um risco e eu fiz a minha carreira toda em cima do risco. Portanto, isso faz parte da minha natureza. Eu não tenho medo”, seguiu.
“Minha equipe técnica teve ir na frente, porque só quando acabou o contrato com o Corinthians é que eu pude me apresentar. Passada uma semana e meia estava jogando uma final (Supercopa), com o Palmeiras. O Palmeiras com três anos de Abel, três anos de trabalho. A seguir vem outra final, outra final e outra final. O projeto no Flamengo foi este: foi jogar finais. Sem tempo, sem tempo de trabalho, com uma equipe técnica nova, a ter que os organizar, a ter que perceber como era aquela dinâmica em termos de grupo, um grupo completamente diferente do Corinthians, completamente, que existe uma liderança diferente. Às vezes chega num grupo e a liderança é uma, e às vezes chega em outro clube a liderança é outra”, concluiu.
Em quatro meses de Flamengo, Vitor Pereira comandou o time em 16 jogos, com nove vitórias no período. O treinador alternou o comando da equipe no estadual com o auxiliar fixo do clube, Mário Jorge. Desde a demissão do Flamengo, em 11 de abril de 2023, o treinador está sem clube e vive novamente em Portugal, seu país natal.
Fonte: Ogol
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