Considerada a mais diversa do mundo, a Floresta Amazônica pode abrigar mais de 10 mil registros de terraplanagem pré-colombiana, construída antes da chegada dos europeus, de acordo com um estudo publicado nesta quinta-feira (5) na revista Science.
A pesquisa, conduzida por uma equipe de 230 cientistas de 156 instituições em 24 países, combina tecnologia de sensoriamento remoto avançado, dados arqueológicos e modelagem estatística.
Resumindo:
Liderada pelos pesquisadores brasileiros Vinícius Peripato, doutorando em Sensoriamento Remoto do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e Luiz Aragão, chefe da Divisão de Observação da Terra e Geoinformática da instituição, a equipe internacional identificou 24 novos sítios arqueológicos na Floresta Amazônica, revelando estruturas previamente desconhecidas nos estados brasileiros de Mato Grosso, Acre, Amapá, Amazonas e Pará.
Isso foi possível com o uso do LiDAR (sigla em inglês para Detecção de Luz e Varredura), um sistema de laser montado em uma aeronave, que permite criar modelos 3D detalhados da superfície da floresta, removendo digitalmente a vegetação para uma investigação precisa do terreno.
Apenas 10% da Floresta Amazônica puderam ser mapeados pelo estudo
Foram detectadas 961 estruturas de terraplanagem, e a equipe estimou que dezenas de espécies de árvores estão associadas a essas construções antigas, datadas de 1.500 a 500 anos atrás. Essas estruturas antecedem a chegada dos europeus e confirmam a presença de ocupações indígenas em várias regiões da Amazônia.
Surpreendentemente, o estudo diz que cerca de 90% da Floresta Amazônica provavelmente não possui terraplanagem, indicando que essas modificações na paisagem ocorreram em apenas 10% de sua área. Isso desafia a visão anterior de que a Amazônia era uma vasta floresta intocada, destacando a gestão sofisticada da terra e das plantas por sociedades pré-colombianas.
Nosso estudo sugere que a floresta amazônica pode não ser tão intocada quanto muitos acreditam, pois quando buscamos uma melhor compreensão da extensão da ocupação humana pré-colombiana ao longo dela, somos surpreendidos por um número significativo de locais ainda desconhecidos pela comunidade científica.
Vinícius Peripato, doutorando em Sensoriamento Remoto do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)
Além de avançar o conhecimento em arqueologia, ciências ambientais e computação aplicada, os autores acreditam que sua pesquisa também tem implicações políticas significativas.
Ela fornece evidências da ocupação ancestral da floresta amazônica por povos indígenas, destacando a importância da proteção de seus territórios, línguas, culturas e patrimônio. Isso é relevante em um momento em que o debate sobre a demarcação de terras indígenas no Brasil está em destaque.
Fonte: Olhar Digital
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