A inteligência artificial está evoluindo num ritmo impressionante. Hoje, já existem chatbots que possibilitam interações com figuras históricas, e até mesmo relacionamentos com personagens fictícios. “Namorar” a IA, por exemplo, tem sido tornando mais comum entre os jovens, criando discussões entre especialistas sobre o uso da tecnologia para fins românticos.
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IA possibilita interações e até namoro
Tendência entre os mais jovens?
O biólogo evolucionista australiano Rob Brooks, que aborda o assunto no livro “Intimidade artificial: amigos virtuais, amantes digitais e casamenteiros algorítmicos”, explica que existem dois principais fatores que podem motivar o uso dessas plataformas.
Para muitos, é mera curiosidade, um interesse no próximo grande acontecimento (da tecnologia). Outros estão descobrindo que os chatbots oferecem uma forma de amizade que eles gostam e que preenche parte de suas vidas, assim como ter um novo amigo real preencheria.
Rob Brooks, professor e diretor do Centro de Pesquisa em Evolução e Ecologia da Universidade de New South Wales
Ele, no entanto, não acredita que a IA possa provocar o fim de relacionamentos humanos. Segundo o pesquisador, a tecnologia pode ocupar parte do tempo que é destinado a outras companhias reais, mas dificilmente terá a capacidade necessária para substituí-las por completo.
Para Brooks, a IA pode de fato ser mais atrativa para jovens pois eles são mais abertos às novas tecnologias. Mas ele ressalta que a preocupação dos pais deve ser na mesma medida daquela com as redes sociais ou de jogos eletrônicos.
Anna Paula Zanoni, mestre em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo (USP), concorda que o maior problema é o excesso e o mau uso da tecnologia pelos mais jovens.
Eu entendo que essas tecnologias são uma ferramenta e tudo vai depender da forma de uso, assim como a internet no geral e outras plataformas, como as redes sociais. Podemos pensar em aspectos positivos, e outros problemáticos.
Anna Paula Zanoni, mestre em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo (USP)
Inteligência artificial é boa ou ruim?
Os benefícios e malefícios da IA ainda precisam ser estudados. Mas alguns pontos sobre o uso da inteligência artificial já podem ser destacados. O autor australiano acredita, por exemplo, que a companhia dos chatbots pode ser boa para pessoas em momentos de solidão.
Meu palpite é que, para pessoas solitárias ou consideradas socialmente “esquisitas”, os chatbots podem desempenhar um papel maior em suas vidas como companhias. Mas acho que quase qualquer um pode desfrutar de um relacionamento com um chatbot nesse sentido.
Rob Brooks, professor e diretor do Centro de Pesquisa em Evolução e Ecologia da Universidade de New South Wales
Além disso, a tecnologia pode ser uma maneira de a pessoa se expressar, já que há uma tendência maior de o ser humano se soltar em uma comunicação escrita. Porém, sempre com limites, como destaca reportagem de O Globo..
Acho que o problema começa quando ela passa a substituir muitas relações reais. Esses algoritmos são programados para nos entregar o que nos agrada, coisas que vão nos satisfazer. Só que nós precisamos de relacionamentos reais, que são atravessados por frustrações, por surpresas, contradições, crises, até para aprendermos quem nós somos.
Anna Paula Zanoni, mestre em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo (USP)
O que os especialistas parecem concordar é que o convívio em sociedade é indispensável para a formação de habilidades emocionais, e ainda mais importante durante a adolescência. Além de limitar esse ponto, a IA geralmente possibilita uma comunicação apenas verbal, envolvendo a fala ou a escrita, enquanto na vida real a comunicação é formada pelos gestos, olhares e pela chamada linguagem corporal, o que confere camadas e profundidade à interação entre duas pessoas ou mais.
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Fonte: Olhar Digital
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