Um artigo publicado esta semana na revistaNature Geoscience relata uma pesquisa que pode, finalmente, desvendar a origem de uma fina camada rica em hidrogênio formada entre o manto e o núcleo externo da Terra, identificada há algumas décadas e até hoje sem explicação.

Vamos entender:

“Filme plástico” em torno do núcleo da Terra

Uma equipe internacional de geocientistas, composta por pesquisadores da Escola de Exploração da Terra e do Espaço da Universidade do Estado do Arizona, EUA, e da Universidade Yonsei, na Coreia do Sul, revelou que a água da superfície da Terra pode penetrar profundamente, alterando a composição da região mais externa do núcleo de metal líquido e criando essa camada distinta.

Segundo a pesquisa ao longo de bilhões de anos, a água superficial foi transportada para as profundezas da Terra por placas tectônicas subduzidas. Ao atingir a fronteira núcleo-manto, a cerca de 2,9 mil km de profundidade, essa água desencadeia uma profunda interação química, alterando a estrutura mais externa do núcleo.

Por meio de experimentos de alta pressão, a equipe demonstrou que a água subduzida reage quimicamente com materiais nucleares, resultando em uma camada rica em hidrogênio e desprovida de silício tão fina (em comparação aos 6.970 km de diâmetro do núcleo) que é como se fosse um filme plástico.

Ilustração de cristais de sílica que saem do metal líquido do núcleo externo da Terra devido a uma reação química induzida pela água da superfície. Crédito: Universidade do Estado do Arizona

Além disso, a reação gera cristais de sílica que sobem e se integram ao manto. Acredita-se que esta camada metálica líquida modificada seja menos densa, com velocidades sísmicas reduzidas, o que se alinha a características anômalas mapeadas por sismólogos.

“Esta descoberta, juntamente com nossa observação anterior de diamantes se formando a partir da água reagindo com carbono em líquido de ferro sob extrema pressão, aponta para uma interação núcleo-manto muito mais dinâmica, sugerindo uma troca substancial de material”, explica Sang-Heon Shim, coautor do estudo.