No dia 8 de setembro, o bilionário sul-africano Timothy Nash levou para o espaço restos fossilizados de antigos hominídeos para um voo ao espaço suborbital. Essa foi a primeira vez que algo do tipo foi realizado e os arqueólogos parecem não ter aprovado a ação.
Nash levou fragmentos de dois antigos hominídeos, um pedaço de clavícula de um Australopithecus sediba, de 2 milhões de anos atrás, e um osso do polegar de um Homo naledi, de 300 mil anos. Os fósseis foram transportados em um tubo, a bordo de um voo da Virgin Galactic, que partiu do Spaceport America, no Novo México.
Os ossos foram escolhidos por Lee Berger, explorador e diretor do Centro para a Exploração da Jornada Humana Profunda da Universidade de Witwatersrand. Em comunicado, ele explicou que levar esses fósseis para o espaço “representa a apreciação da humanidade pela contribuição de todos os ancestrais da humanidade e de nossos antigos parentes”.
No entanto, arqueólogos na rede social X, antigo Twitter, apontaram que levar os fósseis para o espaço não foi tão legal assim. Em seu perfil, o antropobiólogo Alessio Veneziano resumiu bem os quatro pontos que indignaram a comunidade científica.
“Estou horrorizada que eles tenham recebido uma licença”, disse Sonia Zakrzewski , bioarqueóloga da Universidade de Southampton, no Reino Unido, em um post no X. “Isso NÃO é ciência”, completou a especialista.
Críticas da comunidade científica
Durante o pedido de licença para levar os fósseis ao espaço, Berger apontou que o interesse da viagem era promover a ciência e chamar a atenção para a África do Sul quando o assunto é a origem humana. Em resposta ao Livescience, o arqueólogo Justin Walsh apontou que os efeitos espaciais em objetos históricos não têm sido de interesse científico e o ato foi arriscado e poderia ter custado caro.
Arqueólogos espaciais como eu estão definitivamente interessados no efeito do ambiente espacial sobre os itens, mas não acho que usaríamos uma herança daqui da Terra como um artigo de teste para ver o que acontece com isso.
Justin Walsh
As questões éticas foram provavelmente contornadas pelo fato dos fósseis terem sido registrados como restos paleontológicos, e não como humanos. Para efeito legais e de licença, isso pode ter sido a brecha para que os fragmentos de osso tenham sido levados ao espaço.
O voo também levanta desconfianças de se os fósseis encontrados na África do Sul estão sendo bem cuidados.
Deveríamos perguntar: podemos confiar na Universidade de Witwatersrand e em Lee Berger para cuidar desses fósseis daqui para frente, se isso é o que eles acham que é apropriado fazer com eles?
Justin Walsh
Fonte: Olhar Digital
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