O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) revelou, em um relatório preliminar divulgado na segunda-feira (25), que uma falha no desempenho de equipamentos de controle de tensão em campos eólicos e solares foi a principal causa do apagão que afetou 25 estados brasileiros e o Distrito Federal em 15 de agosto.

A minuta do Relatório de Análise de Perturbação (RAP) apontou que os equipamentos não atuaram conforme as informações fornecidas pelas usinas, o que desencadeou um efeito cascata de desligamento de linhas de transmissão.

O apagão nacional de agosto de 2023

O que, afinal, causou a queda generalizada de energia

O apagão teve início com o desligamento da Linha de Transmissão Quixadá-Fortaleza II, no Ceará, considerado como o “evento zero”. O ONS esperava que os equipamentos nas usinas compensassem automaticamente a queda de tensão causada por esse desligamento, mas os dados oficiais sobre o funcionamento desses equipamentos não correspondiam ao seu desempenho real.

Na minuta, o ONS destacou que a diferença entre os dados fornecidos pelas usinas e o desempenho real dos equipamentos tornou “impossível a identificação prévia por parte do ONS do risco de atuação da PPS [Proteção de Perda de Sincronismo], causado pelo colapso de tensão em parte do sistema”. A PPS é uma das proteções do sistema elétrico que visa evitar que problemas se espalhem pelo sistema interligado.

Como resultado dessa falta de correspondência entre os dados e o desempenho real dos equipamentos, ocorreu um efeito cascata de desligamento de linhas de transmissão, interrompendo 34,5% da demanda de energia elétrica no país.

ONS visa prevenir reincidência

Para evitar futuros incidentes desse tipo, o ONS está propondo à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a criação de novos procedimentos para envio e validação dos dados fornecidos pelas usinas. O objetivo é assegurar a reprodução fidedigna do desempenho das usinas em campo, tanto durante a integração de novas usinas quanto ao longo de seu ciclo de vida.

Além disso, o ONS solicitou que as usinas eólicas e solares forneçam dados detalhados sobre seus parques de geração, incluindo documentação sobre equipamentos, modelos de simulação e validação dos dados. Esse processo deve ser concluído até janeiro de 2024.

A divulgação da minuta do relatório marca uma etapa importante no processo de análise. Agora, os agentes do setor têm a oportunidade de enviar contribuições antes que a versão final do documento seja entregue, o que deve ocorrer até 17 de outubro deste ano.

O diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi, ressaltou a importância do relatório, afirmando que ele será fundamental para o aprimoramento do planejamento, da operação, da regulamentação e da integração de novos projetos no sistema elétrico brasileiro.