O ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, foi grande surpresa do primeiro turno das eleições presidenciais. Após ficar com a terceira posição na PASO (Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias), ele conseguiu obter a maioria dos votos nas eleições do dia 22 de outubro e levar vantagem sobre o ultraliberal, Javier Milei, que era apontado como o favorito. Pesquisas chegaram a dizer que economista poderia vencer no primeiro turno. Milei também acreditava neste cenário, visto que, há poucos dias da eleição, chegou a declarar que estava preparado para vencer no primeiro turno. Contudo, seu plano foi interrompido por Massa, um advogado de 51 anos e candidato da coalizão União pela Pátria, que obteve 36,54% dos votos, enquanto Milei ficou com 30,06%, segundo a apuração de 96,31% das urnas.
Em seu discurso após a eleição, o peronista declarou que não vai falhar com o povo argentino. “Quero convocá-los para que tenhamos a capacidade de acabar com a ideia de destruição do outro, a ideia do amigo/inimigo. Se há algo que ficou claro nesta eleição é que a fissura e começa uma nova etapa”, disse. A opção é entre “um país que abrace a todos ou um país do salve-se quem puder”, acrescentou. Massa, a principal figura do governo de centro-esquerda neste país imerso em uma crise econômica que parece não ter fim, com inflação de 140%, optou por permanecer no cargo de ministro com a ideia de que “a campanha é a gestão”. Além deste problema, também enfrenta a perda do valor da moeda e o aumento da pobreza (40%), a qual culpa a dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI) contraída pelo governo anterior, assim como a pandemia da covid-19 e a seca.
Vivendo na terceira maior economia da América Latina, historicamente os argentinos têm orgulho de sua ampla classe média. Porém, a tendência mudou na última década, e a taxa de pobreza chega a 40% da população. Com a economia estagnada, em 2018 o país assinou um compromisso com o Fundo Monetário Internacional para um programa de crédito de 44 bilhões de dólares (R$ 160,8 bilhões, na cotação da época), que exige uma redução significativa do déficit fiscal. Além da presidência, os argentinos definiram neste domingo metade das cadeiras da Câmara dos Deputados e um terço do Senado. A participação foi de 74% dos 35,8 milhões de eleitores. O segundo turno das eleições acontecem em 19 de novembro. O novo presidente assumirá o cargo em 10 de dezembro, para um mandato de quatro anos.
Ministro da Economia desde 2022, esse advogado de 51 anos está sempre aberto ao diálogo, com seu jeito calmo e sorridente. Ele possui mais de 30 anos de carreira política e baseou sua campanha em uma promessa de unidade, em contraste com a disrupção inflamada representada por Milei. Por isso, sua candidatura representa para eleitores, como o estudante Valentín Figarra, de 20 anos, uma garantia de estabilidade: “Quando o peronismo governa aqui na Argentina, a rua fica tranquila (…) Os sindicatos fazem parte deste governo, então há algo como uma certa convivência”. Massa concorre como candidato da Unión por la Patria, aliança de vários setores do peronismo, incluindo o de Cristina Kirchner, a vice-presidente. Ela e o presidente Alberto Fernández estiveram visivelmente ausentes da campanha presidencial. O atual ministro da economia fez e quebrou alianças políticas. Em 2013, criou a Frente Renovadora, um partido de centro como alternativa a Kirchner, a quem acompanhou como chefe de gabinete entre 2008 e 2009. Filho de imigrantes italianos, cresceu na periferia de Buenos Aires. É casado e tem dois filhos.
Caso vença e se torne o novo presidente da Argentina, prometeu um governo de união nacional. “Vou convocar um governo de união nacional em 10 de dezembro como presidente, convocando os melhores, independentemente de sua força política”, declarou. “A cisão está morta, e uma nova etapa começa em 10 de dezembro (data da posse) em meu governo”, disse Massa, líder da Frente Renovadora, a terceira maior força da coalizão peronista União pela Pátria. Ele reconheceu que a situação econômica da Argentina, assolada por múltiplos desequilíbrios, é “complexa” e “cheia de desafios e dificuldades a serem enfrentados”.
Ele prometeu construir “regras claras diante da incerteza”, “mais ordem, mais segurança, não improvisação”, com desenvolvimento produtivo, com federalismo e maior participação das províncias, e com empresários e trabalhadores sentados à mesma mesa. “Precisamos de um país que aumente suas exportações com valor agregado para fortalecer suas reservas, para consolidar sua moeda”, enfatizou. Massa prometeu que, se for presidente, trabalhará para melhorar a renda dos assalariados, daqueles que ainda estão na “economia popular” e dos aposentados. “Este não é um país de merda, como dizem. Este é um grande país, e nós vamos colocá-lo no lugar que ele merece”, afirmou.
*Com agênias internacionais
Fonte: Jovem Pan News
Comentários