Os humanos são a força dominante que impulsiona a mudança em todos os ecossistemas. Justamente por conta da ação humana, os ecossistemas estão sendo levados além dos pontos de colapso a uma taxa mais rápida. É o que escreve o professor Derek Lynch, que leciona sobre agronomia e agroecologia na Universidade de Dalhousie (Canadá), em artigo publicado no The Conversation. No texto, ele questiona se a natureza, como a conhecemos, vai acabar.
Para quem tem pressa:
Segundo o professor, nenhum ecossistema em qualquer lugar está protegido da influência dos humanos, graças à “nossa influência avassaladora na atmosfera, hidrosfera e biosfera”. Lynch também destacou que incidentes de zoonose reversa – nos quais os humanos se tornaram o reservatório e a fonte de infecção para animais domésticos e selvagens – ocorridos na pandemia de Covid-19 “enfatizaram como o destino da humanidade e de todas as criaturas que compartilham a biosfera está interligado”.
Crises do Antropoceno
Como resultado do Antropoceno – período no qual a atividade humana tem impacto enorme no planeta – a biodiversidade global está em crise, com a extinção de espécies ocorrendo a uma taxa mil vezes maior do que a pré-humana, escreve o professor. E ele acrescenta que enfrentar essa crise “é um dos nossos maiores desafios”.
O projeto Half-Earth sustenta que apenas preservando 50% do habitat superficial global preservaremos 85% das espécies. Mas reservar terras para a natureza, como em parques e reservas, muitas vezes significou privar os povos indígenas de suas terras, em vez de respeitar e priorizar o papel dos povos indígenas na preservação da biosfera.
Derek Lynch, professor de agronomia e agroecologia na Universidade de Dalhousie (Canadá)
Por outro lado, o professor aponta que os humanos, enquanto espécie, têm reconhecido como a biodiversidade também pode ser apoiada em todos os lugares. “Paisagens urbanas podem sustentar uma maior biodiversidade, como polinizadores, e paisagens agrícolas podem contribuir, dependendo da intensidade da agricultura”, explica Lynch.
Relação com a natureza
O docente escreveu que alguns acadêmicos, ao se tornarem conscientes dos profundos efeitos das mudanças climáticas, declararam que o muro entre a história humana e a história natural agora estava quebrado.
Como propôs o historiador Dipesh Chakrabarty, esse colapso de cronologias significa que motivos-chave na história humana contemporânea, como a luta pela liberdade, agora estão inexoravelmente ligados ao destino da biosfera.
Derek Lynch, professor de agronomia e agroecologia na Universidade de Dalhousie (Canadá)
Para ele, agora os historiadores devem combinar seus estudos sobre história contemporânea com a história mais longa dos humanos enquanto uma espécie entre muitas. O professor acrescenta que os ecologistas têm reconhecido que a “diferenciação” do mundo natural é sem sentido e o estudo dos processos naturais deve incluir aqueles modificados pela humanidade.
A ideia de nós mesmos como distintos de todos os não-humanos é considerada por alguns como o impulsionador fundamental de nossa atual crise planetária. Dada essa compreensão cada vez mais profunda, é agora o momento de ir além da ‘natureza’ como um conceito externo à humanidade? Em vez disso, poderíamos promover uma compreensão mais profunda da biodiversidade e da comunidade como a longa história compartilhada e o destino futuro tanto da humanidade quanto da vida não-humana.
Derek Lynch, professor de agronomia e agroecologia na Universidade de Dalhousie (Canadá)
O professor destaca que esses paradigmas revisados estão mais próximos das visões indígenas de comunidade, nas quais o manejo da terra é conduzido em parceria com parentes em todos os ecossistemas. “Será que chegamos ao fim da natureza em seu significado tradicional como algo distinto de nós? Redefinir nossa relação com a natureza é um passo importante para aprofundar nosso compromisso em lidar com essas crises ambientais feitas pelo homem”, finaliza Lynch.
Fonte: Olhar Digital
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