Falta pouco para a sonda OSIRIS-REx, da NASA, chegar à Terra trazendo uma amostra do asteroide Bennu. O pouso na espaçonave é aguardado para este domingo (24), por volta de 12h30 (pelo horário de Brasília), após uma longa missão de mais de sete anos que mudou a forma como os cientistas veem as rochas espaciais.

OSIRIS-REx foi a terceira missão na história a coletar uma amostra de um asteroide. A sonda contou com o conjunto mais abrangente de instrumentos já voados em uma missão de pesquisa de rochas espaciais. Os dois anos de varredura da espaçonave na superfície de Bennu e seu breve pouso para coleta de material mostraram aos cientistas o quão pouco eles sabem sobre esses objetos.

Até o lançamento desta sonda em 2016, duas outras missões estudaram asteroides em detalhes. A mais recente foi a japonesa Hayabusa 1, que entregou areia e grãos de poeira do asteroide Itokawa para a Terra em 2010. Antes, a NEAR-Shoemaker, da NASA, explorou o asteroide Eros no final dos anos 1990, vindo a pousar em sua superfície em 2001 (sem, contudo, retornar com amostras, pois não recuperou a energia depois de um período de hibernação, “dormindo” para sempre “nos braços” de Eros.

Foi missão a Hayabusa 1 que, pela primeira vez, confirmou o que os cientistas há muito teorizavam: que muitos asteroides não são blocos sólidos de rocha, mas conglomerados de pedras, areia e cascalho que surgiram de colisões entre corpos maiores ao longo da história do Sistema Solar. Esses conglomerados, mantidos unidos apenas pelas fracas forças gravitacionais da rocha, ficaram conhecidos como pilhas de escombros.

Representação artística da sonda OSIRIS-REx sobre o asteroide Bennu. Crédito: NASA

OSIRIS-REx, por sua vez, trouxe informações revolucionárias – com muitas outras ainda por vir depois que as amostras forem desembrulhadas e analisadas. Confira algumas das descobertas da missão:

Asteroides “pilhas de escombros” não são todos iguais

Até a chegada da sonda OSIRIS-REx a Bennu, os cientistas sabiam que a rocha de 492 metros tem uma composição química diferente da encontrada no asteroide Itokawa. Enquanto aquele é feito principalmente de material rico em sílica semelhante ao quartzo, Bennu é rico em carbono. 

No entanto, ele é um modelo raro de asteroide rico em carbono, o chamado tipo B, que se acredita conter compostos químicos das primeiras épocas do Sistema Solar.

A maneira como a superfície refletia a luz indicava que, assim como Itokawa, Bennu seria feito de conglomerados de pedregulhos intercalados com grandes crateras cheias de areia, nas quais a espaçonave poderia pousar confortavelmente.

Nasa divulgou imagem do asteroide Bennu
Imagem do asteroide Bennu captada pela sonda OSIRIS-REx. Créditos: NASA

Mas, de acordo com o site Space.com, quando a OSIRIS-REx deu sua primeira olhada de perto em Bennu, viu uma “paisagem infernal” de rochas subindo contra a fraca gravidade do pequeno asteroide em alturas inesperadas.

As tais rochas eram estranhamente porosas, o que confundiu as medições por telescópio e convenceu os astrônomos de que Bennu seria arenoso como Itokawa. O material de que essas rochas eram feitas era um pouco semelhante às argilas que podem ser encontradas na Terra, mas a fraca gravidade do asteroide permitiu que as rochas criassem formações inesperadas.

Um estudo publicado em 2022 na revista Nature Geosciece sugeriu que a natureza esponjosa dessas rochas protege o asteroide irregular dos efeitos de impactos de outros corpos. 

Como um pântano

A resposta do asteroide Bennu ao pouso da espaçonave foi surpreendente. Primeiro, a sonda afundou cerca de 50 centímetros de profundidade na superfície, como se fosse engolida por um pântano. Foi graças ao poder de seus propulsores traseiros que ela se salvou.

No entanto, o acionamento dos propulsores enviou uma nuvem de detritos e poeira para o espaço, ameaçando a espaçonave durante sua retirada. Felizmente, a OSIRIS-REx também sobreviveu a este incidente. Embora aliviados, os cientistas ficaram intrigados. Segundo as expectativas, a superfície deveria ter sido bastante resistente ao peso da espaçonave, como um monte de cascalho.

À primeira vista, a superfície do asteroide Bennu parece ser resistente, mas a sonda OSIRIS-REx descobriu que ela é na verdade bem porosa, o que poderia dificultar um desvio caso ele ameaçasse a Terra. Crédito: NASA/Divulgação

Os pesquisadores ainda buscam uma explicação. Acredita-se que a baixa densidade pode significar que há espaços vazios entre as rochas na camada superficial do asteroide. No passado, esses vãos podem ter sido preenchidos com material granulado, mas ao longo dos bilhões de anos que Bennu viajou pelo Sistema Solar, esses grãos podem ter passado através das rochas para o interior do asteroide, que seria, como resultado, muito mais denso do que a superfície.

Para ter certeza, os cientistas teriam que ser capazes de cortar o asteroide. Embora isso ainda não seja possível, eles esperam, em vez disso, obter algumas informações sobre o interior de asteroides de pilha de escombros com a missão Hera, da Agência Espacial Europeia, que estudará as consequências do impacto experimental da sonda DART, da NASA, no asteroide Dimorphos, que ocorreu em setembro de 2022.

Esses foram apenas alguns exemplos de como a missão OSIRIS-REx tem ensinado sobre os asteroides. Agora, nos resta aguardar um retorno bem sucedido à Terra no domingo e a conclusão das análises do material que a espaçonave está trazendo consigo. E ela não para: depois, ainda retorna ao espaço rumo a outro asteroide: Apophis, aguardado para passar próximo à Terra em 2029.