Principal projeto da Agência Espacial Europeia (ESA) para o transporte de cargas superpesadas, o foguete Ariane 6 está em desenvolvimento desde 2014 para substituir o renomado Ariane 5. Após uma série adiamentos do lançamento, originalmente planejado para 2020, o veículo parece estar próximo de, finalmente, voar pela primeira vez.

Antes, no entanto, ele vai passar por testes importantes, como o “ensaio molhado” concluído na terça-feira (24). Durante mais de 30 horas, três equipes operaram em turnos de 10 horas cada, preparando o caminho para o tão aguardado voo inaugural.

O procedimento foi conduzido por uma equipe de especialistas da ESA, do Centro Nacional de Estudos Espaciais da França (CNES), da Arianespace e do ArianeGroup, no Centro Espacial de Kourou, na Guiana Francesa.

Este teste, denominado CTLO2.1, marcou o terceiro ensaio completo do lançamento do Ariane 6 e teve o objetivo de aumentar a robustez do sistema de lançamento e testar os procedimentos de segurança de emergência com interrupções na contagem regressiva causadas por anomalias simuladas.

O que você precisa saber:

ariane 6
Ensaio diurno para o lançamento do Ariane 6, realizado em 5 de setembro. Imagem: ESA / Divulgação

Toda a equipe executou esta contagem regressiva do CTLO2.1 quase na perfeição. Foi uma operação muito longa, mas as equipes dedicadas e os esforços empregados alcançaram um sucesso completo. Bravo a todos os envolvidos.

Jean-Michel Rizzi, gerente da base de lançamento do Ariane 6 da ESA

Resfriamento de combustíveis

O Ariane 6 utiliza oxigênio e hidrogênio líquidos como combustível. Esses líquidos de alta potência são excelentes combustíveis, mas precisam ser resfriados a temperaturas extremas, abaixo de -250°C, tornando-os perigosos de se trabalhar. Nessas temperaturas, os líquidos se expandirão instantaneamente se aquecerem, podendo provocar condensação ou até mesmo formação de gelo no foguete à medida que esfria na umidade tropical circundante.

Os tanques do Ariane 6 contêm 180 toneladas de propelente, o que explica a duração das operações de abastecimento e esvaziamento do teste molhado. Para se ter uma ideia, levou mais de sete horas só para esvaziar o hidrogênio líquido dos tanques.

Os engenheiros estão constantemente adaptando a taxa de fluxo e monitorando as temperaturas, a pressão nos tanques e tubulações, bem como os sistemas subterrâneos de tubulações que se estendem por centenas de metros para transportar o combustível até o foguete.

ariane 6
Foguete Ariane 6. Imagem: ESA / Divulgação

O estágio principal do Ariane 6 agora posicionado na plataforma de lançamento é idêntico ao modelo real, mas não está destinado a deixar a Terra. Os propulsores do foguete são inertes, já que usam propelente sólido e não requerem abastecimento.

No entanto, o restante é real — incluindo o estágio superior Vinci, que só ativaria seus motores após se separar do estágio principal no espaço. O abastecimento do estágio superior também faz parte de todos os ensaios.

“Nos preparamos para um lançamento, ou, neste caso, um ensaio, muitos dias antes”, diz Tony dos Santos, gerente de operações de sistemas terrestres do Ariane 6 da ESA em Kourou. “Os tanques terrestres onde armazenamos o hidrogênio e o oxigênio líquidos precisam ser reabastecidos, a plataforma de lançamento precisa ser preparada: é uma operação que envolve todas as mãos e requer trabalho em turnos, sendo um grande esforço coletivo envolvendo equipes da ESA, CNES, Arianegroup e Arianespace de ambos os lados do Atlântico, em Les Mureaux, na França, e Kourou.”

Segundo Santos, este ensaio noturno permitiu às equipes praticar o abastecimento do foguete com combustível em temperaturas mais baixas — “sem o brilho do sol tropical nos tanques do Ariane 6, o comportamento do combustível interno é notavelmente diferente, e precisamos considerar e acomodar a condensação e a formação de gelo”.

Ensaios para o lançamento

Uma vez que essas operações são tão delicadas, e o Ariane 6 é um sistema de lançamento completamente novo, quanto mais ensaios pudermos realizar, melhor. Precisamos explorar a robustez dos sistemas. Por meio de simulações de situações fora do normal, o CTLO 2.1 deu mais confiança às equipes operacionais nas contagens regressivas de lançamento e mais dados de teste para análise e operações suaves até o lançamento.

Pier Domenico Resta, gerente de sistemas de lançamento e engenharia do Ariane 6 da ESA

Após esse ensaio bem-sucedido, o próximo teste importante será uma ignição completa de oito minutos do motor principal do foguete Ariane 6, que normalmente impulsionaria o foguete e seus passageiros para o espaço. Para este teste, agendado para antes do final de novembro, o modelo de teste do Ariane 6 continuará firmemente fixado ao solo, caracterizando o chamado “ensaio de fogo estático”.

“Estamos trabalhando intensamente para fazer o Ariane 6 decolar e ansiamos para vê-lo subir da plataforma de lançamento em breve”, conclui Pier Domenico.