Um grupo de arqueólogos encontrou na Zâmbia toras de madeira entalhadas e cônicas que podem mudar o que sabemos sobre os primeiros humanos. A descoberta sugere que a marcenaria surgiu muito antes do que pensávamos, há quase meio milhão de anos atrás. Até então, o registro mais antigo da prática era uma plataforma na beira de um lago no Reino Unido, que datava de 9 mil anos atrás.
As descobertas foram feitas em 2019 próximo a uma cachoeira conhecida como Catarata de Kalambo, com cerca de 235 metros de altura. A descrição e análise dos objetos foram publicadas em um estudo na revista Nature, no dia 20 de setembro e demonstram o quão impressionantes eles são.
Encontrar produtos de madeira tão antigos como esse é um evento raro, visto que o material geralmente se degrada relativamente rápido. Os pesquisadores ainda não sabem ao certo o que foi construído com as toras de madeira, mas acredita-se que ela tenha sido utilizada para erguer plataformas ou pontes.
Toras de madeira e outros achados arqueológicos
A região da Catarata Kalambo tem sido palco de diversas descobertas desde a década de 1950, quando o arqueólogo Desmond Clark encontrou ferramentas de pedra e pedaço de madeira, que acredita-se terem sido usados em lanças. Em 2006, com novos métodos, outra equipe de arqueólogos voltou até o local e a partir da datação da energia de decaimento do urânio em grãos de quartzo eles conseguiram determinar que as camadas mais antigas de sedimento, que continham as ferramentas, possuíam entre 300 e 500 mil anos.
Ou seja, os achados da região não foram deixados pelos humanos modernos, e sim por algum ancestral. Os pesquisadores suspeitam que possam ser do Homo heidelbergensis.
Em 2019, o grupo de pesquisadores resolveu voltar à região, mas o local dos achados não era mais o mesmo. O rio havia mudado de direção e o que sobrou foi só um pântano. No entanto, ao procurar em áreas próximas, um pedaço de madeira projetando-se da areia e outras ferramentas de pedra foram encontrados em uma praia do Rio Kalambo.
De início foi encontrado apenas uma tora de madeira entalhada em uma das pontas com cerca de um metro e meio de comprimento, mas quando os pesquisadores cavaram mais fundo perceberam que o entalhe estava apoiado em um tronco ainda maior. Provavelmente partes de uma estrutura construída acima da pantano.
Usando datação de energia de decaimento de urânio em grãos de feldspato, os pesquisadores apontaram que existem artefatos de três diferentes períodos: 487, 390 e 324 mil anos atrás, sugerindo ter os primeiros humanos podem ter vivido todo esse tempo as margens do rio ou retornado a ele ao longo de milhares de gerações.
Coloque-se na mente de alguém que viveu lá há quase 480 mil anos e que tinha um cérebro grande. Não tenha medo de sugestões complexas.
Lawrence Barham, líder da descoberta, em resposta ao The New York Times
Fonte: Olhar Digital
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