O maior objetivo da ciência que estuda células-tronco é criar um biobanco no qual uma pessoa de qualquer origem poderia encontrar um doador de medula óssea para um transplante de células-tronco. No caso do Brasil, pesquisadores estimam que seriam necessárias pelo menos 559 linhas celulares distintas para abranger 95% das pessoas, segundo um estudo publicado na revista Stem Cell Reports.

Para quem tem pressa:

Por um lado, repositórios de linhas celulares que poderiam ser compatíveis com a maioria dos pacientes estão sendo criados com sucesso em alguns países com populações geneticamente homogêneas (Japão e Reino Unido, por exemplo). Por outro, ainda não se sabe quantos mais seriam necessários para uma solução universal, segundo o site MedicalXpress.

O grupo da pesquisa é liderado por Antonio Carlos Campos de Carvalho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Marcio Lassance Martins de Oliveira, do Instituto Nacional de Cardiologia do Brasil.

Vantagens do Brasil

Cientista analisando células-tronco em microscópio
(Imagem: TV Brasil)

Segundo a equipe, a diversidade genética do Brasil pode fornecer células-tronco pluripotentes induzidas (IPS) que poderiam atender outros países numa rede global de bancos de células IPS. Isso graças à “mistura de ancestralidades africanas, indígenas e europeias” do país.

A compatibilidade do doador reduz as chances de um paciente rejeitar um transplante de células-tronco. Em casos em que um transplante é necessário, como em doenças graves do sangue, os membros da família muitas vezes são os primeiros a oferecer para doar sua medula óssea, mas apenas 12% dos parentes acabam sendo compatíveis.

Um biobanco global poderia reduzir essas pressões, mas ainda não se sabe quantas amostras forneceriam uma diversidade adequada de linhas celulares. Para encontrar o número ideal de linhas celulares doadoras no Brasil, a equipe de pesquisa usou dados do Registro Nacional Brasileiro de Doadores de Medula Óssea (Redome).

De mais de quatro milhões de indivíduos, os pesquisadores identificaram quase duas mil linhas celulares que poderiam atuar como doadores universais potenciais. A equipe então calculou quantas dessas linhas celulares seriam compatíveis com a maioria da população brasileira.

Doação de medula óssea
(Imagem: Wikimedia Commons)

Por fim, os pesquisadores estimaram a quantidade das linhas celulares e suas respectivas coberturas. Veja abaixo:

Eles também estimaram que mais de quatro milhões de indivíduos precisariam ser testados para abranger 99% dos brasileiros.

Apenas 30 linhas celulares foram suficientes para serem compatíveis com quase 40% dos brasileiros. Usando o Banco de Dados de Frequência de Alelos Net – AFND, que compila dados genéticos de 369 estudos e mais de dez milhões de indivíduos em todo o mundo – os pesquisadores descobriram que essas mesmas 30 linhas celulares poderiam cobrir cerca de 40% dos caucasianos, 12% dos descendentes africanos, 25% dos nativos do Alasca e nativos americanos, e menos de 4% da população asiática nos EUA.

Essa discrepância entre diferentes populações mostra a importância de uma iniciativa para constituir um Banco Mundial de IPS, para o qual o Brasil poderia contribuir consideravelmente. Esperamos que a publicação dos dados atuais incentive os registros de doadores de medula óssea existentes a compartilhar dados que permitam cálculos mais precisos sobre a dimensão de um banco global de células IPS para fornecer à população mundial essa importante fonte de terapia avançada para medicina regenerativa.

Trecho do artigo publicado pela equipe de pesquisadores