Os bombardeios de retaliação dos Estados Unidos realizados na madrugada deste sábado, 3, contra posições de milícias pró-iranianas na Síria e no Iraque mataram cerca de 40 pessoas nos dois países, de acordo com o Observatório Sírio para Direitos Humanos e o governo iraquiano. Ao todo foram atacados 85 alvos e instalações em sete pontos diferentes, em uma operação que, segundo a Casa Branca durou 30 minutos. Pelo menos 23 pessoas foram mortas no bombardeio dos EUA no leste da Síria, incluindo nove “combatentes sírios”, de acordo com o Observatório, uma ONG sediada no Reino Unido com uma extensa rede de colaboradores. Até o momento, o número oficial de mortos na Síria não foi divulgado, embora o Ministério da Defesa do país tenha dito que os bombardeios resultaram na “morte de vários civis e soldados” e em “danos significativos à propriedade pública e privada”. O governo do Iraque denunciou que pelo menos 16 pessoas, incluindo civis, morreram no oeste do país como resultado desses primeiros ataques aéreos dos EUA em retaliação à morte de três de seus militares na Jordânia, atribuída às milícias pró-iranianas no Iraque.
Na Síria, os ataques aéreos se concentraram na área de Al Mayadin, considerada a “capital iraniana” no país, assim como em Deir ez-Zor e no distrito de Al Bukamal, que faz fronteira com o Iraque e é uma importante rota de abastecimento para as milícias pró-iranianas aliadas ao governo sírio. Ao todo, o bombardeio se estendeu por uma faixa de aproximadamente 130 quilômetros e destruiu 27 alvos “importantes” pertencentes a grupos apoiados por Teerã, de acordo com o Observatório. No Iraque, o bombardeio teve como alvos posições do grupo de milícias pró-governamental Multidão Popular, que faz parte das forças armadas iraquianas, nas áreas de al-Qaim e Akashat, perto da fronteira com a Síria.
Na sexta-feira, 2, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, havia informado que esse é só o começo da resposta ao ataque realizado no último domingo contra tropas do país na Jordânia, e alertou que vai continuar enquanto o governo americano considerar necessário. Desde meados de outubro, mais de 165 ataques de drones e foguetes tiveram como alvo as forças americanas destacadas com a coalizão antijihadista no Iraque e na Síria, mas nenhum militar americano havia morrido até o ataque de 28 de Janeiro na Jordânia. O ataque às forças dos EUA foi reivindicado pela amálgama de milícias pró-iranianas da Resistência Islâmica no Iraque, algumas das quais também fazem parte da Multidão Popular, enquanto Washington acusa o Irã de estar por trás da ação. “Nossa resposta começou hoje. Continuará no momento e nos lugares que escolhermos”, disse Biden em um comunicado divulgado pela Casa Branca pouco depois do anúncio de que alvos da Guarda Revolucionária do Irã e grupos relacionados na Síria e no Iraque foram bombardeados. Os EUA, segundo a mensagem, “não buscam conflitos no Oriente Médio ou em qualquer outro lugar do mundo”. “Mas que todos aqueles que possam tentar nos prejudicar saibam disso: se você ferir um americano, nós responderemos”, ameaçou.
O ataque dos Estados Unidos gerou resposta imediatas de parte da comunidade internacional. A Rússia condenou “firmemente” os bombardeios e defendeu a realização de uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU. “Condenamos firmemente o novo e flagrante ato de agressão britânico-americana contra Estados soberanos”, declarou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova, em comunicado, onde também fala que o ataque injustificado e, além de matar civis, confirma que os EUA estão tentando criar “focos de tensão” da Finlândia ao Canal de Suez e da Líbia ao Afeganistão. Zakharova acrescentou que Moscou está tentando fazer com que o Conselho de Segurança convoque uma reunião urgente para discutir a situação no Oriente Médio após os ataques ocidentais. “Está claro que os ataques aéreos foram projetados especificamente para inflamar ainda mais o conflito. Ao atacar recentemente, quase sem trégua, instalações de grupos supostamente pró-iranianos no Iraque e na Síria, os EUA estão deliberadamente tentando mergulhar os maiores países da região em um conflito”, opinou.
O Irã também se manifestou sobre o ocorrido. Ele condenou “energicamente” os bombardeios, chamando-os de “erro estratégico”, e advertiu que poderiam “agravar as tensões e a instabilidade na região”. O movimento palestino Hamas afirmou, por sua vez, que os ataques americanos apenas acrescentam “lenha na fogueira” e que Washington será “responsável pelas consequências”.
Os ataques americanos também foram criticados pelas autoridades dos países alvejado. As represálias americanas contribuem pra “avivar o conflito no Oriente Médio de uma forma extremamente perigosa”, reagiu o Ministério sírio das Relações Exteriores, em uma nota. Bagdá denunciou uma “violação da soberania iraquiana” e anunciou que convocará o encarregado de negócios americano para notificar-lhe seu protesto. Todos devemos “evitar uma escalada” no Oriente Médio e fazer o máximo para que a situação ali não se torne “explosiva”, declarou o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.
Cerca de 900 soldados americanos estão destacados na Síria, e outros 2.500, no vizinho Iraque, como parte de uma coalizão internacional antijihadista criada para combater o grupo Estado Islâmico (EI), que, há quase dez anos, chegou a controlar grandes áreas de ambos os países. A derrota do grupo EI foi anunciada em 2019 na Síria e, em 2017, no Iraque, mas a coalizão se manteve para combater as células jihadistas que continuam lançando ataques. A Casa Branca disse ter avisado Bagdá sobre os ataques com antecedência, o que o governo iraquiano negou neste sábado. O Exército americano entrou em ação pouco depois da chegada dos restos mortais dos três soldados falecidos na Jordânia, um ato solene que contou com a presença do presidente Biden.
*Com informações da AFP e EFE
Fonte: Jovem Pan News
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