Rumores de que cientistas da NASA teriam emitido alertas sobre um possível “apocalipse da internet” esperado para a próxima década têm causado um verdadeiro alvoroço nas redes sociais ao redor do mundo. 

Vamos entender:

Em uma sociedade cada vez mais dependente da internet em todos os aspectos, um colapso na rede pode gerar um verdadeiro caos. Crédito: Rawpixel.com – Shutterstock

Avalanche de postagens alarmistas na internet

Uma reportagem publicada pelo jornal britânico Mirror em junho foi o estopim para essa onda de postagens alarmistas acerca de um apagão global da internet, que seria causado pelo Sol.

No entanto, vale lembrar que esse assunto não é de hoje. Tudo começou, na verdade, em 2021, com a publicação de um estudo conduzido por uma pesquisadora da Universidade da Califórnia, EUA, chamada Sangeetha Abdu Jyothi, que previa um cenário semi apocalíptico, no qual cabos submarinos de fibra óptica estariam especialmente vulneráveis a um evento de ejeção de massa coronal (CME) de grande porte – ou seja, uma supertempestade solar. (O Olhar Digital falou sobre essa pesquisa aqui).

Segundo a cientista, se um fluxo de vento solar extremo voltado para a Terra atingisse o planeta, afetaria esses cabos internacionais de internet, cortando o fornecimento de conexão na fonte. “É como fechar o suprimento de água de uma casa quebrando o encanamento da rua”, exemplificou Sangeetha.

O medo generalizado do tal “apocalipse da internet” provocou uma avalanche de desinformação de rápida disseminação sobre avisos inexistentes da NASA e especulações sobre o que seria da humanidade um mundo offline. 

Esse pânico é compreensível afinal, praticamente todos os aspectos da vida humana estão ligados à internet, e sua ausência pode ter consequências desastrosas – sem mencionar que muita gente mal aguenta uma viagem de elevador de 30 segundos sem sinal.

Supertempestades solares: o que são

Especialistas apontam que uma interrupção generalizada da internet pode, de fato, ser provocada por uma forte tempestade solar que vier a atingir a Terra – um evento raro, mas muito real, que ainda não aconteceu na era digital. 

O Sol tem um ciclo de 11 anos de atividade solar, e está atualmente no que os astrônomos chamam de Ciclo Solar 25. Esse número se refere aos ciclos que foram acompanhados de perto pelos cientistas.

Arrebentações na superfície solar causadas por emaranhados nos campos magnéticos da estrela enviam partículas carregadas de radiação à incrível velocidade de 1,6 milhão de km/h, podendo atingir até mais nos casos de sinalizadores de maior classificação.

As erupções solares às vezes são acompanhadas por ejeções de massa coronal (CMEs), que são nuvens de plasma magnetizado que podem levar até três dias para chegar à Terra.

Dependendo da potência com que chegam por aqui, as CMEs desencadeiam tempestades geomagnéticas na atmosfera de maior e menor proporção. Essas tempestades geram belas exibições de auroras, mas também podem causar apagões de energia e até mesmo derrubar satélites da órbita.

Quando uma tempestade solar que ficou conhecida como “Evento Carrington” atingiu o planeta em 1859, as linhas telegráficas foram afetadas, operadores foram eletrocutados e auroras boreais desceram para latitudes incrivelmente baixas. 

Representação artística de uma supertempestade solar. Crédito: Artsiom P – Shutterstock

Mais de um século depois, em 1989, uma tempestade solar interrompeu a rede elétrica de Quebec, no Canadá, por longas horas. E em 2012, um outro evento do tipo passou raspando pela Terra, o que evitou graves consequências.

Sistema de alerta funcionaria como uma “apólice de seguro”

Peter Becker, pesquisador da Universidade George Mason, em Fairfax, no estado norte-americano da Virgínia, lidera um projeto em parceria com o Laboratório de Pesquisa Naval dos EUA, que tem por objetivo desenvolver um sistema capaz de alertar a população cerca de 18 horas antes que as partículas solares cheguem ao campo magnético terrestre.

A internet atingiu a maioridade durante uma época em que o Sol estava relativamente calmo. Agora, ele está entrando em uma época mais ativa. Esta é a primeira vez na história da humanidade que houve um aumento da atividade solar com tamanha dependência da internet.

Peter Becker, pesquisador de climatologia espacial, em declaração à Fox Weather.

Ele relembra o ocorrido durante o Evento de Carrington e diz que, atualmente, uma CME semelhante poderia realmente “fritar os sistemas por várias semanas a meses, e toda a infraestrutura vai precisar ser reparada”.

Conforme noticiado pelo Olhar Digital, o pico do atual ciclo solar, até então esperado para 2025, deve chegar um ano antes. Segundo Becker, há cerca de 10% de probabilidade de que, na década de 2030, “algo realmente grande aconteça e possa acabar com a internet”.

A equipe de cientistas envolvida no projeto monitora a atividade solar, analisando o brilho do astro. Ao detectar alterações que sinalizem o disparo de CMEs em direção à Terra, eles conseguem estimar a chegada das partículas carregadas ao planeta.

Esse material poderia causar uma interrupção do campo magnético entre 18 e 24 horas. Para Becker, o alerta seria essencial para que os aparelhos sejam desligados e não queimem.

“Há coisas que podem ser feitas para mitigar o problema, e o alerta é um deles”, diz o pesquisador. “A longo prazo, estamos falando sobre um fortalecimento da internet, o que é um desafio econômico, e o projeto funcionaria como uma apólice de seguro. Você pode nunca precisar disso, e custaria trilhões para realmente fortalecer o sistema”.