A terapia celular, bastante utilizada em tratamentos contra o câncer, tem grande potencial contra a Covid-19. É o que aponta a revisão sistemática e meta-análise realizada por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com cientistas da Alemanha e Estados Unidos. Segundo o estudo, o método pode reduzir 60% do risco de morte provocada pele doença.

Os detalhes sobre a descoberta foram publicados pela revista Frontiers in Immunology

O que é a terapia celular?

A terapia celular é uma técnica que consiste em introduzir células saudáveis no organismo do paciente com o objetivo de restaurar ou modificar conjuntos específicos de células, promover terapia em todo o corpo ou modular as funções de células doentes.

As células utilizadas na terapia celular podem ser derivadas do próprio paciente (autólogo) ou de um doador (alogênico), sendo cultivadas ou modificadas em laboratório antes de serem administradas.

Nos últimos anos, a terapia celular avançou consideravelmente e encontrou aplicações no tratamento não apenas do câncer, mas também de doenças autoimunes, cardíacas e infecciosas. No caso da Covid-19, o método com células-tronco chamou atenção por sua capacidade de regulação do sistema imunológico e por suas funções de reparo tecidual.

Principais descobertas da pesquisa:

Esse estudo revelou que as terapias celulares podem figurar como um tratamento adjuvante para pacientes com COVID-19 grave.

Otávio Cabral-Marques, professor da Faculdade de Medicina da USP e coordenador do estudo.

Revisão sistemática e meta-análise da terapia celular para COVID-19. Imagem: Fronteiras em Imunologia (2023).

Foram analisados 195 ensaios clínicos de terapias celulares avançadas voltadas para o tratamento da COVID-19, conduzidos em 30 países durante o período de janeiro de 2020 a dezembro de 2021. Foram incluídos, também, 26 ensaios com resultados publicados até julho de 2022.

Falta de padronização no ensaio foi um grande desafio

A pesquisa abrangeu ensaios clínicos realizados em diferentes partes do globo. Foram 30 países, incluindo Estados Unidos, China, Irã e Espanha. Esses estudos eram altamente diferentes entre si, variando em tamanho, desenho e metodologia. Isso dificultou a análise dos resultados em escala mundial, segundo Otávio Cabral-Marques, professor da Faculdade de Medicina da USP e coordenador do estudo.

Um dos desafios do estudo foi realizar a curadoria dos dados de todos os ensaios clínicos mundiais com células-tronco mesenquimais para podermos ter uma visão abrangente do cenário global da eficácia do tratamento.

Para conseguir realizar análises assertivas, os pesquisadores tiveram que compilar um banco de dados especializado no CellTrials.org, com refinamentos de qualidade, como a exclusão de duplicatas e falsos positivos.

Além disso, os autores também observaram diferenças nas fases dos ensaios em vários países. A regulamentações rigorosas, principalmente na Europa, limitaram a progressão de muitos estudos. 56% dos ensaios não atingiram a fase 2, que é quando se determina a segurança, eficacia, dosagens e respostas em pessoas infectadas. A falta de grupos de controle em 31% dos ensaios também foi problema apontado pelos pesquisadores.

Conclusão

A revisão serviu não só para apontar os benéficos da terapia celular para COVID-19, como enfatizou a necessidade de melhorar o controle dos parâmetros de fabricação e entrega dos produtos para garantir a comparabilidade entre os estudos.

Segundo Cabral-Marques, os planos agora são trabalhar para tornar o preço do tratamento mais acessível para a população. Ainda de acordo com pesquisador, que conversou com o Olhar Digital, os avanços nos tratamentos para a COVID-19 são constantes:

Os avanços [para o tratamento do Covid-19] foram significativos e vão desde o uso de medicamentos antivirais que impedem a multiplicação viral até anticorpos monoclonais.

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