O libertário Javier Milei chegou a presidência da Argentina com promessas radiais para melhorar a situação econômica do país, que vive uma da piores crises de sua história. O economista derrotou neste domingo, 19, o peronista de centro Sergio Massa, segundo reconheceu o próprio candidato da centro-esquerda. Durante sua campanha eleitoral, o economista de 53 anos apresentou como proposta de governo a eliminação do Banco Central, dolarização a economia, permissão do livre porte de armas e chegou a defender a venda de órgãos humanos. Sua estratégia, é uma Argentina totalmente diferente do sistema político que há anos se faz presente. Contudo, as propostas de Milei são imprevisíveis, com um modelo ultraliberal totalmente diferente de tudo o que já foi aplicado no país. Os especialistas ouvidos pelo site da Jovem Pan apontam o que se pode esperar do governo de Javier Milei, que assume a Casa Rosada no dia 10 de dezembro.
“O Milei propõe uma retirada do Estado da economia, desbaratamento dessas conexões corruptas entre Estado, partidos políticos, sindicatos, alguns empresários, e, com ele, provavelmente, haverá um ataque frontal às causas raiz da inflação e da perda da estabilidade econômica”, destaca Alberto Pfeifer, coordenador geral do DIS, grupo de análise de estratégia internacional da USP, que enfatiza que a vitória de Milei é boa para o Brasil. “O empobrecimento dos países vizinhos e a deterioração social é ruim para o Brasil. Com Milei, há uma possibilidade de uma recuperação econômica e social da Argentina”, acrescenta. Christopher Mendonça, cientista politico e professor de relações internacional do Ibmec Belo Horizonte, ressalta que a proposta de Milei é diferente e que ele “disse em várias ocasiões que, como presidente, teria como foco aproximar a Argentina dos Estados Unidos e também de Israel, que são tradicionalmente mais ligados à questão do liberalismo econômico”. O professor lembra que, durante toda a campanha, Milei falou sobre seus interesses em abandonar o Mercosul, que é um dos grandes focos da política argentina. Cortar laços com o Brasil, que é um dos principais parceiro econômicos do país, e não dar suporte ao comércio com a China. “Nesses termos, há uma mudança do ponto de vista da política comercial, que será realmente muito importante e impactante para a economia da Argentina”, fala Mendonça.
Caroline Silva Pedroso, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo, aponta que existem vários pontos nebulosos nas propostas de Milei, o que faz com que seja difícil imaginar como ele vai conseguir implementar essa agenda e como suas ações vão ser vistas pelos países vizinho. Ela lembra que o novo presidente argentino já declarou que não pretende ter relações com o Brasil pelo fato dele estar sendo governado por Lula, um líder de esquerda. “No campo das relações internacionais, eu diria que a Argentina pode sofrer grandes rupturas em termos da sua tradição diplomática”, fala. Pedroso acrescenta que isso pode trazer impactos para os argentinos, principalmente ao que diz respeito a dificuldade econômica que eles tem enfrentado. “O fato dar Argentina ter boas relações com diferentes países abre amplia o leque de possibilidades para que ela consiga superar essas dificuldades internas”. Ela cita como exemplo o fato de que o país acabou de ser aceito no BRICS — passa a fazer parte em janeiro. Contudo, Milei havia dito que, se fosse eleito, não aceitaria o convite para participar. Segundo a professora, o Brics hoje é uma iniciativa importante porque ele tem o Banco dos Brics, o Novo Banco de Desenvolvimento, que é outra alternativa de financiamento para os países, para além daquelas instituições financeiras já consolidadas no mundo, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), e a Argentina não possui uma grande relação com ela.
Com integrante do Brics os argentinos poderiam ter uma nova fonte de investimento. “Se o Milei não conseguir manter uma visão pragmática e cautelosa nas relações internacionais, a Argentina pode ter uma piora ainda mais significativa nas suas contas externas e, portanto, na sua economia e na qualidade de vida da sua população”, chama atenção a professora. Marcio Coimbra, presidente do Instituto da Democracia, lembra que Milei se elegeu pela anti-política. Contudo, ressalta que ele vai ter que governar pela política, e, para isso, vai ter que ir além do partido dele. “Por mais que ele tenha crescido nessas eleições, ele ainda não é um player dominante da política Argentina, por isso, vai ter que jogar, necessariamente, com a base que apoio Patrícia Bullrich no primeiro turno”, diz o especialista, descantando que essas pessoas a quem ele vai ter que buscar apoio são os “fiadores dessa responsabilidade desse novo governo da Argentina de Milei, e se ele perder o apoio, perde a capacidade de governar”. Coimbra ressalta a importância de Milei se mover ao centro para conseguir um grande plano nacional de entendimento para estabilizar a economia. “Se qualquer coisa que for posturada de forma radical, a chance de dar certo na Argentina é muito pequena”, fala. Após o segundo turno, o libertário tinha prometido governo de união. “Nós temos o ministério do Capital Humano e, em alguns aspectos das áreas que entram ali, as pessoas que mais sabem desse tema são de esquerda (…) Se vai trazer uma solução, o que me importa, o que pensa sobre a teoria do valor? Pouco me importa”, disse o líder do ultradireitista A Liberdade Avança em uma entrevista ao canal La Nación+.
Fonte: Jovem Pan News
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