Sexta-feira, Novembro 22, 2024
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Virada ao centro e promessa de governo de união são as apostas de Milei e Massa para segundo turno na Argentina

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Após um surpreendente primeiro turno, os candidatos à presidência da Argentina começam a fazer suas movimentações para a grande decisão, marcada para o dia 19 de novembro. Tanto o atual ministro da Economia, Sergio Massa, do partido de centro-esquerda União pela Pátria, como o ultraliberal Javier Milei, do A Liberdade Avança, têm como um dos objetivos centrais nesta reta final angariar os votos de Patrícia Bullrich, que ficou na terceira colocação. Apesar da candidata ter declarado apoio a Milei, parte do seu eleitorado não deve seguir o mesmo caminho, como apontam os especialistas ouvidos pelo portal Jovem Pan. Eles devem se dividir entre o peronista e o ultraliberal. Em seu discurso após o resultado do primeiro turno das eleições, do qual saiu com cerca de 30%, votação quase idêntica à obtida nas primárias, Milei já prometeu que vai acabar com o kirchnerismo. “Dois terços dos argentinos votaram por uma mudança, uma alternativa a esse governo de delinquentes”, disse ele. “Se todos nós que queremos a mudança não trabalharmos juntos, eles vão acabar com este país”, acrescentou.

Como estratégia para angariar voto, o candidato libertário ofereceu cargos à esquerda. “Nós temos o ministério do Capital Humano e, em alguns aspectos das áreas que entram ali, as pessoas que mais sabem desse tema são de esquerda (…) Se vai trazer uma solução, o que me importa o que pensa sobre a teoria do valor? Pouco me importa”, disse o líder do ultradireitista A Liberdade Avança em uma entrevista ao canal La Nación+. Milei, que começou sua carreira política há apenas dois ano e tem um estilo provocativo, com duras críticas ao establishment e uma proposta de dolarizar a economia, sempre apresentou um discurso agressivo contra a “casta política ladra”, o que lhe rendeu aplausos entusiasmados de seus apoiadores. Contudo, para conseguir sonhando com a presidência, ele vai ter que mudar sua postura e diminuir o tom. “Milei vai ter que amenizar o tom e suavizar o discurso, porque, ao mesmo tempo que seu discurso radical atraí a população que está insatisfeita e busca por mudanças, ele também afasta uma parte do eleitorado”, diz Regiane Nitsch Bressan, professora de Relações Internacionais da Unifesp, dando destaque para os eleitores de classe média, que conhecem um pouco mais de política e economia e sabem que as propostas de Milei são quase impossíveis de serem adotadas a médio prazo. Diante deste quadro, a docente diz que Milei não terá vida fácil, porque “das primárias para o primeiro turno, ele se estabilizou e não teve uma ascensão como estávamos imaginando”.

eleição na argentina

 

Carlo Cauti, professor de relações internacionais do Ibmec-SP, aponta que a melhor estratégia para Milei neste momento é tentar falar para o centro e para os 23% dos argentinos que votaram em Patrícia Bullrich e também estão descontentes com a situação do país. “É uma população que se empobreceu porque as políticas econômicas dos últimos anos foram devastadoras. As estratégias adotadas pelo peronismo foram um desastre que aniquilou a classe média”, diz. “A Argentina foi de um dos países mais ricos do mundo à nação que menos cresce na América Latina, com um período de recessão nos últimos 70 anos”, relembra o especialista. Durante a gestão de Sergio Massa, os indicadores econômicos argentino se deterioraram a níveis recordes, com uma inflação de quase 140% ao ano e pobreza de mais de 40%. Cauti destaca que, apesar da população clamar por mudança, eles têm receio do estilo de Milei. “Agora o desafio será falar de uma forma mais presidencial para esse público”, destaca o professor.

