Pesquisadores desenvolveram uma molécula sintética, embasados pelas propriedades do veneno da aranha armadeira, para criar um gel que pode ser usado para tratar disfunção erétil. Atualmente, esse gel passa por testes clínicos.

Para quem tem pressa:

O produto vem de uma jornada de três décadas de pesquisa, conforme publicado no MedicalXpress. Trinta anos atrás, pesquisadores brasileiros iniciaram um estudo sobre as picadas desse aracnídeo. Isso porque sua toxina resultava em priapismo, uma ereção dolorosa e duradoura.

Com pêlos espessos e atingindo até 15 centímetros, esse aracnídeo é um dos mais venenosos do mundo. Encontrado em diversos países da América do Sul, recebeu o apelido “banana spider” devido à sua prevalência em plantações de banana, mas também conhecida como “aranha errante”.

Veneno da aranha e disfunção erétil

Aranha armadeira
(Imagem: Rodrigo Tetsuo Argenton/Wikimedia Commons)

Em Minas Gerais, Brasil, profissionais da Fundação Ezequiel Dias (Funed), situada em Belo Horizonte, coletam o veneno delicadamente da aranha com pinças, estimulando suas presas.

Posteriormente, a Funed envia o veneno para a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde ocorrem pesquisas dos componentes replicáveis para tratar a disfunção erétil, um problema que afeta dezenas de milhões de homens globalmente.

Maria Elena de Lima, pesquisadora da UFMG, esclarece que o veneno é utilizado para estudar as propriedades da molécula que causa o priapismo nas vítimas da picada.

A Biozeus, empresa de biotecnologia brasileira, adquiriu a patente da molécula e planeja comercializá-la em formato de pomada, aplicada conforme a necessidade, proporcionando uma ereção em poucos minutos.

Como funciona, importância e próximos passos

Essa molécula estimula a liberação de óxido nítrico, crucial para uma ereção, ao aumentar o fluxo sanguíneo e dilatar os vasos sanguíneos.

De Lima enfatiza que essa pesquisa pode ser especialmente benéfica para pacientes com câncer de próstata, pois muitas vezes evitam procedimentos que podem resultar em disfunção erétil.

Após a aprovação da primeira fase de testes clínicos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o medicamento avançou para a segunda etapa, rumo à aprovação para comercialização.

De Lima ressalta que a descoberta de um possível tratamento para disfunção erétil enfatiza a importância de preservar os animais, mesmo os venenosos, pois representam uma valiosa fonte de moléculas ainda desconhecidas.