Pesquisadores investigavam a utilização de soluções de sulfeto para reduzir as emissões de mercúrio das refinarias de alumina em 2018, quando acabaram descobrindo algo muito mais substancial: um tipo de íon que se acreditava participar dessa reação, na verdade, não existe e nunca existiu.

Para quem tem pressa:

Cálculos químicos comprometidos

Durante décadas, considerou-se a existência do íon sulfeto na forma aquosa. Até que, em 2018, uma equipe de cientistas da Universidade Murdoch, na Austrália, começou uma investigação sobre a eficácia de soluções de sulfeto na redução de emissões de mercúrio de refinarias que produzem alumina.

Este estudo envolveu uma química bem específica, usando vários compostos e variações de enxofre dissolvidos em soluções aquosas hiperconcentradas, nos quais foi aplicado um espectrômetro Raman, um dispositivo que dispara feixes de laser para energizar moléculas direcionadas. Usando a luz dispersa, um algoritmo de detecção e decodificação consegue descobrir quais espécies químicas específicas estão presentes. Para surpresa de todos os envolvidos, nenhum S2-(aq) foi detectado.

A espectroscopia Raman é uma técnica fotônica de alta resolução que pode proporcionar, em poucos segundos, informação química e estrutural dos materiais. Crédito: NC Noticio

Eles então descobriram que esse íon “fantasma”, que constava nos livros didáticos, pesquisas e bancos de dados como uma “peça fundamental na termodinâmica do sulfeto”, simplesmente não existe em solução aquosa.

Um problema químico simples que desafia o melhor que a instrumentação moderna pode oferecer é raro hoje em dia. Uma desventura generalizada e contínua na ciência é ainda mais rara. No entanto, ambas aconteceram durante a suposta existência da espécie química s2- (aq).

Trecho do arquivo que descreve a pesquisa, publicado na revista Chemical Communications

Tipo de íon “fantasma” deve ser “banido pela comunidade química

Na conclusão do trabalho, os autores foram categóricos em dizer que o íon sulfeto em solução aquosa precisa ser completamente banido da química, para evitar que um erro que vem sendo cometido há décadas continue perpetuando nos cálculos.

Os pesquisadores ainda acrescentam que alguns cálculos simples utilizados para prever as reações dos minerais sulfetados se dissolvendo e reagindo à água estão errados. “Nossa recomendação aos pesquisadores e professores é não aceitar a existência do íon sulfeto em solução aquosa, pois não há evidências de sua existência”.

Esperamos que nossos resultados agora tenham uma influência firme nos cálculos químicos, mas o tempo dirá 

Darren Rowland, coautor do estudo, em comunicado.