Os técnicos estrangeiros são uma realidade no futebol brasileiro, mas nem todos têm a sequência que gostariam no país. De longe, Pepa viu a permanência do Cruzeiro na primeira divisão e, apesar disso, não escondeu a satisfação de ter trabalhado no Brasil. E também a mágoa por ter sido demitido de forma abrupta da Raposa. Em entrevista ao site parceiro zerozero, com participação de oGol, o treinador português falou sobre sua passagem no Cruzeiro.
“Fiquei magoado, fiquei frustrado. Acima de tudo porque quando me venderam o projeto, eu me senti tão esmiuçado. Entrevistas atrás de entrevistas. Pensei: ‘Se eu for o escolhido, vou ter respaldo’. Talvez ficar ali dois, três anos. Não é à toa que meus segundos anos são sempre melhores que os primeiros. É deixar a casa preparada, melhor do que quando cheguei. Por isso a mágoa. Nós passamos por uma fase de resultados não tão bons, mas não de apresentações ruins. No primeiro resultado desastroso, o 3 a 0 (contra o Grêmio), não houve a força ou a coragem numa altura que era para se manter o trabalho”, lamentou Pepa.
“Vamos ser muito claros. Eu sou diretor de futebol ou presidente de clube. Eu contrato um treinador. É esse o treinador que eu quero. A equipe está dentro dos objetivos? Há uma boa relação com a estrutura, diretores e jogadores? O treinador está motivado e com força para aguentar a pressão? Havia isso tudo. A minha resposta para isso é a pressão louca, externa, que existe no Brasil, que muitos não aguentam. O que aconteceu com o Valladolid, que caiu de divisão… (pode ter influenciado). O Ronaldo até admitiu que as trocas de treinadores não foram benéficas. Mas são águas passadas. Gosto de ver o lado positivo. Aprendi e evoluí mais uma vez”, declarou Pepa.
Sobre seu trabalho à frente do Cruzeiro, Pepa disse enxergar de forma clara que o clube iria além de apenas lutar contra o rebaixamento. A defesa, melhor do campeonato ao lado do Atlético Mineiro, foi motivo de orgulho para o treinador português.
“Eu internamente até queria a Libertadores. Mas é ter noção que é o passo a passo. Um dos temas que abordei na despedida foi justamente esse. Que já não seria comigo, mas que eles iriam conseguir a classificação para um torneio internacional. Nunca tive dúvida nenhuma disso, não é hipocrisia nem nada. e convicção mesmo. Era a melhor defesa do campeonato. Uma equipe com a melhor defesa diz muito sobre ela. Isso e muitas coisas me encheram de orgulho”, celebrou Pepa.
Sobre o futebol brasileiro e o país, o português de 43 anos, que está atualmente no Al Ahli, do Catar, foi só elogios. Até mesmo a imprensa, muitas vezes tida como agressiva, não era motivo de preocupação para Pepa. O técnico ainda exaltou sua vivência no Brasil.
“As pessoas ficam surpresas com a minha resposta. Eu digo: ‘Foi top’. Eu gostei muito. Mas e a pressão e imprensa que é muito agressiva? Na boa, eles estão fazendo o trabalho deles. Nós também temos boca pra nos defendermos. Pressão de quê? Ainda bem que eu fui ao Brasil, que fui a um Cruzeiro, que passei por aquilo. Campeonato fantástico, condições fantásticas, jogadores fantásticos. É surreal (o apoio da torcida). Era praticamente impossível sair à rua sem ser abordado. Sempre me senti acarinhado, apoiado. Nunca sentiu uma coisa dessas”, relembrou Pepa.
Perguntado sobre se seria um Pepa “diferente” em caso de retorno ao Brasil, o luso se utilizou de uma analogia com o cargo e declarou que chegaria muito melhor ao país. Segundo Pepa, a aprendizagem obtida em curto espaço de tempo faria a diferença.
“Diferente só se fosse para melhor. Já vivenciei o Brasil. O que é o jogador brasileiro, um grupo de trabalho. Só tinha a melhorar. Só vejo coisas positivas depois desse primeiro “choque”. Costumo dizer que o burro é o animal que nasce burro e morre burro. Eu felizmente não sou burro. Alguns erros que foram cometidos são momentos de aprendizagem. Não tenho dúvidas que se voltasse ao Brasil iria melhor. É o conhecimento mais profundo das equipes, dos jogadores e da cultura. O Brasil também tem o seu contexto”, finalizou Pepa.
Fonte: Ogol
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