Segunda-feira, Novembro 25, 2024
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Tensão entre Venezuela e Guiana coloca em xeque alinhamento do governo brasileiro com Maduro

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O aumento da tensão entre a Venezuela e a Guiana coloca em questão o alinhamento do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, com o ditador venezuelano, Nicolás Maduro.

A crescente tensão entre a Venezuela e a Guiana, que se intensificou nos últimos dias, é de interesse para o Brasil e questiona o alinhamento do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, com o ditador venezuelano, Nicolás Maduro. Como resultado das recentes ações, o governo brasileiro reforçou a presença militar na fronteira, temendo ser arrastado para o conflito. Todo cuidado é necessário, pois a maneira como o Brasil atua pode fortalecer ou acabar com sua liderança na América do Sul. Embora ainda não tenha tomado uma posição enfática sobre a situação, Lula se ofereceu para ser um possível mediador, conforme relatado pelo portal da Jovem Pan. “Não queremos guerra aqui na América do Sul. Não precisamos de guerra, não precisamos de conflito”, disse o líder brasileiro durante uma reunião do Mercosul nesta semana. Ele também pediu que outros países tomassem uma posição e enfatizou que a região não pode ignorar a situação.

Douglerson Santos, professor e mestre em direito internacional, destaca que essa tensão entre os países vizinhos do Brasil vai testar a aliança entre Lula e Maduro. “Qualquer apoio que o governo brasileiro der, ou até mesmo não der, especialmente em caso de intervenção militar, vai contrariar a posição – não apenas do atual governo, mas do Brasil – de buscar soluções pacíficas para controvérsias”, aponta o especialista. Até agora, há um silêncio ensurdecedor do governo brasileiro, que, na opinião de Santos, já deveria ter tomado uma posição mais enfática. Se não fizer isso, outro país poderá assumir essa função e realmente tirar do Brasil o protagonismo na América do Sul. O fato de o país ter deslocado mais forças militares para a fronteira mostra a necessidade de proteger a região, mesmo que a chance de uma guerra, neste momento, seja remota.

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Líderes do Mercosul pedem que Venezuela e Guiana evitem ações unilaterais que causem tensão e defendem paz na América Latina│PAULO CARNEIRO/ATO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Rafael Villa, professor titular do Departamento de Ciência Pública da USP, considera a atual tensão entre a Venezuela e a Guiana uma excelente oportunidade para o Brasil “retomar seu papel protetor”. “O Brasil tem a chance de desenvolver uma diplomacia ativa na prevenção de conflitos. Este é um dos melhores momentos, já que instituições e gestão de conflitos, como a Unasul (União de Nações Sul-Americanas), estão enfraquecidas”, destaca. No passado recente, o governo brasileiro já demonstrou essa eficácia, inclusive durante o mandato do presidente Lula, quando ele ajudou a aliviar uma crise entre o Equador e a Colômbia em 2008, após uma ação militar do exército colombiano contra as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) no território equatoriano. “Na ausência de instituições regionais, o governo de Lula pode desempenhar um papel muito importante”, opina o venezuelano, que vive no Brasil há anos.

Para Santos, o governo brasileiro precisa ter uma posição clara, por duas razões: técnica e política. “Será testado agora se esse alinhamento é produtivo ou se Maduro não respeita esse alinhamento e as questões políticas com o Brasil”, aponta o professor. Além disso, como a Essequibo, área reivindicada pela Venezuela, é uma região de floresta densa – para um ataque terrestre, seria necessário passar pelo território brasileiro – o Brasil é uma peça-chave. Isso provavelmente fará com que o confronto perca força, pois, mesmo que Lula e Maduro sejam aliados, o alinhamento ideológico está limitado a qualquer questão de agressão internacional.

Os venezuelanos poderiam até invadir a Guiana por terra sem ter que passar pelo Brasil. No entanto, isso não é vantajoso agora e reforça a necessidade de o Brasil se concentrar nesse conflito. Isso vai além de o país retomar o papel de protagonista que já teve, mas também está associado ao fato de que este é um problema com dois vizinhos que podem afetá-lo diretamente. “O Brasil precisa se concentrar mais no que acontece em seus países vizinhos, mesmo com possibilidades remotas de guerra, do que gastar tanta energia em acordos de paz em outras regiões do mundo”, aponta Villa. Ele destaca que as iniciativas do Brasil em relação aos conflitos entre Rússia e Ucrânia e Israel e Hamas são importantes. “No entanto, ele [Lula] deveria prestar mais atenção em seu entorno regional, nos conflitos de seus vizinhos que o afetam mais diretamente”.

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