Impulsionados por um contrato inédito de venda de direitos de transmissão, por patrocínios recordes e com o aval das SAF’s, os clubes brasileiros nunca foram tão agressivos no mercado. Resta saber se é o momento de celebrar uma nova era no nosso futebol, mais competitivo no mercado, ou se voltaremos a conviver com o aumento das dívidas, vendendo o almoço para pagar a janta.
O primeiro grande fator para deixar os clubes com “cofres cheios” é o acordo feito, em outubro, pelos grupos do Forte Futebol e Grupo União para vender 20% das receitas de direitos de transmissão por 50 anos para um grupo de investidores liderado pela Life Capital Partners.
Os direitos vendidos são do período entre 2025 e 2075, por um valor pouco superior a R$ 2,5 bilhões, a ser divididos entre os clubes. Quase metade do valor foi pago já agora em janeiro. O resto será diluído nos próximos três anos.
Além da receita com direitos de transmissão, muitos dos clubes da Série A conseguiram, para 2024, valores recordes em patrocínios. O Corinthians, por exemplo, anunciou o maior patrocínio da história do futebol brasileiro, recebendo R$ 370 milhões em contrato de três anos. R$ 20 milhões foram antecipados já em janeiro.
O Flamengo viu aprovado, em seu Conselho Deliberativo, no final de dezembro, um novo patrocínio master na casa de R$ 170 milhões por dois anos de contrato. O Vasco anunciou semana passada o maior patrocínio da história do time, que poderá render R$ 55 milhões ao ano. Por sua vez, o São Paulo fechou com a Mondelez os naming rights do Morumbi, que virou “Morumbis”, para receber entre R$ 25 e R$ 30 milhões anuais.
O fator “SAF” também ajuda a saúde financeira dos clubes. O investimento em contratações, pelo novo modelo, aumentou consideravelmente. A SAF do Bahia, por exemplo, prometeu investir R$ 320 milhões em contratações para a nova temporada. E vem cumprindo…
Na atual janela de transferências, os clubes brasileiros já superaram os R$ 600 milhões em investimento em reforços. Quem mais gastou até o momento foi o Corinthians, que vem mostrando transparência na divulgação dos negócios. Impulsionado pelas já mencionadas receitas novas, o Timão gastou mais de R$ 100 milhões. Só em Rodrigo Garro e Félix Torres, o Timão superou os R$ 60 milhões.
Ainda em São Paulo, o Palmeiras investiu quase R$ 80 milhões nas contratações de Aníbal Moreno, Bruno Rodrigues e Caio Paulista. O São Paulo superou os R$ 50 milhões, com destaque para as chegadas de Ferreirinha e Bobadilla.
No Rio de Janeiro, o Flamengo colocou Nicolás De La Cruz no top 5 das contratações mais caras da história do futebol brasileiro, comprando o meia do River Plate por cerca de R$ 80 milhões. O rival, Vasco, comprou João Victor do Benfica por R$ 32 milhões. O Cruz-Maltino deve pagar ainda R$ 26 milhões ao Nantes por Adson, ainda sem confirmação oficial, e ofereceu R$ 21 milhões ao Newells por Sforza, embora a negociação pareça ter colapsado. Os investimentos no Botafogo beiram os R$ 50 milhões, sendo o maior deles Savarino, que veio da MLS por R$ 13 milhões.
O Internacional foi outro clube que se movimentou bastante no mercado. Só na nova dupla de ataque, com Santiago Santos Borré e Lucas Alario, foram investidos mais de R$ 45 milhões. O Atlético Mineiro foi cirúrgico e investiu R$ 27 milhões para repatriar Gustavo Scarpa.
No Nordeste, o mercado foi de recordes. O Bahia conseguiu as duas maiores transferências da história do futebol nordestino, trazendo Caio Alexandre e Jean Lucas por R$ 24,3 e R$ 24,2 milhões, respectivamente. O Fortaleza trouxe de volta Moisés por R$ 18 milhões, a terceira maior contratação da história da região.
O mercado brasileiro passou a competir de forma mais agressiva com outras ligas, como por exemplo a MLS, que nessa janela perdeu alguns jogadores para equipes brasileiras. Os clubes nacionais já conseguem oferecer valores que superam os oferecidos por equipes de ligas alternativas da Europa, ou mesmo de times menores de ligas fortes. O Inter mostrou isso contratando Alario e Borré.
Os investimentos milionários podem significar uma nova era no futebol brasileiro? Depende da forma como olhamos o copo: meio cheio ou meio vazio? A antecipação de receitas futuras, como a venda de 20% dos direitos de transmissão, pode significar a repetição de um velho padrão dos clubes brasileiros: vender o almoço para comprar a janta. Uma janta farta, é verdade. Mas a que custo…
Entre 2011 e 2013, o futebol brasileiro esboçou um movimento parecido. Os clubes indicavam certa bonança, investindo em nomes como Seedorf, Ronaldinho Gaúcho, segurando Neymar… O resultado a curto prazo foi preocupante…
Ao mesmo tempo que conseguiram uma receita recorde em 2011, superando os R$ 2,1 bilhões, os principais clubes do país viram suas dívidas aumentarem em 19%. No longo prazo, gigantes se afundaram em dívidas e os anos posteriores foram de rebaixamentos inéditos na Série A.
Mais de uma década depois, um novo boom do futebol brasileiro se apresenta. Uma nova chance para um futuro diferente. Resta saber como nossos clubes aproveitarão essa chance, ou repetirão os erros do passado.
Fonte: Ogol
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