Contra o Coritiba, o Vasco teve sua melhor atuação na temporada. Jogou à altura da festa na arquibancada de São Januário, que matava a saudade do time. O Cruz-Maltino mostrou evolução sob o comando de Ramón Díaz e, dependendo só dele mesmo para deixar o Z4, consegue vislumbrar um horizonte menos nebuloso, apesar dos grandes desafios que ainda tem adiante. Ramón Díaz promete iniciar uma nova era na Colina com seu “Ramonismo”.
Já no início do trabalho, o técnico conseguiu dar um padrão ao time. Deixou claro o 4-1-4-1 como formação base, apesar de “namorar” com o 3-5-2. Contra o Coritiba, a formação preferida do técnico engrenou, com a melhor sequência do time em muito tempo, e com a segunda vitória seguida no Brasileiro (algo novo nesta edição).
Contra o Coxa, Ramón Díaz escalou o que tinha de melhor. No 4-1-4-1 proposto, a primeira fase de construção pode ser feita só com os zagueiros ou com o suporte de Zé Gabriel. A tentativa inicial é por achar os laterais bem abertos em bolas médias ou longas. Caso não haja essa opção e o rival adiante a marcação, Zé Cabriel se junta aos defensores em uma saída a três. Payet, Praxedes e Paulinho aparecem para criar superioridade numérica no meio, criando linhas de passe no setor.
Na medida que o time avança, vira um 4-1-4-1. Rossi é responsável por dar amplitude na direita, recebendo o apoio, para triangulações, de Pumita e Paulinho. Do outro lado, Payet atua cortando da esquerda para o meio. Piton é quem avança mais aberto, no ataque a profundidade. Praxedes aparece para o suporte. Vegetti procura sempre a área, mas atua também de costas para o gol para oferecer opção de passes, no pivô, para os companheiros. No último terço, buscando zonas de finalização, o sistema se aproxima de um 4-3-3, com Piton e Rossi espetados.
Na fase defensiva, o Cruz-Maltino vai do 4-5-1 ao 5-4-1, com a flutuação de Zé Gabriel para fechar o espaço na entrada da área ou para se juntar a última linha defensiva quando o adversário tem mais homens na área.
É interessante observar, também, que o time apresenta variações táticas ao longo da partida, sem necessariamente precisar fazer alterações. A polivalência de Paulinho, a capacidade de desempenhar diferentes funções de Praxedes, o dinamismo de Rossi e a capacidade de atuar tanto na ponta, quanto no meio, de Payet, fazem as posições se alterarem com frequência.
A presença de Vegetti é, também, um fator decisivo. Com a capacidade de finalização do argentino, que tem como ponto forte o jogo aéreo, o Vasco usa muito os lados do campo, aproveitando as boas chegadas no fundo de Rossi e Piton. Pumita também ataca bem a profundidade, mas consegue se soltar mais quando é Orellano quem está em campo.
Aí entra outro ponto: as opções no banco dão novas variações táticas a Díaz. Tanto para buscar superioridade numérica na área quando precisa do resultado, com Ferreyra podendo atuar com Vegetti no 4-4-2, quanto para modificar a dinâmica ofensiva com Orellano e Pec. O argentino, com característica de cortar para dentro, dá o fundo para Pumita. Já quando Pec entra na canhota, reveza com Piton, em movimentos sincronizados, quem avança até o fundo, e quem fica mais por dentro. Os movimentos causam dúvida nos marcadores.
Com Payet, o Vasco ganha, além de criatividade e arremates de fora da área, uma opção de excelência na bola parada. As jogadas ensaiadas na bola parada ainda precisam de evolução, mas devem ser cada vez mais evidentes.
A contratação de Rossi foi vista com olhar de dúvida quando concretizada. Mas Ramón Díaz conhecia o ponta do futebol árabe, e vem mostrando que sabe, e muito, aproveitar o que Rossi tem de melhor.
Se Vegetti soma seis gols e uma assistência em sete partidas vestindo a camisa do Vasco, Rossi tem um gol e três assistências em três partidas. Atuando aberto pela direita, buscando a profundidade, o ponta consegue desequilibrar com excelente capacidade para executar cruzamentos, aproveitando não só Vegetti, mas também a subida dos meias na área (Praxedes, contra o Flu, e Zé Gabriel, contra o Coxa, receberam assistências em cruzamentos de Rossi).
Com Ramón Díaz usando bem as peças que tem, dando um padrão tático sólido para a equipe e contando com o apoio da torcida, com uma relação totalmente diferente da que se via há algumas partidas, o clima em São Januário é outro. A arquibancada joga, e o time, pela primeira vez, corresponde.
A vitória contra o Coritiba foi a segunda seguida do time no Brasileiro, fato inédito, com nove gols marcados nesses dois jogos. São quatro vitórias, dois empates e apenas uma derrota nos últimos sete confrontos.
O gol de Rossi, segundo da vitória sobre os paranaenses, ilustra bem o momento. Foram 18 passes, com a bola rodando o campo nos pés de oito jogadores cruz-maltinos, e 38 segundos até a definição fatal do ponta, com assistência de Payet. O “Ramonismo” engrena, o Vasco sonha e esboça nova cara para uma nova era. Embora alguns fantasmas ainda rondem São Januário.
Fonte: Ogol
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