Mesmo com a dificuldade que tem pela frente de conseguir reverter o resultado, Cauti aponta que o caminho de Milei é mais fácil do que o de Sergio Massa, porque o atual ministro da economia não tem para onde correr. “Massa não tem mais o que fazer, porque se ele virar o discurso mais para o centro e acessar conceitos normais, como a responsabilidade fiscal, limitação da situação da massa monetária, ele perde imediatamente os votos dos peronistas”, explica Cauti. “É difícil que ele consiga conversar com uma parte expressiva do eleitorado com suas propostas, porque ele está propondo continuar como está”, segue. Para o professor, é difícil que, no segundo turno, Massa faça algo diferente do que vem fazendo até agora, mas destaca que ele deve comprar votos por meio de benefícios para a população. “Massa está em uma situação mais desconfortável, porque o Milei pode moderar o discurso e manter sua base, enquanto Massa, se moderar e em responsabilidade fiscal, ele perde boa parte do eleitoral”, complementa o Cauti.

Em seu discurso depois do resultado das eleições, Massa prometeu formar um governo de união se vencer o segundo turno das eleições. “Vou convocar um governo de união nacional em 10 de dezembro como presidente, convocando os melhores, independentemente de sua força política”, declarou Massa diante de centenas de apoiadores reunidos em seu quartel-general de campanha. “Quero me dirigir a esses milhares de radicais que compartilham conosco valores democráticos, como a educação pública e a independência dos poderes. Vou fazer o maior dos esforços nos próximos 30 dias para ganhar sua confiança”, disse, após vencer o primeiro turno, no domingo.

Embora o resultado do segundo turno seja incerto, o próximo presidente da Argentina já sabe que enfrentará um Congresso fragmentado no qual não terá maioria. O peronismo (centro-esquerda) será a primeira minoria nas duas casas. O grupo perdeu 10 assentos, mas ficará a partir de dezembro como a primeira minoria da Câmara dos Deputados, com 108 das 257 cadeiras. Caso Massa vença o segundo turno, o peronismo terá que conquistar mais de 20 deputados de oposição para assegurar o quórum mínimo de 129 deputados para deliberar e debater leis. A Câmara Baixa renova a metade dos assentos a cada dois anos. A direita – Juntos pela Mudança, partido de Bullrich – se confirmou como segunda força. A bancada terá 93 deputados. Das 55 que estavam na disputa, apenas 31 conseguiram se eleger. Já a extrema-direita registrou um forte avanço para ficar em terceiro, segundo as últimas contagens oficiais. A coalizão A Liberdade Avança, de Milei, tinha apenas 3 deputados desde 2021, incluindo o presidenciável, mas, no primeio turno, ganhou outras 35, chegando a 38 cadeiras. A aliança entre as duas legendas asseguraria a Mieli uma estrita maioria na Câmara Baixa frente ao peronismo.

No Senado, de 72 assentos (três para cada uma das 23 províncias e três para a Cidade Autônoma de Buenos Aires), o peronismo ultrapassou o Juntos pela Mudança como primeira minoria, ao garantir 34 assentos (tinha 31). O quórum para deliberar é de 37 assentos. A coalização direitista de Bullrich, no entanto, perdeu nove cadeiras e ficou em segundo, com 24. A LLA de Milei também obteve um grande avanço no Senado, que depois de dois anos de sua fundação entrou pela primeira vez na Câmara Alta, com oito cadeiras, à frente de outros peronistas dissidentes (3) e partidos provinciais (3). Alcançar o quórum mínimo para deliberar no Senado dependerá de alianças entre as diferentes bancadas.

O resultado do primeiro turno foi uma grande surpresa, o que deixa o cenário ainda mais incerto para a etapa definitiva do pleito. Contudo, serviu para expor algumas situações que já se manifestavam. “O resultado mostra que a população da Argentina está muito dividida: existem aqueles que querem uma mudança radical, que votaram no Milei, e aqueles que seguem apoiando o peronismo”, diz a professora Regiane Nitsch Bressan, que prevê uma campanha muito polarizada, difícil e desafiadora. Carlo Cauti, por sua vez, diz que o país precisa de uma mudança. “A Argentina é Em estado de massa falida nesse momento; o peronismo não é uma opção para o país”, inicia. “As eleições mostraram que o peronismo e a esquerda no poder levam ao que vemos na Argentina ultimamente: um estado de sobrevivência em que metade da população vive abaixo da linha da pobreza”, finaliza.

Fonte: Jovem Pan News

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