O processo de mumificação é conhecido principalmente por ser uma prática realizada intencionalmente pelos antigos egípcios para homenagear seus mortos. No entanto, a mumificação pode acontecer naturalmente, de várias formas e em diferentes condições. 

Esse processo pode acontecer em locais como desertos, pântanos e no gelo, sendo preciso interromper o a decomposição de um corpo após a sua morte, parando a ação de microrganismos e enzimas. Isso pode ser alcançado em situações de:

Mumificação nos desertos

Nas condições áridas do deserto, e geralmente quentes, o processo de mumificação natural ocorre pela falta de água. Isso porque, depois da morte, a perda de água do corpo é mais rápida que a ação dos agentes decompositores, preservando-o em condições relativamente boas.

Conforme o livro Tafonomia de Restos Humanos: Análise Forense dos Mortos e do Ambiente Deposicional, a perda de água impede que as enzimas atuem — geralmente, elas funcionam em meios aquosos. No entanto, esse processo não ocorre uniformemente. Extremidades do corpo geralmente desidratam mais rápido, enquanto os órgãos internos levam algum tempo.

Múmias de gelo

Temperaturas abaixo de zero também oferecem condições ideais para o processo de mumificação natural, porque fazem a maioria das enzimas e microrganismos decompositores ficarem inativos, preservando o indivíduo após sua morte.

Espero não tirar sua fome: esse processo funciona de maneira semelhante a quando um pedaço de carne é colocado no congelador. Inclusive, diversas múmias já foram encontradas em geleiras. Com as mudanças climáticas, o derretimento das calotas polares e permafrosts, talvez mais exemplares de indivíduos mumificados no gelo sejam encontrados.

Pântano

O processo de mumificação natural em pântanos provavelmente é o mais estranho e resulta em múmias bizarras. Apesar dessas regiões serem bastante úmidas, elas também são ácidas e frias, podendo preservar muito bem um corpo.

Um fator-chave é a vegetação específica das turfeiras. Os locais são caracterizados pela presença do musgo Sphagnum, que cresce na superfície; as camadas inferiores do pântano consistem em esfagno decomposto. Quando a planta morre, ela libera um polissacarídeo chamado ‘esfagnano’, que possui propriedades quelantes, permitindo a remoção de íons metálicos de uma solução. Como resultado deste processo, alguns íons metálicos, como ferro, cobre ou zinco, deixam de estar disponíveis para as bactérias, privando-as de uma importante fonte de nutrição.

Trecho do livro Tafonomia de Restos Humanos: Análise Forense dos Mortos e do Ambiente Deposicional

Corpo mumificado encontrado em pântano na Dinamarca em 1952, conhecido como Homem Grauballe
Corpo mumificado encontrado em pântano na Dinamarca em 1952, conhecido como Homem Grauballe (Crédito: Colin via Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0 )

Nesse processo de mumificação natural, apesar de as condições impedirem que microrganismos decompositores atuem sobre o corpo, os ossos podem se desgastar um pouco devido ao meio ácido em que se encontra. O resultado é uma múmia que preserva cabelo e unhas, além de uma pele com aspecto de couro e tons marrons.

Um dos exemplos mais famosos desse processo de mumificação natural é o Homem de Tollund, encontrado em uma turfa na Dinamarca, em 1952. Quando avistado, pensava-se que o corpo pertencia a um menino da região que havia desaparecido na época, mas análises descobriram que a múmia já tinha 2.400 anos. Veja:

Múmia encontrada em pântano da Dinamarca em 1952
Múmia encontrada em pântano da Dinamarca, em 1952 (Crédito: Malene via Wikimedia Commons (CC BY-SA 3.0 DEED)