A teoria do Homem Caçador propõe que a caça foi um dos principais motores da evolução humana. Também aponta para a primeira forma de divisão de trabalho, na qual os homens evoluíam para caçar e prover, e as mulheres cuidavam dos filhos e dos afazeres domésticos. Isso porque os machos seriam fisicamente superiores e a gravidez e a criação dos filhos reduziriam ou eliminariam a capacidade de caça das fêmeas. Esse entendimento foi difundido por séculos, mas evidências revelam o contrário.

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Mulheres caçadoras: evidências científicas

Mulher caçadora (Imagem: Gorodenkoff/Shutterstock)

Papel do estrogênio

Enquanto as fêmeas podem realizar esforços de resistência com maior facilidade, os machos se destacam em atividades curtas e de explosão, caso do levantamento de peso. Grande parte desta diferença se deve ao hormônio estrogênio.

O receptor de estrogênio tem cerca de 1,2 bilhão a 600 milhões de anos, sendo aproximadamente duas vezes mais velho que o receptor de testosterona. Além de ajudar a regular o sistema reprodutivo, o estrogênio influencia o controle motor fino e a memória, melhora o crescimento e o desenvolvimento dos neurônios e ajuda a prevenir o endurecimento das artérias.

O estrogênio também melhora o metabolismo da gordura. Durante o exercício, ele incentiva o corpo a usar a gordura armazenada para energia antes dos carboidratos. A gordura contém mais calorias por grama do que os carboidratos, por isso queima mais lentamente, o que pode atrasar a fadiga durante a atividade de resistência.

Não só o estrogênio incentiva a queima de gordura, mas também promove um maior armazenamento de gordura dentro dos músculos, o que torna a energia dessa gordura mais prontamente disponível. A adiponectina, outro hormônio que normalmente está presente em quantidades mais altas em mulheres do que em homens, aumenta ainda mais o metabolismo da gordura, poupando carboidratos para uso futuro, e protege o músculo da quebra. Um estudo da Universidade de Stanford descobriu que as mulheres usam até 70% mais gordura para energia durante o exercício do que os homens.

Correspondentemente, as fibras musculares das fêmeas diferem das dos machos. As mulheres têm mais fibras musculares do tipo I, ou de “contração lenta”, que geram energia lentamente usando gordura. São as fibras musculares de resistência. Os homens, por sua vez, normalmente têm mais fibras do tipo II (“contração rápida”), que usam carboidratos para fornecer energia rápida e uma grande quantidade de energia, mas se cansam rapidamente.

As mulheres também tendem a ter um maior número de receptores de estrogênio em seus músculos esqueléticos em comparação com os homens. Esse arranjo torna esses músculos mais sensíveis ao estrogênio, inclusive ao seu efeito protetor após a atividade física. A capacidade do estrogênio de aumentar o metabolismo da gordura e regular a resposta do corpo ao hormônio insulina pode ajudar a prevenir a degradação muscular durante o exercício intenso.

Além disso, o estrogênio parece ter um efeito estabilizador nas membranas celulares que, de outra forma, poderiam se romper do estresse agudo provocado pelo calor e pelo exercício. As células rompidas liberam enzimas chamadas creatina quinases, que podem danificar os tecidos.

Estudos realizados pela Universidade de Rhode Island e pela Universidade de York, no Canadá descobriram que as mulheres experimentaram menos colapso muscular do que os homens após as mesmas sessões de exercício. Em outro estudo da Universidade de York, os pesquisadores identificaram que os homens suplementados com estrogênio sofreram menos degradação muscular durante o ciclismo do que aqueles que não receberam suplementos de estrogênio.

A análise dos esqueletos dos primeiros humanos também comprova a hipótese de que as mulheres não eram inferiores aos homens. Ossos de fêmeas e machos neandertais apresentam os mesmos padrões de desgaste. Essa descoberta sugere que eles estavam fazendo as mesmas coisas, desde caçar animais de caça de grande porte até processar peles para couro.

Foi a partir da chegada da agricultura, há cerca de 10 mil anos, que as coisas mudaram. O investimento intensivo em terras, crescimento populacional e consequente aglomeração de recursos levou a papéis rígidos de gênero e desigualdade econômica semelhantes ao que conhecemos hoje.