Richarlison renasceu em Londres sob o comando de Ange Postecoglou. Nesta quarta-feira, o atacante alcançou a marca de sete gols nos últimos sete jogos na Premier League, deixando para trás uma má fase que não se resumia apenas ao desempenho dentro de campo.
Para entender a evolução de Richarlison, precisamos voltar um pouco no tempo. No dia 15 de setembro do ano passado, Ange Postecoglou concedeu uma entrevista coletiva que elucidou muita coisa. Não apenas como pensa o técnico, que aceitou o desafio de comandar o Tottenham, mas também como seriam tratados seus jogadores. Alertando, também, para como o mundo trata os futebolistas. E não só eles. Abrindo os olhos para o cuidado com a saúde mental.
“Eu perdi meu pai três dias atrás e ele deveria estar aqui, acompanhando a minha trajetória, então eu tive que lidar com isso. Isso é minha experiência pessoal, mas todos nessa sala, nesse momento, podem ter uma parte na vida na qual está tudo bem, mas sempre haverá alguma coisa. Às vezes, eles (jogadores) caem na armadilha de pensar que são imunes, mas não são. Só porque você tem dinheiro ou é realmente bom em algo… A vida ainda achará uma forma de manter o equilíbrio, então haverá coisas estressantes e perturbadoras, e você precisa lidar com isso”, disse o técnico na ocasião.
Richarlison havia dito, dias antes, após defender a seleção brasileira, que iria procurar ajuda psicológica. No dia seguinte da fala de Postecoglou, Richarlison entrou nos últimos minutos do jogo contra o Sheffield. Marcou um gol e deu uma assistência, e o Tottenham venceu de virada, por 2 a 1. Foi o início de um processo.
Sim, um processo. Trabalhar com a saúde mental requer tempo. Richarlison encontrou, no Tottenham, alguém que o entendesse. Além de apoio psicológico de profissionais, tinha um treinador aberto ao diálogo, compreensivo e ciente de que a vida pessoal pode, como não, afetar a performance em campo. Ciente de que o que acontece fora do campo pode refletir decisivamente no jogo. O mental, no futebol, é um dos componentes mais importantes, se não o mais importante e decisivo.
O processo de Richarlison foi longo. O atacante passou dez partidas em branco depois do gol contra o Sheffield. Voltou a ser questionado, criticado. Mas se manteve firme. Se em campo não conseguia entregar os gols esperados, fora dele se fortalecia.
A virada de chave em campo ocorreu em dezembro, dia 10. Contra o Newcastle. Grande atuação dos Spurs, vitória por 4 a 2 e dois gols de Richarlison. Foi o início de uma sequência de sete gols em sete jogos de Premier League.
O brasileiro teve como vitimas, além dos Magpies, Nottingham Forest, Everton, Bournemouth, Manchester United e, agora, o Brentford. O Brighton foi o único clube a passar imune.
Os números são ainda mais incríveis se comparados ao retrospecto de Richarlison na Premier League pelo Tottenham antes de Postecoglou. Com o técnico, são oito gols em 19 jogos na liga, média de um gol a cada 137 minutos em campo. Na temporada anterior, com Antonio Conte e Ryan Mason, o centroavante balançou apenas uma vez em 27 partidas, somando 1006 minutos em campo no período. Se fez sete gols nos últimos sete jogos, Richarlison havia anotado apenas dois tentos nos 39 jogos anteriores de Premier League.
Bem física e mentalmente, com a confiança recuperada, Richarlison voltou a ser um atacante de Premier League. Postecoglou e o Tottenham agradecem. A seleção brasileira, também.
Fonte: Ogol
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