Momentos antes de um poderoso terremoto de magnitude 6.8 atingir o Marrocos na sexta-feira (8), matando mais de mil pessoas, misteriosas explosões luminosas foram observadas no céu. Chamado de “luzes de terremoto” (EQL), esse fenômeno remonta a séculos na Grécia antiga – e desde aquele tempo intriga os pesquisadores.
Ainda não existe um consenso sobre o que provoca as EQLs, “mas elas são definitivamente reais”, disse John Deere, geofísico aposentado do Serviço Geológico dos EUA, em email enviado à CNN. Coautor de vários artigos científicos sobre o fenômeno, ele explica que a visibilidade das EQLs depende de diversos fatores, como a escuridão local.
Segundo Deere, os vídeos recentes do Marrocos compartilhados nas redes sociais lembram as EQLs capturadas por câmeras de segurança durante um terremoto de 2007 em Pisco, no Peru.
“Se contasse, ninguém acreditaria”
Juan Antonio Lira Cacho, professor de física da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Peru, que estudou o evento, diz que os celulares e o uso generalizado de câmeras de segurança tornaram mais fácil o estudo das luzes do terremoto. “Quarenta anos atrás, era impossível. Se você as visse e contasse, ninguém acreditaria”.
Segundo Cacho as luzes sísmicas podem assumir várias formas diferentes. Às vezes, podem ser semelhantes a relâmpagos comuns, outras vezes, podem ser como uma faixa luminosa na atmosfera semelhante à aurora polar ou parecer esferas brilhantes flutuando no ar. Há ainda aquelas que parecem pequenas chamas piscando ou rastejando perto do chão ou chamas maiores emergindo do solo.
O vídeo abaixo, gravado na China pouco antes do terremoto de Sichuan, em 2008, mostra nuvens luminosas flutuando no céu, por exemplo.
Entendendo as luzes de terremoto
Para compreender as luzes de terremoto, Deere e outros quatro pesquisadores reuniram informações sobre 65 terremotos americanos e europeus associados a relatos confiáveis de luzes sísmicas que datam desde 1600. Eles compartilharam seu trabalho em um artigo publicado em 2014 na revista Seismological Research Letters.
A equipe descobriu que cerca de 80% das EQLs analisadas ocorreram em contextos de terremotos com magnitudes superiores a 5. Na maioria dos casos, o fenômeno foi observado pouco antes ou durante o evento sísmico, sendo visível a 600 km do epicentro do terremoto.
É mais provável que os terremotos, especialmente os mais fortes, ocorram ao longo ou nas proximidades das áreas onde as placas tectônicas se encontram. No entanto, o estudo de 2014 descobriu que a grande maioria dos terremotos ligados a fenômenos luminosos ocorreu dentro das placas tectônicas, e não em seus limites.
Além disso, as EQLs eram mais prováveis de ocorrer em vales de riftes, locais onde, em algum momento no passado, a crosta terrestre foi separada, criando uma região de planície alongada que fica entre dois blocos de terra mais altos.
Friedemann Freund, professor adjunto da Universidade de San Jose, na Califórnia, e ex-pesquisador do Centro de Pesquisa Ames, da NASA, é coautor do mesmo estudo. Segundo ele, quando certos defeitos ou impurezas em cristais de rochas são submetidos a estresse mecânico (como durante o acúmulo de tensões tectônicas antes ou durante um grande terremoto) eles se quebram instantaneamente e geram eletricidade.
“A rocha é um isolante que, quando estressado mecanicamente, torna-se um semicondutor”, disse ele. “Antes dos terremotos, centenas de milhares de quilômetros cúbicos de rochas na crosta terrestre são estressados e os estresses causam deslocamento dos grãos minerais em relação uns aos outros”.
Segundo Freund, é como ligar uma bateria, “gerando cargas elétricas que podem fluir das rochas estressadas para dentro e através de rochas não estressadas a cerca de 200 metros por segundo”.
Outras teorias sobre o que pode ser a causa das luzes de terremoto incluem eletricidade estática produzida pela fratura da rocha e emanação de radônio, entre outras.
Freund espera que um dia seja possível usar as EQLs, ou a carga elétrica que as causa, em combinação com outros fatores, para ajudar a prever a aproximação de grandes terremotos.
Fonte: Olhar Digital
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