Para não fazer sexo com parceiros indesejáveis, a rã-comum (Rana temporaria) tem uma tática bastante curiosa: segundo um estudo publicado na quarta-feira (11) na revista Royal Society Open Science, ela, simplesmente, se finge de morta.

E esse “truque” foi descoberto por acaso pela equipe de pesquisadores liderada pela cientista Carolin Dittritch, pós-doutora do Instituto de Etologia Konrad Lorenz, de Viena, na Áustria, que analisava o processo reprodutivo desses animais.

O que você vai saber aqui:

Denominado tanatose, o ato de imobilidade tônica é uma ação adaptada de enganação que alguns bichos costumam empregar na presença de um predador. O uso desse recurso relacionado ao acasalamento só foi observado em um outro anfíbio além da rã-comum: a salamandra-de-costelas-salientes (Pleurodeles waltl).

Tanatose é um dos três comportamentos observados nas rãs para se livrar do sexo

Durante as intensas, ferozes e frenéticas sessões de acasalamento em grupo conhecidas como reprodução explosiva, os sapos machos assediam, intimidam e tentam dominar fisicamente as fêmeas, geralmente enquanto estão na água, o que pode levar à morte de um deles ou de ambos. Mas, se a pretendente já estiver “morta”, não tem por que os caras desperdiçarem energia nela… e ponto para as meninas!

Acasalamento em grupo: uma rã fêmea imprensada entre dois machos com o objetivo de fertilizar a desova. Crédito: IanRedding – Shutterstock

“Observamos três comportamentos evasivos femininos: rotação, chamadas de liberação e imobilidade tônica”, relatam os autores do estudo. “Definimos ‘rotação’ como uma fêmea que começa a girar em torno de seu próprio eixo corporal quando é surpreendida por um macho, que tenta neutralizar a rotação com suas patas traseiras”. Esse é o recurso utilizado pela maioria.

Em relação a chamadas de liberação feitas pelas fêmeas, os cientistas detectaram dois tipos: um grunhido e um guincho – o que representa um “pedido de socorro” para se livrar da importunação.

Em cerca de 33% do grupo investigado, as rãs foram observadas enrijecendo os membros para simular a morte – em atuações tão convincentes a ponto de serem desprezadas rapidamente pelos machos ávidos pelo acasalamento. Os pesquisadores perceberam que as fêmeas que mais fazem uso desta técnica são as menores (que têm menos força para o giro).

Uma rã fêmea fingindo morte durante o acasalamento. Crédito: Carolin Dittrich

Evolução adaptativa é mais comum

Eles não conseguiram identificar por que as fêmeas adaptaram esse comportamento, já que os machos não fornecem cuidados parentais ou ajudam a defender os recursos, então, ser seletiva tem pouca vantagem para a rã. 

A adaptação mais comum no reino animal para combater a cópula masculina agressiva é a evolução fisiológica. Muitas aves aquáticas, por exemplo, desenvolveram órgãos reprodutivos mais eficazes para se defenderem de machos não desejados – como “bolsos” vaginais sem saída para filtrar espermatozoides desse tipo de parceiro, além de formas elaboradas que diferem o padrão semelhante a um saca-rolhas do pênis do macho.

É bem verdade que, embora a tática da tanatose dos sapos fêmeas não seja infalível (com apenas 46% de taxa de sucesso de fuga para aquelas nas garras firmes de machos agressivos), “fazer a morta” é indiscutivelmente um pouco mais rápido de dominar do que esperar a evolução adaptativa.