Um estudo publicado na última semana na revista Nature Communications revela que as plantas têm a capacidade de se comunicar e alertar umas às outras sobre situações de perigo. 

Pela primeira vez, pesquisadores conseguiram “visualizar a comunicação planta-planta”, abrindo caminho para fortalecer os vegetais contra ameaças como pragas e períodos de seca antes que elas ocorram.

Vamos entender:

Como os cientistas descobriram a comunicação entre as plantas

A descoberta surgiu a partir de pesquisas iniciadas na década de 1980, quando ecologistas observaram que árvores atacadas por lagartas e vermes começaram a expelir produtos químicos que tornavam suas folhas desagradáveis para os invasores. Surpreendentemente, árvores saudáveis da mesma espécie, localizadas a distâncias consideráveis e sem conexões de raízes com as danificadas, também desenvolviam essas defesas químicas.

Isso levantou a hipótese de que as árvores estavam se comunicando por meio de sinais químicos no ar, conhecidos atualmente como escutas de plantas.

Depois que uma lagarta devora uma folha, uma planta de Arabidopsis desencadeia o isolamento de cálcio, pois um sinal de ferida de longa distância se propaga por todo o corpo da planta e ativa respostas sistêmicas de defesa (mostradas aumentando aqui na fluorescência verde). (Masatsugu Toyota/Toyota et al, Ciência 2018)

Liderado pelo cientista Masatsugu Toyota, do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade de Saitama, no Japão, o novo estudo descobriu que determinados compostos químicos que as plantas feridas emitem podem se infiltrar nos tecidos internos de uma saudável e ativar defesas de dentro de suas células. 

A pesquisa envolveu a ativação desses compostos em plantas de mostarda e tomate, que posteriormente reagiram à exposição. A sinalização de cálcio desempenhou um papel crucial nesse processo, agindo como um interruptor para as respostas de defesa daqueles espécimes.

Os cientistas identificaram dois compostos específicos que aumentaram a sinalização de cálcio nas células das plantas, desencadeando respostas de proteção. Isso inclui a produção de proteínas que inibem a alimentação de insetos, tornando-os menos atraentes para pragas.

Íons de cálcio fluorescendo em uma planta de mostarda saudável que absorveu compostos químicos liberados de uma planta ferida. Crédito: Masatsugu Toyota/Universidade de Saitama

Esse novo entendimento da comunicação entre as plantas abre caminho para fortalecer os vegetais contra ameaças e estressores, como insetos ou secas, antes que ocorram. Expor plantas saudáveis a esses compostos ou à presença de plantas infestadas pode aumentar suas defesas genéticas, reduzindo a necessidade de pesticidas e tornando-as mais resistentes à seca.

Para cada tipo de ataque, uma resposta específica

No entanto, ainda existem muitas perguntas a serem respondidas. Não se sabe, por exemplo, por que apenas dois compostos específicos podem entrar nas plantas e desencadear a sinalização de cálcio. 

Além disso, as plantas podem produzir respostas específicas com base nas espécies de herbívoros que as atacam, o que levanta questões sobre a inteligência das plantas e como elas se adaptam ao ambiente.

Em resumo, este estudo revela a complexa rede de comunicação das plantas e oferece a possibilidade de protegê-las contra ameaças futuras, proporcionando um avanço significativo na agricultura e na compreensão do mundo vegetal. Novas pesquisas se fazem necessárias para complementar os resultados obtidos nesses esforços.

Com informações do jornal The Washington Post.