Elon Musk comprou o Twitter – antigo nome da rede social agora chamada de X – por US$ 44 bilhões (aproximadamente R$ 218 bilhões, na cotação atual) há exatamente um ano. E não faltaram enroscos para marcar esses 12 meses da sua gestão, tanto no cargo de CEO quanto fora dele.

Para quem tem pressa:

De lá para cá, o número de usuários ativos na rede social caiu mais de 30%, enquanto a empresa do bilionário – também dono da Tesla e SpaceX – perde anunciantes e receita. Por outro lado, Musk cumpriu sua promessa original: o Twitter se tornou muito menos “woke” (gíria inglesa cuja tradução é parecida com “lacrador” no Brasil atualmente).

O jornal The Washington Post publicou uma análise sobre o que mudou na rede social a partir do momento em que Musk assumiu o controle. Confira abaixo os destaques:

Twitter sob Musk

Ícone do aplicativo Twitter/X em tela inicial de um iPhone
Imagem: Pedro Spadoni/Olhar Digital

Por meio de mudanças dramáticas no produto, viradas de políticas repentinas e sua própria presença proeminente na plataforma, Musk rapidamente reconfigurou quem tem voz numa plataforma que costumava ser o centro de notícias em tempo real e debates globais. Confira abaixo os destaques da análise do jornal:

Guinada à direita

Um site que impulsionou movimentos sociais como a Primavera Árabe, Black Lives Matter e #MeToo se inclinou visivelmente para a direita sob Musk, especialmente nos Estados Unidos, dizem organizadores de todo o espectro político ouvidos pelo jornal.

Uma análise feita pelo jornal de dezenas de influenciadores conservadores e de direita e figuras da mídia descobriu que muitos viram seus números de seguidores aumentarem no dia em que Musk se tornou proprietário e continuaram a subir a uma taxa superior à sob a propriedade anterior do Twitter. Nenhuma das dezenas de populares contas liberais e de esquerda examinadas pelo veículo mostram o mesmo padrão.

Musk conduziu o Twitter em uma direção explicitamente política, segundo o Washington Post. Ele endossou publicamente o governador da Flórida, Ron DeSantis, para presidente e hospedou o lançamento de sua campanha para a indicação republicana no Twitter Spaces. Ele reinstaurou a conta de Donald Trump, que havia sido permanentemente banido por seus tweets sobre a insurreição de 6 de janeiro de 2021.

twitter
(Imagem: Koshiro K/Shutterstock)

Quando Musk contratou uma nova CEO, Linda Yaccarino, uma de suas primeiras ações foi tentar atrair o ex-apresentador da Fox News, Tucker Carlson, para lançar seu novo programa no X, segundo pessoas familiarizadas com o assunto, que falaram sob condição de anonimato. Carlson e o X assinaram um acordo de compartilhamento de receita no início deste mês, segundo o jornal.

Musk aprofundou a guinada à direita da empresa ao deslocar a mídia mainstream de uma posição de autoridade no site: tanto o software do X quanto o sistema icônico de verificação de “check” azul agora elevam os tweets de assinantes pagos – muitos deles influenciadores conservadores.

Pessoas que trabalharam com Musk e sua CEO, Linda Yaccarino, dizem que pretendem transformar o X em um fórum autônomo para conteúdo de criadores, onde as pessoas podem assistir a programas originais como o de Carlson.

Diante dessas mudanças, a plataforma se tornou uma cacofonia de desinformação e relatos confusos, de acordo com uma nova pesquisa da Universidade de Washington, que descobriu que os autodenominados agregadores de notícias e pesquisadores de código aberto superaram em muito a mídia tradicional no site durante a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas.

Motivações de Musk

Musk nem sempre foi tão partidário. Ele diz que apoiou o ex-presidente Barack Obama e seus interesses comerciais na Tesla estavam alinhados com o apoio liberal aos subsídios para energia limpa. Mas, segundo o jornal, ele se desencantou com a esquerda devido às críticas aos bilionários, ao apoio aos sindicatos, e às políticas de raça e gênero.

Como Walter Isaacson detalhou numa biografia sobre Musk publicada recentemente, a transição do filho de Musk de homem para mulher, a adesão ao marxismo e a rejeição a Musk intensificaram seu ressentimento visceral pela esquerda.

Elon Musk durante evento
(Imagem: Frederic Legrand/Shutterstock)

Em 2021, Musk criticava os lockdowns por conta da pandemia de Covid-19 e denunciava o que chamava de um “vírus mental lacrador” que ele argumentava estar ameaçando o futuro da civilização. Enquanto passava tempo no Twitter, ele via sintomas do “vírus” nas políticas da plataforma social em relação ao que considerava discurso de ódio.

Nesse mesmo período, Musk começou a acumular ações do Twitter, usando sua fortuna pessoal para se tornar o maior acionista da empresa. “Sabe, você poderia comprar o Twitter e depois excluí-lo, por favor!?” sua ex-mulher Talulah Riley lhe enviou uma mensagem em 24 de março, de acordo com mensagens de texto divulgadas como parte de um processo subsequente e publicados pela Bloomberg.

Musk respondeu: “Talvez comprá-lo e mudá-lo para apoiar adequadamente a liberdade de expressão.” Três semanas depois, ele se ofereceu para comprar a empresa por completo.

Anika Collier Navaroli, que trabalhava no setor de políticas do Twitter e prestou depoimento em 2022 perante o comitê de 6 de janeiro da Câmara, disse que Musk, de muitas maneiras, está levando o Twitter de volta à era “pré-2016”. “Parece muito com a versão de liberdade de expressão de Elon Musk para ele e seus amigos poderem postar discursos de ódio sem se meterem em encrenca”, disse ela.

Problemas comerciais

Yaccarino afirmou, numa palestra recente, que os negócios do Twitter estavam melhorando: 90 dos 100 principais anunciantes do Twitter haviam retornado ao serviço e a plataforma contava com 540 milhões de usuários ativos, mais do que o dobro dos 206 milhões que tinha em 2021.

No entanto, agora que a empresa é de propriedade privada e não precisa apresentar relatórios à Comissão de Valores Mobiliários e Câmbio dos Estados Unidos (SEC), há poucos dados confiáveis sobre o negócio.

Além disso, os dados obtidos pelo jornal, juntamente a entrevistas com pessoas familiarizadas com os negócios da empresa, contradizem a visão otimista de Yaccarino.

X Twitter
(Imagem: Camilo Concha/Shutterstock)

“A receita não voltou, os anunciantes não voltaram – e grande parte disso é por causa de Elon. A matemática não fecha”, disse uma pessoa familiarizada com as operações da empresa, que falou sob condição de anonimato.

A Similarweb, uma empresa de dados e análises digitais, afirmou que o tráfego global na web para o X caiu 14% em relação ao ano anterior, e o tráfego para o portal do Twitter para anunciantes, um site que os anunciantes visitam para comprar anúncios, caiu 16,5%.

A empresa de consultoria de marketing Ebiquity, que trabalha com 70 dos 100 maiores anunciantes nos Estados Unidos, afirmou neste mês que apenas dois de seus clientes anunciam no X – uma queda em relação aos 31 do mês anterior ao fechamento da compra por parte de Musk.