Ideia medieval, apenas mulheres julgadas, culto pagão de fertilidade. Esses são alguns mitos relacionados à bruxaria incrustados no senso comum. Para celebrar o Halloween, também conhecido como Dia das Bruxas, o The Conversation publicou, nesta terça-feira (31), uma lista na qual o historiador Jonathan Durant, que leciona na Universidade de Gales do Sul (País de Gales), derruba cinco mitos sobre bruxaria.
Na introdução da sua lista, o especialista escreve:
Os julgamentos de bruxaria perduram como um assunto de curiosidade, entretenimento e debate. Mas, apesar desse interesse, as compreensões populares das caças às bruxas europeias estão repletas de erros e concepções equivocadas. Portanto, dado que é a temporada das bruxas, é hora de desfazer alguns mitos.
5 mitos sobre bruxaria
Há cerca de 400 anos, as caças às bruxas na Europa estavam no auge, segundo o historiador. Entre os séculos 15 e 18, estima-se que cerca de 50 mil pessoas, principalmente mulheres, foram executadas por bruxaria em toda a Europa.
Confira abaixo os cinco mitos esclarecidos por Durant em sua lista:
Bruxaria é uma ideia medieval
Não é. Bruxaria é uma ideia moderna. A igreja cristã era cética sobre a realidade da bruxaria até o século 15, segundo o professor. Antes disso, houve poucos julgamentos de bruxaria, porque os atos eram considerados uma ilusão causada pelo Diabo com a permissão de Deus, esceve Durant.
Os primeiros julgamentos de pessoas que eram consideradas adoradoras malévolas do Diabo, que causavam ativamente danos, aconteceram no século 15. O período mais intenso de caça às bruxas ocorreu por volta de 1560 até cerca de 1630.
Jonathan Durant, historiador que leciona na Universidade de Gales do Sul, no País de Gales
Julgamentos de bruxaria ocorreram em todos os lugares
A maioria dos julgamentos de bruxaria aconteceu na Europa central, ocidental ou setentrional, de acordo com o historiador. “Essas eram as áreas que foram o berço das Reformas Protestante e Católica, que viram a transformação da geografia religiosa da Europa. Além disso, o Renascimento no norte e a revolução científica transformaram a compreensão do mundo”, acrescenta Durant.
Em lugares como Islândia e País de Gales, ocorreram pouquíssimos julgamentos de bruxaria. “Parece que as crenças locais sobre magia e bruxaria, juntamente às atitudes de clérigos e juízes, podem ser as razões para isso”, pondera o especialista.
Inquisição julgou e executou a maioria das bruxas
As Inquisições Romana, Espanhola e Portuguesa, estabelecidas no século 16, foram responsáveis por lidar com questões de heresia. Elas se tornaram notórias por sua rigidez em erradicar a oposição à ortodoxia católica. No entanto, queimaram pouquíssimos suspeitos de bruxaria, segundo Durant.
“Em toda a península ibérica e italiana, as inquisições executaram menos suspeitos do que foram enforcados na Inglaterra”, diz o professor. A Inquisição Espanhola pôs um fim nos julgamentos de bruxaria que haviam se espalhado da França no início do século 17, assumindo jurisdição sobre as acusações de bruxaria.
Apenas mulheres foram julgadas por bruxaria
Neste mito, o primeiro ponto esclarecido pelo professor é que, na verdade, a maioria das pessoas julgadas eram mulheres.
É verdade que 80% dos julgados e executados por bruxaria eram mulheres. Muitos caçadores de bruxas, como os de Eichstätt, também escolheram suspeitas mulheres em vez de homens, mesmo que a evidência pudesse ser muito semelhante.
Jonathan Durant, historiador que leciona na Universidade de Gales do Sul, no País de Gales
Em alguns lugares, como na Rússia, foram os homens que formaram a maioria dos suspeitos de bruxaria. Isso aconteceu principalmente porque os russos conceituavam o gênero de maneira muito diferente das pessoas na Europa Ocidental, segundo o historiador.
Na Inglaterra, mulheres à margem da sociedade eram mais vulneráveis a acusações de bruxaria quando as coisas davam errado para seus vizinhos, como mortes inexplicáveis ou danos, acrescenta Durant.
Bruxas eram seguidoras de um culto pagão de fertilidade
Esse mito foi promovido pela egiptóloga Margaret Murray no início do século 20 e foi desmascarado pelo historiador C. L’Estrange Ewen quase assim que surgiu, segundo Durant. “Foi fundado em uma leitura parcial das evidências disponíveis sobre bruxaria”, acrescenta.
Ele persistiu porque Murray escreveu o artigo sobre bruxaria na Enciclopédia Britânica, que permaneceu em circulação por 40 anos, até 1969, e apoiou ativamente a nova religião wicca em impressos nos anos 1950, conforme explica o especialista.
“Essa nova religião foi fundada por Gerald Gardner, que reviveu o que acreditava ser uma antiga bruxaria pagã na década de 1930. No entanto, ela não tem conexão material com qualquer forma de bruxaria histórica”, escreve o historiador.
A maioria das bruxas eram mulheres cristãs comuns que se viram acusadas de bruxaria por seus vizinhos, ou denunciadas por outros suspeitos sob tortura, de acordo com Durant.
Fonte: Olhar Digital
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