O Ministério da Saúde determinou, nesta terça-feira (31), que adultos saudáveis e com esquema vacinal completo da Covid-19 estão livres de nova dose em 2024.

A determinação se deu porque, no entendimento da pasta, não existe comprovação científica de que tal parcela da sociedade precise de imunização no ano que vem, segundo a Folha de S.Paulo. Contudo, o órgão admite que essa recomendação pode mudar de acordo com o comportamento do vírus.

A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, afirma que o principal foco da doença no mundo é diminuir gravidade, hospitalização e óbitos.

Questionada pela Folha de S.Paulo, o Ministério da Saúde não indicou se vai oferecer a vacina para todos os públicos em 2024.

Especialistas e a decisão do Ministério

Se o Ministério da Saúde se refere às vacinas antigas, que o Brasil tem hoje, não faz sentido você reforçar o mais com o mesmo. A maioria da população tem imunidade híbrida — adquirida tanto pelas vacinas tomadas quanto pelas infecções que existiram. Só que nós não sabemos exatamente quanto tempo essa imunidade híbrida vai durar, e o vírus está sofrendo um processo de mutação continuado.

Esse vírus atual sofreu mutação em ambiente extremamente diferente das primeiras variantes, que derivavam do vírus original. As variantes atuais foram selecionadas no cenário que a gente tem. Primeiro, imunidade após a infecção; segundo, imunidade por vacina; terceiro, exposição a antiviral. O fato é que as novas variantes são muito diferentes dos vírus que tivemos.

Evaldo Stanislau de Araújo, infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, em entrevista à Folha de S.Paulo

O que a gente faz com a gripe em termos de saúde pública não é vacinar a população inteira. Essa era a estratégia na pandemia. Agora, você vacina grupos com maior risco de agravamento da doença, hospitalização e mortes.

Nenhum país do mundo, eu acredito, vai continuar com o que eu chamo de vacinação universal. Nem a OMS [Organização Mundial da Saúde] recomenda e nem o Brasil exige isso. Eu acho corretíssimo não vacinar a população toda, em termos de saúde pública.

Renato Kfouri, vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), em entrevista à Folha de S.Paulo

Kfouri fez uma observação sobre a imunização de crianças. Para ele, os pequenos não deveriam receber as doses em estratégia de campanha, mas como algo rotineiro, de acordo com sua idade definida no calendário de vacinação.

Hoje a Covid é bem mais leve porque as pessoas já receberam duas, três, quatro doses de vacina e já tiveram uma, duas, três vezes essa doença. Só essa imunidade populacional é que torna a doença, hoje, geralmente, mais leve, com menos risco de complicação do que no passado.

As crianças que estão nascendo, fazendo seis meses, um ano, nunca viram vacina e o vírus. Nasceram em época da pandemia já controlada. A doença migra, hoje, para grupos virgens do vírus.

Hoje, a incidência, se a gente olhar para casos de hospitalização por Síndrome Respiratória Aguda Grave por Covid-19, por 100 mil habitantes, ou seja, a incidência de hospitalização, as crianças empatam com os maiores de 80 anos. Então, o grupo que mais hospitaliza hoje é o menor de dois anos.

Renato Kfouri, vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), em entrevista à Folha de S.Paulo

Vacina da Covid-19 no Calendário Nacional de Vacinação

Na manhã desta terça (19), a pasta anunciou que a imunização contra a doença vai ser inserida no Calendário Nacional de Vacinação para determinados grupos prioritários.