Como regular a inteligência artificial (IA)? Essa foi a pergunta que o pesquisador Andrew McAfee, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), se propôs a explorar para inaugurar a sessão de conversas no primeiro dia do Web Summit Lisboa, nesta terça-feira (14).
Para quem tem pressa:
Para o pesquisador, existem duas formas de abordar o tema: a “permissionless innovation” (inovação que não pede permissões, em tradução livre) e a “upstream governance”, por meio da qual a regulação (e a governança) ocorre de maneira unilateral.
MacAfee, que é mais adepto à primeira abordagem, disse que “as duas filosofias parecem incompatíveis”. Mas ressaltou que defender a inovação que não pede permissões “não significa que não haja regulação”.
IA, inovação e regulação
O pesquisador também apontou um “foco excessivo” na área da IA, lembrando que existem várias áreas onde não é necessário pedir licença para inovar.
“No instituto onde trabalho, não vão só admitir pessoas que dizem que só vão usar o que aprendem para o bem”, exemplificou, referindo-se ao desenvolvimento da vacina contra a Covid-19. “Normalmente, uma vacina demora dez anos para obter aprovação, mas a vacina contra o coronavírus foi mais rápida”, acrescentou.
Enquanto ele falava, apareceram, nas telas atrás dele, imagens de Katalin Karikó, responsável pela investigação da vacina de MRNA e fez parte da dupla que recebeu o Nobel da Medicina, no começo de outubro. A vacina só chegou com a rapidez conhecida devido à investigação da especialista, que “trabalhou durante anos à margem”, disse McAfee.
Já em relação ao “upstream governance” (governança a montante, em tradução livre), o pesquisador usou o AI Act – proposta de lei europeia sobre IA –, como exemplo. Para ele, esse caminho “vai gerar mais restrições”, o que pode limitar a inovação. “Tornem fácil a correção dos erros”, pediu McAfee, em oposição à legislação que limita o desenvolvimento.
No final, deixou uma mensagem para os colegas que estão divididos entre estas filosofias. “Pensam que temos uma escolha entre microgestão e turbulência. Se escolhermos a microgestão, vamos continuar a ter turbulência”, disse.
Abertura do evento
A abertura do evento aconteceu na noite de segunda-feira (13). Logo que subiu ao palco, Katherine Maher disse que estava no cargo havia apenas duas semanas, por causa da renúncia de Paddy Cosgrave, fundador do evento.
Recentemente, CEOs de diversas empresas e o ministro da economia da Alemanha, Robert Habeck, decidiram boicotar o evento, em resposta a publicações polêmicas de Cosgrave nas redes sociais sobre a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas.
Katherine disse ainda que o incidente não deveria fazer com que as pessoas temessem travar “conversas importantes”. “Mas é preciso enxergar e respeitar a humanidade no outro”, acrescentou. Depois, ela disse esperar que a tecnologia fosse “uma força propulsora para unir as pessoas”.
O impacto da IA no mercado de trabalho foi um dos temas principais do primeiro painel do evento, que reuniu Vasco Pedro, cofundador e CEO da Unbabel – empresa que criou uma plataforma de tradução universal usada pela Booking e Microsoft, por exemplo – e Cristina Fonseca, managing partner da Indico Capital Partners, que ajuda startups portuguesas a se tornarem globais.
Para encerrar, dois políticos subiram ao palco: o prefeito de Lisboa, Carlos Moedas, e o ministro da economia e do mar, António Costa e Silva. Moedas comemorou o sucesso da sua Fábrica de Unicórnios, programa que lançou há dois anos durante o Web Summit. Já o ministro disse que a IA será a “eletricidade do século 21”.
Fonte: Olhar Digital
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