Sexta-feira, Novembro 22, 2024
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Crises econômica e institucional na Argentina transformam eleições de 2023 nas mais complexas em 40 anos

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Neste domingo, 22, a Argentina realiza o primeiro turno das eleições presidenciais, com a possibilidade de definição de um novo presidente ainda nesta etapa do pleito. Os favoritos na corrida eleitoral são o candidato de extrema-direita Javier Milei, o atual ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, e candidata de centro-direita Patricia Bullrich. Segundo especialistas em relações internacionais ouvidos pela Jovem Pan, essas serão as eleições mais complexas desde a redemocratização do país, em 1983, por conta das consequências da crise que estão sendo vivenciadas pela população, principalmente a nível econômico e político-institucional.

“Impera entre os eleitores a sensação de que: ‘seja o que for, é necessária uma mudança de rumo’ em todos os níveis da política. Em partes, essa é a versão argentina do que assistimos no Brasil em 2018, com características similares: um candidato anti-establishment, de ultradireita, carismático, que defende uma pauta de valores tradicionais e cujas ideias para a economia são neoliberais. Mas a principal diferença entre [Javier] Milei e Bolsonaro está na ênfase do argentino nas ideias libertárias que, de maneira sucinta, significam a crença absoluta na liberdade individual. Dentro dessa visão, o poder exercido pelo Estado sobre os indivíduos é entendido como injusto e limitante. Surgem daí as propostas de Milei para reduzir (e até eliminar algumas partes) do Estado argentino”, explica Flavia Loss, professora de Relações Internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).

Noelia Wayar, professora de Relações Internacionais da Universidad Siglo XXI e Diretora do Centro de Estudos Ciglos, complementa que o surgimento de um candidato outsider, o economista Javier Milei, rompe com a clássica polarização entre o peronismo e os seus opositores de centro-direita, surgindo como uma novidade no cenário político argentino. Ele complementa que após ele ter vencido as eleições primárias, Milei se tornou o candidato favorito e possui grandes chances de vitória. “Deve-se levar em conta um fator interessante dessas eleições: muitas pessoas não estão declarando o voto em Milei nas pesquisas eleitorais, mas certamente votarão nele, como já ocorreu durante mas primárias. Outro dado importante é que os eleitores de Bullrich não migrariam para Sergio Massa, o que poderia aumentar o número de votos de Milei. Existe a expectativa de aumento dos votos em branco nas eleições gerais. Milei leva vantagem nas redes sociais e há um significativo apoio dos jovens que se veem como revolucionários à sua candidatura. Os jovens desta década acreditam que a mudança necessária está representada por Milei”, indica.

As especialistas esclarecem que o candidato libertário tem propostas radicais para tirar a Argentina da atual crise e do cenário de inflação de quase 180% ao ano, como a dolarização da economia e o corte de ministérios, além da eliminação do Banco Central do país. “O cansaço da população com esse cenário de crises crônicas explica parte do poder de sedução de Milei e o seu discurso antissistema. Os eleitores de Milei se dividem em três grupos: aqueles que acreditam que ele pode ter um bom desempenho como presidente mesmo com as ideias extremas que propõe; aqueles que não acreditam que ele conseguirá fazer um bom governo, mas querem que ‘tudo exploda’ e buscam punir a classe política responsável pela decadência argentina; e aqueles eleitores que não gostam de Milei, mas não suportam a ideia de mais quatro anos de um governo ligado ao kirchnerismo”, afirma Flávia.

Para o Brasil, a eventual eleição de Sergio Massa ou mesmo de Patricia Bullrich significaria a continuidade das boas relações bilaterais e da parceria no âmbito do Mercosul. Em relação à política externa, Massa afirmou que o Mercosul será uma ferramenta de desenvolvimento com inclusão, geração de divisas, maior investimento produtivo e apoiou expressamente o grupo. “Bullrich defende a flexibilização do bloco, mas confere importância central para o tema dentro de suas propostas de política externa. A vitória de Milei traria muitas incertezas para as nossas relações abrindo, talvez, o momento mais difícil desde as ditaduras militares dos nossos países, comparável somente com a década de 1970. Isso porque Milei possui um forte viés anti-esquerda e fez diversas declarações criticando o presidente Lula, chamando-o de totalitário. Certamente as relações bilaterais estarão sob forte tensão”, pontua Nora. As especialistas ressaltam que o Brasil sempre será um parceiro estratégico da Argentina, mas as diferenças ou semelhanças de orientações políticas entre os líderes de nossos países irão influenciar os rumos da integração ou desintegração regional.

Fonte: Jovem Pan News

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